Volta real de Ridley Scott, pai do xenomorfo, ao universo que criou há quase quarenta anos, é uma decepção que só
Há de se levar em consideração que MUITA gente gosta de Prometheus e tem lá seus motivos. Em contrapartida, o filme de Ridley Scott acabou por decepcionar também uma galera, incluindo o grosso dos fãs da franquia Alien, gerando até aquela famosa piada jocosa em PT-BR com o título, sobre o não cumprimento da promessa do veterano diretor inglês.
Depois de cinco anos e muita expectativa sobre a volta de Scott ao universo que ele dera origem há quase 40 anos, a grande dúvida na cabeça do público é: mas esse será mais Prometheus, ou mais Alien? E principalmente: o cineasta teria aprendido com os próprios erros e críticas a seu filme anterior, focando nos acertos de seu seminal horror espacial, PEDRA ANGULAR do subgênero?
Com a estreia de Alien: Covenant nos cinemas brasileiros, as respostas são as mais deprimentes possíveis...
O filme que conta a tão aguardada origem do xenomorfo, que deveria saudar os fãs de longa data e introduzir a barata espacial para uma nova geração, pavimentando caminho para a ideia sem noção de uma nova hexalogia (!!!) — nada é mais que uma continuação CANHESTRA de um antecessor fraco, que se preocupa muito mais em seguir explorando uma ideia que desagradou geral ao invés de uma simples e certeira “volta ao básico”, entregando um terror espacial claustrofóbico focado na criatura, e não, mais uma vez, nas desventuras de um sintético afetado, elucubrações sobre a origem da vida e uma tripulação repleta de imbecis.
Sério, como em pleno século XXII, a Weyland Corp. consegue juntar um grupo tão grande de astronautas ineptos, que deveriam ser os melhores em suas especialidades, afinal, a Covenant está partindo em uma importante missão de colonização? A série de pataquadas que selam a sorte daquele grupo é inadmissível, tal qual os personagens fraquíssimos que tripularam a Prometheus dez anos antes, dando no que deu. A saudades de Ellen Ripley chega a bater forte no peito.
O roteiro é cheio de clichês, recursos pobres, tudo demasiadamente previsível e soluções baseadas em coincidências ou pura cabacice do tipo: “sujeito senta para fumar bem ao lado de esporos que irá infectá-lo” ou “cara cutuca uma forma botânica alienígena sem a menor parcimônia” ou “ciclana fica desnecessariamente desesperada e atira em um tanque de combustível explodindo a dropship e deixando todo mundo preso no planeta”, tudo praticado por uma conjunto de personagens rasos que nem um pires, que só estão ali para a contagem de cadáveres, que você nem dá a mínima por não conseguir criar empatia por nenhum deles.
NÃO OBSTANTE, a primeira hora do filme poderia ter sido jogada na LATA DO LIXO da sala de edição. Nisso, estou falando desde o acidente que a Covenant sofre, que faz o novo capitão decidir pousar em um planeta não escaneado, contendo as mesmas condições biológicas e atmosféricas da Terra, ao invés de voltar a entrar em estado de animação suspensa e acordar só daqui a sete anos até chegar ao seu destino junto dos dois mil colonos que a nave carrega, até a eclosão do chamado neomorfo, a irritante nova criatura feita totalmente em CGI, toda descompassada, sem a menor necessidade de existir, nem mesmo para o bestiário do cânone.
O GRANDE problema de tudo é a ineficácia de Ridley Scott em construir a atmosfera do filme, parecendo incapaz de repetir o sucesso que obteve de forma tão assertiva em Alien, o Oitavo Passageiro, quando criou um clima de crescimento exponencial do medo e ameaça na presença de uma forma de vida terrível e indestrutível que espreita na sombra. Pior é que ao sermos apresentados à Covenant nos primeiros minutos de filme, há nela um quê de Nostromo, com seus ambientes escuros e corredores apertados captados em ângulos fechados, perfeitos para o clima de clausura e claustrofobia.
Scott mais uma vez perde tempo dando continuidade a todos os problemas do longa anterior, preferindo campos abertos e cavernas, dando destaque para uma série de devaneios criacionistas de David e sua motivação questionável, seus diálogos cafonas com Walter (papel duplo de Michael Fassbender, único que se salva), o sintético da Covenant – uma versão downgrade de si mesmo – incluindo aí uma insuportável sequência de SEIS MINUTOS onde ele ensina o robô-irmão a TOCAR FLAUTA DOCE, e decide voltar à espaçonave e mergulhar nos confins do espaço desconhecido apenas no terceiro ato.
Mas verdade seja dita: os últimos vinte minutos são realmente muito interessantes, a cereja de um bolo qualquer nota, salvo aquela VERGONHOSA cena do chuveiro, que parece saída de um slasher qualquer. Isso porque, aqui, é feito o arroz com feijão ao tentar emular o original, além do fanservice em prestar uma baita homenagem ao visual da Ripley em Aliens, o Resgate. Exatamente o que eu, você, e quase todo mundo, queria ver desde que o longa fora anunciado, ainda mais contando com a direção do pai do xenomorfo, monstro que safadamente deve contabilizar no máximo uns trinta minutos de duração em uma projeção de mais de duas horas.
Obviamente há uma deixa para o próximo filme, com uma premissa bem das boas, e muitas perguntas ainda sem resposta, mas talvez seja a hora de Ridley Scott largar o osso – uma vez que ele já não é o mesmo há um BOM tempo – e as sequências serem entregues para novos diretores que tragam suas visões particulares, como feito com muito sucesso na série até então (James Cameron, David Fincher e Jean-Pierre Jeunet estão aí para não me deixar mentir) ou o que vem acontecendo, por exemplo, com outras franquias espaciais como Star Wars ou Star Trek. Nem precisa ir tão longe, já que é Denis Villeneuve, o nome mais quente da ficção científica da atualidade, quem comandará a sequência de Blade Runner, outro clássico de Scott.
No frigir dos ovos, você me pergunta se ele é melhor que Prometheus? Eu respondo que sim! Mas pelo menos o antecessor não frustra ninguém colocando ALIEN em letras garrafais no título, só para meter a barata espacial em cena por um período tão curto de tempo, completamente subaproveitado em um filme mediano e sem a mínima capacidade de construção do horror sufocante. Pior ainda, fica aquele gosto ruim na boca dessa produção, junto de um Ridley Scott agindo tipicamente como “o dono da bola”, ter sido a responsável pela Fox enterrar o promissor Alien 5 de Neil Blomkamp...
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