Não é que o Aquaman seja um personagem com poucos inimigos. São diversos, distribuídos nos 75 anos de história do personagem. Porém, de todos eles, um chama mais a atenção – é o ARQUIINIMIGO, por assim dizer. Estamos falando do Arraia Negra (Black Manta, no original), que, de acordo com o The Wrap, deverá ser o principal antagonista do primeiro filme do herói da DC, que estreia em 2018.

E não tinha ninguém melhor pra começar.

James Wan, o diretor da produção, já tinha dito que queria acabar com a piada do Aquaman – iniciada com as zoadas que o Cartoon Network fazia com a versão do personagem na animação dos Superamigos, e que ganhou o mundo com The Big Bang Theory. Tudo isso alimentou o INCONSCIENTE COLETIVO da galera, imaginando que o herói é um cara que só anda por aí cavalgando cavalos marinhos e conversando com peixes. Não é bem assim. E o Arraia Negro pode ser o cara pra botar tudo nos trilhos.

Criado em 1967 por Bob Haney e Nick Cardy, o vilão já surgiu na chamada Era de Prata dos Quadrinhos. Originalmente, ele era um daqueles personagens genéricos, que simplesmente tinha um plano ESCALAFOBÉTICO para atacar o Aquaman. Foi só em 1977 que revelaram que o cara, por baixo da máscara, era negro – e que queria conquistar os mares para os negros após eles sofrerem na terra pelas mãos dos brancos.

Apaga essa última parte, por favor.

:(

O Arraia cresceu dentro da galeria dos vilões da DC quando, nesse mesmo arco de 1977, começou uma série de ataques contra o herói aquático e o sistema de agricultura de Atlântida, a terra reinada por Aquaman. Os protetores da cidade responderam e, após uma série de fatos, o vilão sequestrou a esposa do herói, Mera, e o filho, Arthur Curry Junior (o AQUABABY). Ele então obrigou Aquaman e seu sidekick, o Aqualad, a lutarem entre eles, caso contrário Arthur Jr seria morto. Apesar dos dois reagirem, não dá certo. O bebê morre.

Foi essa tragédia que também acabou com o casamento entre Aquaman e Mera.

Dali pra frente, os confrontos entre eles foram se tornando maiores e mais constantes – inclusive com o Aquaman quase matando o vilão. Porém, foi só em 1993 que, pela primeira vez, contaram a origem do cara. Nessa versão, o Arraia Negra cresceu em Baltimore, Maryland, e adorava brincar na Baía de Chesapeake. Um belo dia deu merda, claro, e o garoto foi sequestrado para trabalhar em um navio, sendo inclusive abusado sexualmente. Quando ele viu o Aquaman passando, se divertindo com golfinhos, tentou pedir ajuda – mas foi ignorado. Com ódio, ele então reagiu aos captores, matando um deles, e jurando que um dia se vingaria do herói que negou salvá-lo.

Quando adulto, o vilão criou um uniforme baseado nas arraias, cheio de tecnologia pra sobreviver debaixo d’água, e que, por meio dos visores do capacete, conseguia atirar raios para ferir os adversários.

Essa versão do Arraia não tinha, originalmente, superpoderes. Isso mudou em meados da década de 90, durante a saga A Vingança do Submundo, quando o cara vendeu a alma para o Neron em troca de mais poder – sendo transformado assim num mutante híbrido entre arraia e humano. Eventualmente, o Aquaman intervem e reverte essa transformação bizarra.

Já nos anos 2000, o Arraia Negra ganhou uma nova origem. Agora, o garoto era um órfão autista que ficou por anos preso em Arkham e que, de alguma forma, se sentia confortável em estar em águas com temperatura congelante – mas que achava o toque do algodão algo extremamente doloroso. Ninguém no asilo sabia lidar com essa condição do garoto, que, pela TV, ficou fascinado pelo Aquaman. A situação saiu fora de controle quando os médicos de Arkham começaram a fazer experimentos no órfão, culminando com mudanças na mente dele que o deixaram extremamente violento. Após matar o cientista que fez o tratamento, o Arraia Negra fugiu de Arkham.

Essa nova versão continuou como um grande antagonista pro nosso herói, inclusive arrancando a mão dele durante a saga O Dia Mais Claro.

Mais recentemente o Arraia Negra ganhou uma nova origem, parte do grande reboot da DC, que reimaginou diversos personagens. Nessa versão, a origem do Arraia Negra é bem próxima da história do Aquaman.

O vilão, ainda jovem, era um famoso mergulhador e caçador de tesouros. Certo dia ele ouve uma história sobre um “sereio” (ou melhor, sobre um “tritão”, a versão masculina da sereia) no Maine e vai até lá investigar – até que, sem querer, mata o dono do farol local, Tom Curry. Isso deixa o misterioso sereio, que é o filho adotivo do homem, descontrolado: ele vai até o barco do mergulhador e também mata o pai do jovem mergulhador.

O misterioso homem-peixe era o Aquaman, enquanto o mergulhador viria a se tornar o Arraia Negra.

Em busca de justiça, o Aquaman reuniu um grupo de heróis chamado Os Outros, que retiravam seus poderes de relíquias de Atlântida. Eles perseguem e prendem o Arraia Negra, mas o plano dá errado e o vilão foge. Depois, o cara é contratado como um mercenário para caçar essas relíquias, perseguindo os integrantes do grupo para matá-los.

É provável que essa última versão, criada nas HQs por Geoff Johns (o novo presidente da DC Entertainment, agora responsável pelas versões de cinema), inspire bastante o filme. Inclusive, pelo trailer de Liga da Justiça divulgado durante a San Diego Comic-Con, é possível imaginar que o local no qual ele distribui peixes é justamente a região do Maine ontem o pai adotivo morava. Além disso, ligar a origem do herói com a do vilão sempre economiza uns minutos preciosos.

Mas, mais importante do que isso, o Arraia Negra consegue deixar a disputa com o Aquaman mais séria, de vida e morte, vingança e ódio. Algo que combina com essa visão que a Warner e a DC querem dar para o personagem, além de ajudar a desconstruir as piadas sobre ele, como James Wan quer.

Sem falar que não se esgotariam todas as balas do Aquaman. Ainda ficaria na manga o Orm, vilão também conhecido como Mestre dos Oceanos e que já teve ótimas brigas com o protetor da Atlântida. Apesar do visual colorido original, o personagem ganhou um ar bem mais sombrio depois do reboot de 2011. E é justamente Orm que contrata o Arraia Negra para roubas as tais relíquias, fechando um ciclo que pode render uma continuação – ou até uma trilogia.

Material pra inspirar um bom filme é o que não falta. Resta, agora, fazer direitinho a lição de casa, né?