Ash vs. Evil Dead terminou da forma que viveu: GROOVY PRA CACETE! | JUDAO.com.br

Já pode sentir saudades de Ashley J. Williams, dos deadites, do Necronomicon, da motosserra, da boomstick e do Delta?

“Ash pode ser um bêbado, pervertido e racista, mas tem seus momentos de glória”. Essa frase, proferida pela personagem Kelly, interpretada por Dana DeLorenzo, resume perfeitamente o sentimento geral que temos sobre o personagem tiozão politicamente incorreto mais adorado do horror. Aquele misto de vergonha e orgulho daquele amigo antigo, que conhecemos há mais de 30 anos, e sabemos que tem o melhor coração do mundo por baixo de sua completa falta de traquejo típica do homem médio. E é hora de nos despedirmos dele mais uma vez.

De uma vez por todas.

Com o cancelamento sumário de Ash vs. Evil Dead devido ao baixo número de audiência da série que emenda a trilogia iniciada por Sam Raimi lá em 1981 e incorpora a eterna batalha de Ash Williams contra os deadites, ficaremos órfãos pra sempre de Bruce Campbell com suas piadas do pavê, os efeitos práticos, o caminhão de gore, a motosserra, a boomstick e o Delta, depois de um hiato de 23 anos desde que Uma Noite Alucinante 3 jogou o anti-herói na Idade Média.

Para se ter uma ideia, a estreia dessa terceira temporada, em Fevereiro deste ano, conseguiu atingir apenas 225 mil espectadores. Para efeitos comparativos, o debute da oitava temporada de The Walking Dead deu 8.3 milhões de espectadores, e vejam, foi a MAIS BAIXA da história desde a terceira temporada.

Aliás, audiência nunca foi o forte do show, para sermos francos. A base se dividiu entre 437 mil espectadores quando ela foi lançada lá no Halloween de 2015, para apenas 175 mil, quando foi decretado o cancelamento no episódio exibido em 15 de Abril de 2018. E bem, sabemos que os serviços de entretenimento não são organizações filantrópicas e, no final das contas, o que importa é o tal do break even e que os executivos ganhem dinheiro em suas empreitadas, o que está intrinsecamente ligado à quantidade de público que assiste a obra e assina o canal, e não que acompanhem por, digamos, outros meios.

Mas, deixando a tristeza de lado, ainda mais depois do emotivo depoimento de Campbell nas redes sociais, dizendo que Ash foi “o papel de sua vida” e que foi uma honra se reunir novamente com os parceiros de A Morte do Demônio, Rob Tapert e Sam Raimi, e dar aos fãs “um gostinho a mais da mistura de horror e comédia ultrajante que eles pediam”, ficou ali uma sensação de dever cumprido.

A terceira temporada da Ash vs Evil Dead mantém o pé no acelerador e não poupa esforço nenhum de trazer ainda mais momentos constrangedores (a sequência no banco de esperma e a batalha contra um bebê demônio enfiado dentro de uma voluptuosa escandinava sem cabeça não me deixam mentir) e não ter a menor parcimônia em derramar litros e mais litros de sangue e gosma, principalmente na cara dos personagens, marca registrada desde os longa metragens.

A série ainda consegue humanizar ainda mais a figura de Ash, lhe jogando aos ombros o peso da paternidade ao descobrir uma filha adolescente – cuja mãe é assassinada pelos deadites logo no primeiro episódio – e ter que dividir as responsabilidade de ser pai e salvar o mundo de uma vez por todas dos demônios kandarianos e de criaturas terríveis conhecidas como Seres das Trevas que, se tomarem de posse do Necronomicon, levarão o mundo à DANAÇÃO. Aqui, Ash finalmente deixa de lado sua hilária arrogância egoísta (como vista no final da primeira temporada, por exemplo) para assumir mais uma vez o papel de herói predestinado.

Mesmo sem o menor jeito para isso.

Tudo, é claro, ancorado pelos seus famosos sideckicks, os “Batedores de Fantasmas”, Pablo e Kelly, a filha Brandy à tiracolo e a ajudinha de uma ordem templária secreta conhecida como Os Cavaleiros da Suméria, criada há milhares de anos para ajudar o Predestinado a cumprir sua cruzada na luta contra o Mal, com letra maiúscula.

Ash vs Evil Dead diverte pacas, tem uma trilha sonora afiadíssima e não deixa na mãos os fãs do splatter e do pastelão, apesar de terminar deixando um PUTA cliffhanger maneiro, que seria divertidíssimo para uma quarta temporada – uma viagem no tempo inversa ao que acontece em Uma Noite Alucinante 3 — que poderia até ser a derradeira, evitando a armadilha da série trazer o mais do mesmo sempre, que foi basicamente o plot dos 30 episódios de duração. Os próprios produtores do show disseram que não sabiam se teriam ou não uma quarta temporada, por isso, o final cumpre seu ciclo para ambos os casos.

O retorno ao universo de A Morte do Demônio se encerra com um largo sorriso no rosto e mais uma dose de saudades e futura nostalgia no ar. Quem sabe algum desses serviços de streaming da vida não resolve salvar a série e trazê-la para essa última temporada? Se não, cabe enxugar mais uma vez o rosto sujo de sangue e meleca, e agradecer por ter vivido no mesmo tempo e universo que Ashley Joanna Williams.