Alerta, isso não é um teste: existe MESMO uma data de lançamento pro novo disco do Tool | JUDAO.com.br

Influente e cultuada banda de rock/metal alternativo (ou seria progressivo?) lança no dia 30 de agosto seu novo disco de inéditas, o primeiro depois de 13 longos anos de espera para os fãs

“Eles são a banda do metaleiro pensante”, descreveu, de maneira bastante pomposa, o jornalista australiano Patrick Donovan a respeito do quarteto californiano Tool, quando publicou no The Age uma entrevista com o vocalista Maynard James Keenan.

“Cerebrais e viscerais, leves e pesados, melódicos e abrasivos, doces e brutais, familiares e estranhos, ocidentais e orientais, belos e horrorosos, tensos e épicos, eles são um emaranhado de contradições”, completa ele, numa descrição tão esquisita quanto apurada a respeito de uma das bandas mais complicadas e cultuadas da vertente mais pesada do rock americano. É inclusive difícil cravar um gênero no Tool — é rock alternativo? Talvez metal alternativo? Metal moderno? Rock progressivo? Rock experimental? Psicodélico? Art rock? Sei lá. Dá pra ser qualquer uma delas ou mesmo todas juntas.

Mas se tem um adjetivo que Donovan esqueceu de acrescentar à sua coleção e que TAMBÉM cabe como uma luva na mitologia da banda é MISTERIOSOS. Teatrais e repletos de histórias/lendas que eles mesmos ajudam a cultivar — incluindo uma pseudofilosofia chamada “lachrymology”, que teria sido responsável pelo surgimento do grupo — os caras sabem muito bem controlar a própria narrativa. Dão poucas entrevistas e, mesmo em seu auge de popularidade, estavam longe do que se poderiam considerar artistas “comerciais”, jogando contra as regras ao lançar faixas longas e complexas, além de prezarem totalmente por sua privacidade... incluindo quando estavam lançando discos, justamente naquele momento em que uma gravadora mais espera poder colocar a cara de seus músicos em tudo que é lugar.

Por falar em lançar discos, tá aí um dos maiores mistérios da trajetória do Tool. Porque esta entrevista aí, que o Keenan concedeu ao jornal da Austrália, é de 2006. Justamente o ano de lançamento de 10,000 Days, o quarto e mais recente disco de inéditas dos sujeitos. Que chegou ao mercado, façam as contas, há bons 13 anos.

As primeiras promessas de que viria coisa nova “em breve” começaram lá em 2008, ao final da turnê do disco anterior. E nunca mais pararam. Ah, tem canções sendo produzidas, tem coisa pronta pra costurar aqui e ali. Mas ah, tem problemas familiares, tem tretas judiciais, tem um monte de compromissos com projetos paralelos (como Puscifer e A Perfect Circle — supergrupo que, aliás, também lançou disco novo ano passado depois de um parto longo e duradouro). E teve um acidente de trânsito que fodeu a vida do baterista, teve o baixista afirmando que eles fariam uma pausa na carreira...

E estas promessas duraram tanto que viraram piada. Muitas datas, muitos “agora vai”, muitos desmentidos que, inclusive, faziam os fãs de longa data apostarem que o tal álbum poderia muito bem se tornar uma espécie de Chinese Democracy (o lendário disco dos Guns N’ Roses) dos caras. Afinal, Chinese Democracy demorou 15 anos pra ser lançado, enquanto o intervalo entre um disco e outro do Tool já chegava à 13 anos. Não faltava muito.

Mas aí que Keenan e sua patota desencantaram. E enfim se confirmou PRA VALER a data de lançamento do álbum, ainda sem título. Claro que, em se tratando do Tool, qualquer coisa pode mudar de hoje pra amanhã, eles podem aparecer com alguma graça do tipo “eu só não falei de qual ano”, algo assim. Só que tudo leva a crer que agora a parada é definitiva.

Na real, as pistas começaram em setembro do ano passado, quando Keenan anunciou via Twitter que a produção do novo disco tava a pleno vapor, que os vocais já tinham sido escritos e que o lançamento devia MESMO rolar em 2019. Quando virou o ano, o frontman aproveitou novamente as redes sociais pra contar que tinha terminado de gravar os seus vocais meses atrás, meio que dando uma pressionada passivo-agressiva nos coleguinhas de grupo.

O site oficial dos caras foi então reformulado, coisa que não acontecia há muito tempo. O batera Danny Carey então apareceu dizendo que já tinha até uma data prevista de lançamento, lá pelo meio de abril, mas o parça cantor logo veio publicamente afirmar que algo entre maio e julho talvez fosse um limite de tempo mais realista para finalizar a produção e então lançar a parada. Maio tá aí e até agora nada...

