Arrow, cliffhangers e o charme da TV linear | JUDAO.com.br

Série do Arqueiro Verde aproveita a pausa de final de ano pra jogar na nossa cara um grande acontecimento – e vai deixar a galera sem respirar pelos próximos 40 dias…

SPOILER! Já falamos por aqui no JUDÃO que o streaming está mudando a forma como se faz série de TV, com seu pacotão de vários episódios liberados no mesmo dia e que são consumidos como se fosse um grande filme com 10, 13 ou até mesmo 15 horas. Mas, se por um lado o futuro parece ser esse, tem algo que a TV linear, aquela tradicional, ainda mantém de especial. Algo que ficou muito claro nesta semana, com o midseason finale de Arrow.

Não, não estou falando dessa coisa de todo mundo ver a mesma coisa, na mesma hora. Isso vai morrer quando morrerem os GRILHÕES da programação linear. Supere isso. Na verdade, me refiro à expectativa criada ao fim de cada episódio e, principalmente, nas pausas naturais que acontecem numa temporada normal de televisão.

Isso vira uma arma nas mãos de um bom roteirista e um bom showrunner. É possível usar essa espera normal de uma semana para criar um suspense que não existiria se você pudesse ver o próximo episódio no autoplay dentro de 15 segundos, com o uso do chamado cliffhanger — que é, como diz o nome, quando a história fica à beira de um abismo. Inclusive, é justamente por causa desse autoplay que as séries do Netflix não investem muito em nesse tipo de recurso ao fim dos capítulos (tirando algumas exceções, como Sense8). Lá isso não funciona tão bem quando na velha televisão.

Já a quebra de um, dois meses no meio da temporada também pode servir de ferramenta na construção da história como um todo, com o cliffhanger se encaixando como uma luva no ponto de virada do meio da história, ou o clímax — aquele com uma mudança radical, que joga o protagonista lá no fundo do poço depois de uma enorme burrada. E, aí, o exemplo desta quarta temporada de Arrow é quase como uma aula disso, da chamada Pirâmide de Freytag.

Arrow

Lá no primeiro episódio dessa temporada, que foi exibido como algo NOSSAQUEINÉDITO na comic con de São Paulo, primeira cena: Oliver Queen chorando a morte de alguém importante, tão importante pra fazer o Flash, Barry Allen, aparecer no cemitério. Mas não vemos a identidade do morto. Aliás, até o próprio Stephen Amell contou que nem no roteiro a identidade do falecido estava presente, muito menos na lápide ou nas informações dos produtores. Silêncio total. O importante é saber, de antemão, que alguém ia morrer.

Os episódios seguintes foram se aprofundando no relacionamento do Oliver com os outros personagens, naquele esquema de “quem vai morrer?”. E aí chegamos no episódio 9, o desta semana, Dark Waters.

Damien Darhk, o inimigo da vez, se consolidou como um grande vilão, aquele que não só quer acabar com o herói Arqueiro Verde, mas o político Oliver Queen. Ele ataca os amigos de Oliver, sequestra, usa armas, gás... E, assim como os personagens, os telespectadores vão ficando sem fôlego.

Arrow

No final, tudo aparentemente dá certo pros protagonistas. Vem a felicidade suprema, Oliver finalmente pede Felicity em casamento. Eles vão embora. E caem no meio de uma emboscada. Tiros acertam a agora noiva do nosso herói. Ela sangra, desacordada, nos braços dele. Sobem os créditos. Pra saber se é ela naquele túmulo (e entender COMO o Ollie não tinha uma limousine blindada), só em 20 de janeiro do ano que vem.

Um enorme cliffhanger, que vamos ter que aguardar mais de 40 dias pra descobrir o desfecho. E aí começam as teorias, os fãs chorando nas interwebs pedindo pra Felicity não morrer e por aí vai. Algo que só esse formato tradicional, sem o autoplay em 15 segundos, pode fazer. E parecido também com o que aconteceu na última temporada, quando o próprio Oliver aparentemente morreu nas mãos do Ra’s Al Ghul no midseason finale — num cliffhanger que literalmente jogou o cara no abismo.

Aliás, tenho aqui minhas teorias pra essa ~morte, também. Sabe os flashbacks? Já foi estabelecido que os terroristas na ilha de Lian Yu estão em busca de algo mágico e, nessa semana, vimos Ollie atrás de mapas mais completos do local, pra achar esses artefatos. Isso faz cinco anos e pode ser que o que ele tenha achado ainda esteja com ele – e não que possa reviver alguém, mas sim FAKEAR a morte de uma pessoa. Afinal, Oliver já percebeu que a Felicity pode ser usada por Darhk contra ele e uma morte forjada a tiraria de vista.

Só que, pra ter certeza, você sabe: 20 de janeiro. Isso na melhor da hipóteses, já que podemos ficar sem respostas por mais um tempo.

Claro que uma série de streaming poderia tentar copiar esse formato, mas fica difícil agora que o Netflix definiu o padrão pra se escrever, produzir e lançar uma série. Sim, já aconteceu diferente em alguns casos, como em Better Call Saul – mas ali era porque a série é do AMC lá nos EUA, e o Netflix é obrigado a seguir os dias de exibição no resto do mundo. Pode ser também que o padrão se torne ter sempre o cliffhanger no final da temporada – mas aí fica parecendo que ficou faltando alguma coisa, não é?

Quem sabe, no futuro, alguém consiga juntar o melhor dos dois mundos. Mas, por enquanto, Arrow continua mostrando (assim como várias outras séries, é bom dizer) que esse formatão de episódios semanais, cliffhangers e midseason ainda tem seu charme. Pode não ser sexy, mas tem.