Alguns possíveis caminhos do Justiceiro na série do Netflix | JUDAO.com.br

Não que, depois da segunda temporada do Demolidor, alguém tivesse muita dúvida a respeito, mas sim, Frank Castle terá uma série pra chamar de sua e nós imaginamos alguns rumos que a série poderá tomar

“Eles riem da lei. Os ricos que a compram e a torcem para cumprir os seus caprichos. Os outros, que não têm nada a perder, que não se preocupam nem consigo mesmos, o que dirá com outras pessoas. Todos os que se acham acima da lei, ou fora dela, ou além dela. Eles sabem que a lei é boa para manter as pessoas boas na linha. E todos riem. Eles riem da lei. Mas eles não riem de mim” — CASTLE, Frank.

Que o Jon Bernthal foi o melhor retrato do Justiceiro até o momento em qualquer tela, bom, isso não resta dúvidas pra ninguém. E que, com a construção do personagem ao longo da segunda temporada do Demolidor e aquele final (arsenal devidamente oculto, caveira no peito, Microchip particular em forma de CD), ele estaria pronto para ter a sua série própria, TAMPOUCO alguém tinha questões a respeito. Os rumores já existiam há algum tempo, até falaram do cancelamento da série do Punho de Ferro... Mas agora é oficial: Marvel vai produzir uma temporada completa de uma série com Frank Castle como protagonista pro Netflix. ;)

“Nós queremos agradecer os fãs que tanto pediram por mais da poderosa performance de Jon como Frank Castle”, diz o produtor executivo e todo-poderoso da Marvel Television, Jeph Loeb, em comunicado oficial. O showrunner e roteirista dos dois primeiros episódios será Steve Lightfoot, de Hannibal. “Pra mim, a complexidade e imprevisibilidade de Frank Castle fazem dele um personagem incrivelmente atraente e eu não poderia ficar mais empolgado para mergulhar em seu mundo”, afirma Lightfoot.

Mas agora que Castle cortou seus laços com SEU ANTIGO EU e, enfim, o Justiceiro nasceu (INCLUSIVE nas legendas e dublagem da série, refeitas), pra que lado a série de TV poderia seguir? Uma palavra pode ajudar a entender o futuro – e ela está INTRISECAMENTE ligada ao passado: Kandahar. Também grafada Candaar ou Candar, trata-se da terceira maior cidade do Afeganistão, o lugar no qual o Coronel Schoonover, o Blacksmith, revelou que Castle esteve em uma missão secreta cujas consequências muito provavelmente viriam morder as canelas do mais novo anti-herói do pedaço.

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A adaptação faz sentido – afinal, nos quadrinhos, Frank Castle serviu na Guerra do Vietnã e lá presenciou um monte de terríveis horrores, moldando o assassino que ele seria anos depois. Mas o ponto é que o conflito no Vietnã acabou em 1975, há mais de 40 anos. Se Castle fosse um veterano do Vietnã, facilmente teria por volta de 60 anos de idade. Logo, trazer o combatente para uma batalha mais próxima dos dias atuais encaixa melhor.

Nas HQs, Schoonover é um promissor candidato ao Senado que conta com a ajuda de Rich Van Burian, outro dos brilhantes integrantes de sua unidade, para acabar com os soldados que restaram e que poderiam entregar o seu passado no esquema de tráfico de drogas. Burian logo se torna um matador mercenário que atende pelo nome de Sniper, por conta de sua mira impecável, e pode ser que ele ressurja das cinzas justamente para tentar apagar todos aqueles que sabem de algum segredo que aconteceu em Kandahar, incluindo um certo sujeito com uma caveira no peito.

A trama a respeito de seu passado também pode evocar um dos arcos mais clássicos do Justiceiro, Retorno ao Grande Nada (Return to Big Nothing), de 1989, escrito por Steven Grant e maravilhosamente ilustrada por Mike Zeck — que, aliás, talvez seja o desenhista definitivo do Justiceiro, mesmo com aquelas botas brancas, mas falamos sobre isso outro dia. De lá, existe chance que eles tragam Cleve Gorman, sargento dos Marines que cruzou muitas vezes o caminho de Castle — desde a primeira vez em que o soldado serviu em uma missão até os primeiros dias do Vietnã, quando usou seu estilo brutal para endurecer e ao mesmo tempo “baixar a crista” de um Frank que se achava invencível e acima do bem e do mal. O caso é que Gorman sempre esteve conspirando com os traficantes de drogas vietnamitas para embarcar drogas para os EUA dentro dos cadáveres de soldados mortos em combate.

