Ou, no caso, o tal do Charlie, saído diretamente do filme que estreia nesta quinta-feira no país e que você provavelmente viu seu nome sendo repetido nas internets…
#CharlieCharlie. Você deve se lembrar deste diacho desta hashtag, que bombou nas redes sociais este ano, fazendo referência a um espírito evocado na brincadeira do lápis. Foi a base de uma campanha de marketing que dominou as interwebs para promover o filme A Forca, uma das estreias da semana no Brasil.
Sim, sim, sinto desapontá-los, mas o “Desafio do Charlie” era apenas uma campanha de marketing de lançamento de um filme, que foi parar até no programa da Sônia Abrão, o que nunca é um bom sinal. Uma mistura de brincadeira do copo — só que utilizando um par de lápis/canetas — com o Candyman ou Bloody Mary (não o drinque), na qual ao se pronunciar três vezes o seu nome na frente do espelho, o encosto aparecerá na sua frente.
Como diz a tagline do pôster de A Forca, “toda escola tem seus espíritos do mal”. No Brasil, era a Loira do Banheiro, que foi assassinada em TODAS as escolas do ensino fundamental ou médio do País (e se você chutasse a porta do banheiro, puxasse a descarga e falasse palavrões, todos eles três vezes, ela ia aparecer para puxar seu pé, de algodão no nariz e tudo). Na Beatrice High School, o espírito é o de Charlie Grimille, um aluno morto acidentalmente enforcado na apresentação de uma peça no começo dos anos 90.
Não sabemos se foi a Sonia Abrão ou se falaram “Charlie Charlie” demais, mas A Forca é facilmente um dos filmes mais amaldiçoados do ano. Parece que todos os esforços criativos ficaram na sala de reunião dos marqueteiros e esqueceram-se do básico: fazer um bom filme
Bom filme e também assustador por MÉRITOS, não pela quantidade obscena de jump scare. Todo e qualquer momento de silêncio ou de escuridão é aproveitado para, do nada, surgir um som ensurdecedor no último volume tentando assustar os mais incautos, artifício que estampa a falta de capacidade dos realizadores em aterrorizar com uma atmosfera bem construída de horror psicológico e imagens de impacto. Deveriam distribuir um protetor auricular na entrada do cinema, assim como fazem com os óculos nas sessões em 3D.
Como se não bastasse, e nem quero entrar no mérito de todas as situações clichê e furos no roteiro que parecem crateras lunares, eis que A Forca é mais um representante do subgênero found footage, que por sua vez está completamente saturado. Tá tudo lá: correria desenfreada, gritos histéricos, câmera tremida, visão noturna, closes de pés em fuga e mensagem de alerta na introdução sobre aquelas gravações encontradas pela polícia serem evidências, todas gravadas com celulares de baterias de altíssima duração (esse sim o único momento de suspensão de descrença do filme).
Os jovens atores dão um show à parte. A peça outrora estrelada pelo Charlie será refeita depois de 20 anos e Reese, o garoto que fará o papel que fora do enforcado Charlie um dia, resolve largar o futebol americano pela dramaturgia, por conta de uma paixonite pela atriz principal, Pfeifer, a mais interessada de todas em reencenar a peça... por motivos escusos que descobriremos num plot twist final óbvio, digno de jogar pipoca na tela do cinema e vaiar.
O melhor amigo de Reese, Ryan, um sujeito impertinente ao extremo, e sua namoradinha cheerleader Cassidy, resolvem fazê-lo desistir da ideia de atuar e, juntos, invadem a escola na noite da véspera da estreia para destruir o set e sabotar a peça, evitando uma vergonha generalizada. Só que Pfeifer também aparece por lá para bisbilhotar, após ver o carro de Reese no estacionamento da escola em plena madrugada. Pronto, o quarteto fica preso no local com o espírito emputecido de Charlie vestido de carrasco (que era o papel original dele, o que significa que ele não teria morrido se o outro não tivesse dado um cano) e munido com sua terrível ~corda~, perseguindo-os entre corredores e salas escuras, caçando um por um.
Depois de passar uma hora e vinte entediado, com o tímpano explodindo, sem presenciar nenhum momento assustador, aguentar atuações sofríveis, cenas tremidas e fora de foco e ver um amontoado de clichês se acumularem, há um grande momento do filme que, quem já assistiu ao trailer, sabe exatamente como é. Ou seja...
A Forca, apesar de ser uma produção independente da Blumhouse Pictures, uma das produtoras mais ativas do cinema de terror da atualidade, acabou sendo distribuída em todo mundo pela Warner, o que explica o montante de grana gasto na publicidade e divulgação — com direito até a comerciais de TV aqui no Brasil querendo, de forma herege, colocar Charlie no mesmo patamar dos movie maniacs Jason Vorhees e Freddy Krueger. Vale tudo para atrair os pobres espectadores para o cinema, principalmente no caso de um filme que é uma grande porcaria e não vale o ingresso?
Não dá, gente.
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