As mamães da América estão preocupadas com o sexo dos Muppets | JUDAO.com.br

Pelo menos, é a justificativa da organização One Million Moms para dizer que não querem que seus filhos (e os de todas as outras pessoas) vejam a nova versão das criações de Jim Henson

“Finalmente, um programa de TV aberta com nu frontal”. O anúncio, estrelado pelo sapo Caco* pra falar a respeito da nova série dos Muppets foi a gota d’água. Não importa que o anfíbio, bom, não use calças e o diabo da piada seja esta. Foi a gota d’água – no caso, para uma organização chamada One Million Moms, que está lançando uma campanha contra a versão mais “adulta” da clássica obra dos estúdios de Jim Henson.

O grupo, um projeto da ONG cristã American Family Association que não tem em suas fileiras EXATAMENTE um milhão de mães, tem por objetivo “lutar contra a indecência” e “expor o lixo questionável oferecido pela mídia” (palavras delas, creiam) para preservar o entretenimento “limpo” para a família. “Acreditamos que um monte de papais e mamães vão ficar chocados quando descobrirem que aqueles Muppets feitos para a família na década de 1970 não existem mais”, diz o comunicado oficial do grupo. “A ABC arruinou os Muppets. Quantos pais querem ter que explicar piadas de cunho sexual para seus jovens filhos? Estes mesmos pais terão que explicar para as crianças confusas que o programa que elas podiam ver agora não é mais legal para elas”.

Para completar, eles oferecem uma série de contatos (e-mail, telefone, sinal de fumaça) para que os pais possam expressar a sua repulsa com esta ameaça à moral e aos bons costumes.

The Muppets

Os Muppets não são o primeiro alvo do One Million Moms, claro. Já estiveram em sua mira as séries Glee, Drácula (a versão mais recente, com Jonathan Rhys-Meyers no papel principal) e Good Luck Charlie (na qual uma personagem tem duas mães), as recentes iniciativas de inclusão e diversidade da Marvel e da DC, a apresentadora Ellen De Generes e até a tradicional parada do Dia de Ação de Graças da Macy’s (que teria a participação de dançarinos do musical Kinky Boots, da Broadway, que aborda temas relativos à comunidade LGBT).

Mas precisamos dizer que, neste caso dos Muppets, numa coisa, pelo menos, o One Million Moms tem razão: este programa não será mesmo adequado para crianças. Fato. E em NENHUM momento foi, desta forma, vendido pelo canal ABC. Trata-se de um programa metalinguístico com uma pegada de The Office, um falso documentário que registra o dia a dia de um talk show comandado pela porquinha Piggy e no qual seus amigos de espuma trabalham em diferentes cargos, como roteiristas e produtores.

Caco* e Piggy não são mais namorados – ele namora uma outra porquinha, Denise, que trabalha no marketing da emissora. Parece que Piggy tem um “rolo” com Topher Grace, que estrelava um filme épico com ela antes que a estrela aceitasse ir parar na TV. Fozzie namora uma humana e vai ter que enfrentar o preconceito da família dela. E Gonzo usa aplicativos do tipo Tinder para encontrar o amor da sua vida.

“Um absurdo que a Miss Piggy tenha se tornado uma feminista a favor do direito de escolha”, completa o manifesto contra os Muppets do One Million Moms, deixando claro que o tal “direito de escolha” é aquele a respeito da interrupção da gravidez. A referência diz respeito à uma entrevista concedida pela personagem à MSNBC, na ocasião em que recebeu o prêmio Sackler Center for Feminist Art’s First Award, em maio. “Eu sou a favor de tudo”, disse a porquinha. “Um programa que fale de aborto e promiscuidade não é próprio para crianças”, dizem as “milhões” de mamães, ainda sem saber se o diacho da série vai falar sobre isso porque – que rufem os tambores! – ela não estreou ainda.

Denise e Caco

Denise e Caco

The Muppets, que estreia nos EUA na próxima terça-feira (22), já não será, por definição, exibida em um horário focado no público infantil: 20h. Isso mesmo. A criançada deveria estar, pelo menos em teoria, começando os preparativos para dormir e não grudada na frente da televisão. Só que tem mais. Os dois longas lançados pela Disney, depois que a franquia foi comprada pela casa do Mickey Mouse, estão longe de ser “infantis”, repletos de referências à cultura pop e discussões filosóficas.

E... pode ser uma revelação terrível, mas é melhor lidar com isso, dói menos: Os Muppets não fazem parte da infância da molecada dos dias de hoje. “Aqueles Muppets feitos para a família na década de 1970 não existem mais”. É, não mesmo.

Pergunte pra qualquer criança, menino ou menina, quem diabos são Caco*, Piggy, Gonzo, Fozzie, Animal e aquela turma toda. Crianças entre quatro, cinco, seis anos de idade. Você vai descobrir que eles curtem a Peppa, o Ben 10, as Monsters High... Mas quem é Caco* mesmo? Meus filhos só foram conhecer os Muppets quando descobriram os bonecos que eu e minha esposa temos.

Os Muppets são uma lembrança emocional das nossas infâncias. Sabe quando foi o último programa frequente que os personagens tiveram na televisão? Em 1996. Exato: faz quase 20 anos. “Estes mesmos pais terão que explicar para as crianças confusas que o programa que elas podiam ver agora não é mais legal para elas”. Elas podiam ver? Quando? Em 1996? :)

Ah, mas eu tenho uma notícia boa para as One Million Moms: desde abril deste ano, a Disney está experimentando um formato chamado Muppet Moments, no canal Disney Junior (este sim, diferente da ABC, um canal INFANTIL). São pequenas vinhetas com os personagens, nas quais eles cantam, abraçam, contam piadas e brincam, sempre com um Muppet ao lado de uma criança, câmera simples, sem frescuras. Olha só. Se você gosta tanto dos Muppets, coloque seus filhos para ver ESTES vídeos. Ou, melhor ainda: que tal a Vila Sésamo, que também é criação dos estúdios de Jim Henson? Não seria uma programação muito mais, digamos, “limpa” para as suas famílias?

Até o momento, a ABC não se manifestou a respeito. Mas, sejamos honestos... nem precisa, né? E esperamos que não se manifeste!

Ah, sim, em tempo: esta nova série dos Muppets vai ser exibida no Brasil pelo canal Sony a partir do dia 20 de outubro, às 21h30. É, isso mesmo. No horário em que crianças deveriam estar dormindo.

* É, Caco, sim.