O Arquivo X foi reaberto e a verdade não está tão lá fora assim | JUDAO.com.br

Para a alegria de todos aqueles que ainda querem acreditar e que acham que a verdade ainda está lá fora, Mulder e Scully estão de volta, desfilando com seus crachás por aí

Um dos maiores fenômenos da cultura pop está de volta – e, ainda bem, em grande estilo, para alegria dos fãs saudosistas, trazendo na fórmula uma mistura de tudo aquilo que eles gostariam de ver novamente. Quase 14 anos depois de seu final, o Arquivo X foi enfim reaberto por Chris Carter.

Novamente, David Duchovny e Gillian Anderson encarnam os agentes Fox Mulder e Dana Scully, de volta àquele escritório no porão do FBI onde se encontraram pela primeira vez, quando a brilhante e cética médica foi designada para desacreditar o trabalho do paranoico agente que tentava desmantelar uma intrincada conspiração governamental com alienígenas cheios de terríveis planos de dominação global.

Esse clima de “não confie em ninguém”, outro dos famosos bordões de Arquivo X, foi uma das grandes forças motoras da série, junto dos chamados episódios de “Monstro da Semana”, em uma época na qual você era obrigado a sentar a bunda no sofá toda sexta à noite e no máximo acompanhar os fóruns de discussão na internet discada.

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Houve uma grande reviravolta na política americana (e mundial) depois de 11 de Setembro, que assumiu um aspecto paranoico que Mulder conhece bem. Da mesma forma, rolou uma crescente evolução tecnológica de lá pra cá, cada vez mais catalogando bilhões de dados e informações sobre praticamente cada ser vivo do planeta. Os dados são usados como instrumento de vigilância, pretexto aberto por conta da paranoia com relação ao terrorismo.

É nesse mundo no qual Mulder e Scully voltaram.

Aí que o Arquivo X do novo milênio pega no calo, e essa foi a tacada de mestre de Chris Carter e todos os envolvidos. Aparentemente, em um primeiro momento, toda a coisa da invasão alienígena é deixada de lado, mas a conspiração governamental continua. Os homenzinhos verdes (ou cinzas, dependendo da editora que imprimir), aqueles que caíram no Novo México, apenas serviram como cobaias para experimentações genéticas e bélicas nos últimos 70 anos, preparando o terreno para que um bando de gente nos bastidores do poder possa seguir com um grande e orquestrado ato de dominação mundial. Claro!

Cerceamento dos direitos civis, consumismo exagerado, fundamentalismo religioso, destruição dos nossos recursos naturais. Tudo aquilo vem sendo secreta e cuidadosamente plantado em nosso modo de vida durante essas sete décadas. Um prato cheio para os fãs de teorias da conspiração. E para o Mulder, óbvio. A grande ameaça não são os ETs. Mas sim os próprios seres humanos.

O primeiro episódio já começa a desenhar uma gigantesca rede de intrigas, daquelas mais absurdas e impossíveis de se imaginar, que sim, envolve alienígenas, mas de uma forma muito menos direta do que a que envolveu o Sindicato e os planos de colonização. A situação fica tão feia que outro veterano da série original, o Diretor Assistente Walter Skinner (Mitch Pillegi) não tem outra solução senão reabrir o Arquivo X e trazer de volta ao FBI Mulder e Scully, os únicos com métodos nada ortodoxos que poderiam levar as investigações a fundo em uma instituição governamental muito mais burocratizada após o 11/9. Vamos deixar os dois correrem ao longo da papelada, não é?

E se alguém ficou preocupado com isso, só poderia ter sido o Canceroso (William B. Davis), como o próprio demonstra ao final do episódio, depois de uma bela tragada de seu Morley via aparelho em sua traqueia. Ele deveria estar morto, mas está lá firme, forte, e maligno. Como?

Arquivo X

Não bastasse isso, mais uma vez há toda uma tensão no ar envolvendo Mulder e Scully, mas dessa vez muito mais carregada que durante a parceria anterior, por conta de muitas feridas que continuam abertas. São dramas pessoais, mágoas do passado e as perdas de ambos – principalmente do filho, William, dado para adoção como forma de proteção. Hoje o moleque teria 15 anos, mas ninguém sabe de seu paradeiro.

Já o segundo episódio trouxe uma história fechada, independente, escrita por Glen Morgan – um dos responsáveis, junto de James Wong, por alguns dos melhores episódios da série – que tem experimentos genéticos que envolvem DNA alienígena em mulheres grávidas como trama, mas sem ligação com a “conspiração principal” que será o elo de ligação dessa revisita.

Ou seja, tudo indica que apesar da curta duração desta temporada (apenas seis episódios!), veremos os agentes de volta aos seu modus operandi, com aquela pegada mais procedural, investigava, mas sempre com foco em atividades paranormais e casos que o governo nega ter conhecimento. Vale até trazer um monstrinho da semana, hein?

Acontece que ver Mulder de paletó e gravata e Scully com seu TAILLEUR, ambos carregando suas identificações do FBI, armas e lanternas (sem sobretudo, pois isso é anos 90 DEMAIS), em ótima forma, fez com que nem parecesse que a série terminara há quase uma década e meia, dando a maior impressão de que rolou apenas aquele ano básico de hiato entre uma temporada e outra. E ao mesmo tempo em que trata a velha guarda com carinho, Arquivo X se atualiza para uma nova geração de eXcers que pode estar por vir.

Sem DELONGAS, o revival acertou em cheio o seu tom, indo direto ao assunto. Carter também não teve medo de parecer fora de forma e ridículo, instaurando mais uma vez esse fio condutor ao ressuscitar os terríveis segredos do governo em esconder a verdade sobre a existência de vida extraterrestre (e suas casuais visitas ao nosso Planeta Azul). Mas, de maneira inteligente, soube atualizar muito bem seu discurso conspiratório.

Só não atualizaram essa coisa de ter de esperar semana a semana por um episódio... ;D