”As pessoas não são más, elas só estão perdidas”
— Onde a gente vai fugir dessa tragédia?
— Ah, véio, vamos no Parlapatões, lá fica aberto até tarde e não tem TV.
— Isso, é importante esse negócio de não ter TV. Bora colar.
Foi marromeno algo assim o papo com alguns amigos enquanto procurávamos abrigo da votação que definiria o golpeachment, apelido carinhoso que dei ao movimento mezzo democrático, mezzo calabresa que se consumou essa semana.
Enquanto escrevo, penso que a mesmíssima sensação deve ter acometido muita gente, bebuns, como eu, ou não, mas que não suportariam mais uma eleição do PT e tiveram que lidar com isso em 2014. Digo na maior solidariedade, entendo a frustração, são ideias de mundo, ideologias, visões, a gente às vezes fica na merda se rola aquele negócio que consideramos atraso para a gente e o país que é o nosso teto.
Maior loucura isso de olhar em volta, ver a merda fedendo e ficar agoniado porque parece que boa parte das pessoas não se dá conta do tamanho do rebosteio. Deve ser o que rolou com grande parte da população quando Dilma anunciou Lula como Ministro da Casa Civil. Imagino isso, porque foi o que senti quando Temer anunciou o ministério dele.
Talvez toda mobilização que rolou de 2013 pra cá, primeiro com tudo misturado e, depois, separados entre coxinhas e mortadelas, curiosas metáforas, uma vez que ambas são iguarias deliciosas que todo brasileiro há de comer, na verdade, trouxe à tona uma novidade: nunca antes na história deste país tanta gente falou de política. Uma mudança e tanto, não?
Lapsos como gritos de “minha bandeira jamais será vermelha”, quando o nome Brasil, em tupi-guarani, quer dizer VERMELHO, como se fosse exclusividade da esquerda e o verde e o amarelo amados apenas pela direita. Parece provocação, e é. Estamos entrando na estrada arriscada da busca pelo conhecimento e ela não perdoa quem trabalha com seletividade. Ou se busca tudo, ou é melhor voltar para a postura de anos atrás, quando as pessoas se permitiam dizer “ah, muda de assunto, odeio falar de política”.
Nessas, embora eu ache autoajuda um lixo, vai que esse negócio de transformar crise em oportunidade dá certo, né? Só me dá a impressão que, embora divididos, precisamos fiscalizar também os políticos que tem a ver com a nossa corrente política. Fazer como fazemos com nossos times de futebol, quando entra aquele jogador “de empresário” ou um zagueiro que a gente sabe que vai peidar na farofa.
Independente de posição política, a gente precisa enxergar além. Saca? Ir mais longe do que nossa ideia de esquerda, direita, igreja, macumba, família, sexualidade, drogas, etc.
Ainda há tempo.
(Meu editor e colega de escola lá em Santos DÉCADAS ATRÁS, Thiago Cardim, tinha pedido pra eu falar do disco “Ainda há tempo”, do Criolo, original de 2006, e “reproduzido” dez anos depois que você pode ouvir aqui. Ele não sabe o bem que me fez ouvir essa música às 04h16 da madrugada. Quer dizer, agora sabe. Obrigado, mano véio)