Série documental da Amazon, baseada no premiado podcast de Aaron Mahnke e com os produtores de The Walking Dead e Arquivo X, é a versão para as telas do “causo de terror contado ao lado da fogueira”
O horror, como gênero multimídia, tem como um de seus principais diferenciais na criação de seus contos, histórias e produtos literários e audiovisuais, uma forte inspiração em lendas, mitologias, causos e acontecimentos cotidianos envolvendo tanto a sinistra natureza humana, quanto eventos supernaturais sem explicação.
As maiores histórias de terror, assim como algumas das mais notáveis criaturas de seu BESTIÁRIO, nasceram — e evoluem até hoje — do imaginário popular fermentado pelo medo e da tradição oral e escrita com que esses acontecimentos foram repassados no decorrer dos anos. É nesse terror não-ficcional que orbita Lore, baseada no premiado AND aclamado pela crítica podcast homônimo de Aaron Mahnke.
Criado em 2015 como uma experiência de marketing, cada episódio — com a locução do próprio Mahnke — examina eventos históricos que analisam o lado obscuro da natureza humana pela ótica do folclore, contando histórias de terror no estilão das experiências ao lado da fogueira — algo extremamente tradicional da cultura ANGLO-SAXÃ.
Em Outubro de 2017, a série já tinha mais de 5 milhões de ouvintes e acumulava prêmios do iTunes como “Melhor Podcast de 2015”, “Melhor Podcast de Histórias!” pelo Academy of Podcasters e foi incluído numa lista de melhores podcasts pela Entertainment Weekly e The Atlantic.
Foi com essa bagagem que Lore virou uma série, adaptada para o serviço de streaming da Amazon pelas mãos de Gale Anne Hurd, responsável por The Walking Dead, e tendo como showrunner Glen Morgan, de Arquivo X. Bem mais acessível para o fã do horror mundial, principalmente os que não dominam a língua inglesa.
São seis episódios de 45 minutos de duração cada em sua primeira temporada, que tem um ar meio “documentário de canais à cabo”, onde Mahnke narra alguma história real, dramatizada, e passa a inserir elementos mitológicos e folclóricos, e outros casos horripilantes devidamente documentados, para ilustrar a trama e tentar explicar a origem de algumas das lendas — urbanas ou não — mais conhecidas do universo terrorífico.
Por exemplo, no primeiro episódio, They Made a Tonic, ele usa casos de pessoas que sofrem de narcolepsia enterradas vivas para traçar um paralelo com a criação da lenda dos vampiros. Acontece o mesmo com o lobisomem e a besta interior humana, e passa pela suposta substituição de pessoas por “changelings” nos mitos irlandeses, os primórdios do espiritismo, comunicação com mortos e sessões mediúnicas – em um episódio estrelado por Robert Patrick – e a famosa lenda do boneco de marinheiro Robert, primo menos famoso da Annabelle, trazendo à pauta o medo irracional por bonecos e o ventriloquismo.
Os dados apresentados, as pesquisas, o uso de histórias reais, documentos, jornais, vídeos e tudo mais, entrecortados por animações e o fio condutor do episódio interpretada por atores, dão um toque interessantíssimo a Lore, para aqueles fanáticos por “causos reais” e na criação de mitos, independente de sua veracidade ou exagero. Além de contar com momentos que podem até causar um certo medinho naqueles corações mais incautos, como no caso do episódio Passing Notes – o mais bem produzido e com mais cara de filme de terror entre todos eles.
Série documental faceira, formato muito comum nos programas do Discovery ou History Channel, agora começando a ocupar um pedacinho do streaming, pra você assistir a tudo numa tacada só, Lore é um entretenimento honesto e até professoral, trazendo aquele tipo de conteúdo ideal para você bem levar para mesa do bar, falar com os colegas de trabalho, incluir nas rodas de bate-papo e afins para impressionar e, porque não, assustar o outro, sempre enfatizando que é baseado em fatos reais.
Chegando com bastante atraso na grade do ainda tímido serviço da gigante Amazon em terras brasileiras, Lore já teve sua segunda temporada anunciada para outubro deste ano (VEM NI MIM, HALLOWEEN!), mesmo mês de sua estreia na gringa. Só então aguardar quais serão os novos seis casos reais-oficiais de terror misturado com folclore que Mahnke irá narrar para nós, sentados não á beira da fogueira de um acampamento, mas atrás de uma tela. :)