A cruzada do Justiceiro contra Gorman e seus associados asiáticos acaba levando o caveirinha até Las Vegas, deixando obviamente uma trilha incontável de mortos pelo meio do caminho. Talvez aí estivesse um segredo que, de alguma forma, poderia voltar para atormentar Frank Castle?

Outra parada que deve influenciar os próximos capítulos é o CD que ele mantinha escondido em sua casa, aquele que traz a inscrição “Micro”. Leitores das antigas obviamente se lembrarão que este era o apelido do Microchip, assistente que Frank Castle manteve em sua lista de pagamento durante muito tempo, o gênio que sempre aparecia com novos armamentos ou APARATOS tecnológicos pra que ele pudesse “limpar” mais eficientemente as ruas de Nova York. Aqui, o tal CD deve esconder segredos sobre o que rolou em Kandahar. Talvez uma lista de alvos? Parceiros que poderiam ser procurados e que ele precisaria defender? Ou poderosos de colarinho branco que precisam ser caçados antes que comecem a caçar?

Para a construção do elenco de coadjuvantes, os roteiristas podem buscar inspiração no sensacional arco Bem-Vindo de Volta, Frank (Welcome Back Frank), de 2001, cortesia da dupla Garth Ennis e Steve Dillon (os mesmos malucos responsáveis por Preacher), exatamente como fizeram no filme de 2004. Estão lá não apenas a família de mafiosos italianos Gnucci, mas também o gigantesco assassino Russo, os vigilantes que começam a surgir inspirados no “estilo” de Castle e até o departamento especial de investigação criado na polícia para capturar o Justiceiro formado apenas por um policial fracassado e sem talento para convencer as autoridades de que algo está sendo feito, já que boa parte dos policiais acabam mesmo é apoiando o “trabalho” que Castle faz.

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Ah, claro, e os vizinhos, né. As pessoas que, de alguma forma, começam a se tornar a “família” de Frank, que moram nos apartamentos ao redor daquele no qual ele passa a viver escondido sob a ALCUNHA de John Smith. Spacker Dave, o maluco viciado em piercings; Mr.Bumpo, o obeso mórbido que nunca sai de casa mas sempre tem uma palavra de confiança para transmitir; e, claro, Joan, a jovem introspectiva e de voz baixinha que, por algum motivo, desenvolve uma atração pelo homem misterioso e de cara fechada que percorre os corredores do prédio em silêncio.

Aliás, Bem-Vindo de Volta, Frank também tem um elemento que o roteiro da série do Justiceiro pode explorar: a narrativa. Mais ou menos na mesma pegada de Gotham Central, escrita por Greg Rucka e Ed Brubaker a respeito do departamento de polícia de Gotham City, aqui temos Frank Castle muitas vezes retratado como pano de fundo, o grande acontecimento ao redor do qual se desenvolvem diferentes histórias. O Justiceiro é praticamente uma força da natureza que não pode ser detida, um matador sobre o qual quase todo mundo já ouviu falar e sempre tem uma lenda para contar.

Além de esperar uma pequena participação do Rei do Crime — tão vilão do Justiceiro quanto do Demolidor e para quem Castle prometeu uma vingança depois da manipulação sofrida do lado de dentro da penitenciária — talvez quem dê as caras cheias de cicatrizes seja o Retalho (Billy Russo), aquele que é o grande vilão da galeria do Justiceiro, o maníaco de rosto desfigurado que aprendeu que ninguém sai inteiro depois de cruzar o caminho do homem de caveira. O clima que a série promete ter, claro, também promete um retrato diferente daquele bastante contestável que vimos no filme de 2008, mais sombrio e mais perigoso.

A série do Justiceiro ainda não tem data de início de produção e, conhecendo o Netflix, data de estreia vai REALMENTE demorar pra ser divulgada. Fica a questão: antes ou depois dos Defensores? Seguindo o caminho do universo não tão coeso assim iniciado em Demolidor, isso não deve importar muito. Mas sendo depois da grande série-evento, poderia ser uma boa maneira de recomeçar essa jornada.

Até porque, como disse Kevin Feige, não é como se o MCU estivesse sequer pensando em acabar um dia... ;)