Em sua estreia como diretor, Jonah Hill aborda a perda da inocência masculina.
Inegavelmente, existe uma boa quantidade de filmes sobre o processo de auto-descoberta e amadurecimento feminino, como os exemplos de Lady Bird e Oitava Série. Na estréia como diretor de longa-metragens, o ator Jonah Hill resolveu colocar uma lupa sobre a transformação de um menino em um adolescente, período em que doces crianças se transformam em algo que teoricamente significa ser adulto.
Aos treze anos, Stevie (Sunny Suljic) tem a necessidade quase desesperada de ser alguém descolado, como qualquer pré-adolescente. Sem qualquer figura saudável para se inspirar ou ajudá-lo nesse processo de transição, ele estuda quase religiosamente o quarto do seu irmão mais velho, que constantemente o espanca apenas porque pode. Ironicamente, Stevie quer se tornar exatamente como a pessoa que bate nele diariamente.
Essa busca o leva à loja onde adolescentes mais velhos trabalham e, pela primeira vez, ele tem uma noção do que é fazer parte de uma irmandade e se sentir incluído. Rapidamente, ele se envolve com esses garotos e passa por ritos de passagem, como aprender a falar palavrões ou até fumar e beber.
Inicialmente, me questionei sobre ter gostado ou não de Anos 90, mas percebi que essa é uma pergunta muito simples para o ponto que Hill quis abordar. Sendo uma mulher que cresceu protegida por pais amorosos e irmãos protetores, não vivenciei qualquer uma das experiências de Stevie, então analisei essa história com certo distanciamento. Mas exatamente por conta dessa vivência familiar, sei que o ambiente em que vivemos nos influencia nesse processo de crescimento, seja para sermos espelhos do que vimos ou seguirmos caminhos completamente opostos, por entendermos que a experiência não foi boa.
Nascemos como uma página em branco preenchida a partir das nossas experiência e vivências. Anos 90 fala sobre a perda da inocência e a transformação de uma criança vulnerável em um adolescente e como essas vivências influenciaram para se tornar quem ele acreditou que deveria ser. Sendo alvo de constantes porradas do irmão mais velho e passando muito tempo sozinho, a sensação de pertencer à algo precisou ser encontrada fora de casa. Mesmo que, para fazer parte de algo, ele perca partes importantes de si mesmo.
Essa perda da inocência normalmente é encaminhada por traumas surgidos nessa fase e, no caso dos homens, nos ritos de passagem para se tornar o que a sociedade acredita que um homem deve ser. Em muitos casos, a própria violência faz parte desse processo e traumatiza crianças. É um pouco chocante ver um garoto tão novo se envolvendo em bebidas, álcool ou até mesmo relações sexuais.
Mas Anos 90 está longe de ser uma história de moralidade, portanto não espere qualquer ensinamento sobre paternidade e maternidade ou qualquer resolução heróica. O trabalho de Hill foi simplesmente apontar que a postura desses – quase – adolescentes esconde uma fragilidade que muitas vezes os acompanhará para o resto da vida.
Saí do cinema sentindo que educar uma criança é difícil demais e poucos têm essa capacidade, mas, principalmente, existem gerações de homens que aceitam a dor porque a tal masculinidade tóxica os obriga a isso.
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