Mas, vejam só, maio é o mês em que o Tool abriu a sua mais nova turnê americana — e no Welcome to Rockville Festival, na cidade de Jacksonville, na Flórida, começaram a tocar duas canções inéditas, Descending e Invincible, ambas daqueles gigantescos épicos com mais de 10 minutos cada, como eles bem gostam de fazer. Claro que os ouvintes mais atentos sacaram que Descending é a versão agora com letra de uma música cuja parte instrumental vinha sendo tocada por eles quase que regularmente em seus shows desde 2014. Um teste largamente executado pelo metódico quarteto? Talvez.

Aí, na terça (7), durante um show em Birmingham, Alabama, eles exibiram no telão esta mensagem de “August 30th”, uma sexta-feira, o dia da semana tradicionalmente dedicado ao lançamento de discos no mercado americano. O público foi à loucura, o vocalista incentivou que os fãs compartilhassem as notícias via mídias sociais e, poucas horas depois, estava lá o vídeo no Twitter oficial do Tool.

Há quem arrisque que MMXIX, além de fazer referência ao ano de 2019, também seria o nome do disco, mas nada disso foi confirmado até o momento. A única coisa que se sabe é que o próprio vocalista, sabendo do quanto esta história toda podia causar uma nova onda de dúvidas, tratou de pegar um meme que circulava entre os fãs para confirmar: sim, é tudo verdade mesmo. Lidem com isso como conseguirem. ;)

As sementes do Tool surgiram nos anos 1980, em Los Angeles, quando Carey e Keenan se conheceram e foram tocar juntos no enorme line-up da banda de humor Green Jellÿ, aquela do clipe clássico Three Little Pigs. Resolveram que combinavam musicalmente e se meteram a formar uma banda — que logo passou a ter na guitarra a presença de Adam Jones (que veio pra cidade trabalhar com cinema e inclusive chegou a trabalhar com os dinossauros em Jurassic Park, sendo devidamente apresentado à dupla por ninguém menos do que Tom Morello) e Paul D’Amour no baixo.

Em 1994, para a finada revista alternativa RayGun Magazine, Keenan explicou o conceito por trás da banda, que inclusive envolve a escolha pelo nome. “Acho que algumas vezes, quando as pessoas escutam o que estamos fazendo, eles enxergam uma banda realmente intensa, jovem, aí tem o nome Tool e já pensam numa coisa enorme, fálica, da ferramenta. Dá até a impressão de que vamos arrebentar tudo com uma cunha, com um míssil, tipo uma daquelas bandas de rock pra machões, mas existe justamente o senso de humor que nos leva para o outro lado, a abordagem mais séria sobre o mundo ao nosso redor”, afirma. “É um verbo, é um fator de escavação. É um processo ativo de busca, como alguém nos usa. Somos uma pá, um palito de fósforo, um mata-borrão de ácido, sua ferramenta. A ideia é permitir que o ouvinte nos use como um catalisador em seu processo de descobrir o que você precisa ou está tentando alcançar”.

Com este grau de poesia e um som bastante incomum para uma época na qual o grunge estava em alta, eles lançaram seu disco de estreia, Undertow, em 1993. Logo os caras começaram, com apresentações explosivas e cheias de performances, a conquistar uma base de seguidores fiéis e uma boa atenção da imprensa especializada — em especial por conta de episódios como o do Garden Pavilion. Assim que descobriram que o lugar, em Hollywood, pertencia à Igreja da Cientologia, ficaram putos porque ia contra a sua ética de que uma pessoa não deveria seguir um sistema de crenças que diminua seu desenvolvimento enquanto ser humano. E, segundo consta, lenda ou não, Keenan teria passado a maior parte da apresentação imitando uma ovelha para o público.

Enquanto seus shows bombásticos os tornariam favoritos de festivais como o Lollapalooza, seus vídeos elaborados os garantiriam como favoritos na tela da MTV — incluindo até o censurado Prison Sex, animação em stop-motion que ilustrava de maneira perturbadoramente gráfica, ainda que onírica, a letra sobre alguém se recuperando de um abuso sofrido na infância (no caso, o vocalista já tinha deixado claro que a canção era inspirada no trauma que sofreu quando criança nas mãos do padrasto). “A música é sobre reconhecer e identificar, o primeiro passo no ciclo do abuso”, explicaria ele mais tarde.

Questionadores e provocativos, com letras que falam sem rodeios sobre sociedade, política e religião, eles são uma banda que chega com material inédito num mundo em que as redes sociais ganharam o tamanho que sabemos que hoje têm, com notícias falsas mudando o rumo de eleições, com malucos de extrema direita assumindo posições de comando e tirando direitos básicos das minorias, desconstruindo estruturas de educação e cultura... Talvez este seja o mundo ideal para o Tool retomar as atividades, no fim das contas. Curioso pra ver e ouvir qual o repertório que eles têm preparado para encarar esta nova realidade.