Assim como acontece nos cinemas, 2017 não é um bom ano para as comic shops dos EUA | JUDAO.com.br

Mercado tem o pior trimestre em 20 anos – e, no acumulado do ano, há uma queda de 10% em relação a 2016

Os bons anos para o mercado direto de quadrinhos dos EUA podem ter ficado no passado. Se as comic shops acumulavam um crescimento nas vendas desde 2011, 2017 tem tudo para ser o primeiro ano negativo desde então. E a tendência foi confirmada com os números de Agosto, divulgados pela distribuidora Diamond e DEPURADOS pelo ComiChron.

De acordo com as estimativas, Agosto teve uma queda de 21% no faturamento das comic shops, considerando revistas mensais, graphic novels e tudo mais, comparando com o mesmo mês do ano passado. Contando apenas os 300 gibis mensais mais vendidos do mês, o número de cópias vendidas caiu 30% em relação a Agosto de 2016. No geral do ano, a queda total está em 10%.

Esse foi o terceiro mês consecutivo de queda, movimentando 20% a menos que o período entre Junho e Agosto de 2016 – é a primeira vez isso acontece desde novembro de 1997, há quase 20 anos.

(Se você é daqueles que se liga da disputa entre editoras, a Marvel teve 39% dos exemplares vendidos, contra 31% da DC. Já no faturamento, a Casa das Ideias ficou com 35% dos dólares, com a Casa do Superman abocanhando 28%).

Lembrando que todos os números são de vendas das editoras para os lojistas, que assumem os riscos e o encalhe – diferente do que acontece no Brasil. Ainda assim, pela conta da lei de oferta e demanda, tais dados costumam ser próximos da realidade, de vendas efetivas para os leitores.

Há, claro, algumas justificativas para essa queda. Pelo copo meio cheio: o segundo semestre do ano passado foi muito forte, com a DC recuperando terreno com o Rebirth, enquanto a Marvel publicava Civil War II. Agora em 2017 não há nada na DC Comics com o mesmo peso, mesmo considerando que Dark Nights: Metal #1, primeira edição do novo crossover centrado no Batman, teve quase 262 mil exemplares vendidos – só que não há o mesmo apelo para o resto da linha. Pelos lados da Marvel, Secret Empire não conseguiu conquistar os corações dos leitores, o que foi uma pena.

O encontro entre as gerações de Wolverines foi o quarto mais vendido em agosto

De qualquer forma, a nova fase da Marvel, pós-Secret Empire, deve movimentar mais as coisas a partir de setembro, assim como o maior número de títulos relacionados a Dark Nights: Metal, pelos lados da Distinta Concorrência. Isso sem falar que, em novembro, começa Doomsday Clock, que deve turbinar bastante as vendas de Superman e companhia. Com sorte, isso poderá fazer com que 2017 empate com 2016.

Já o lado do copo meio vazio: Secret Empire falhou nas vendas. Generations, que resgata as versões originais de heróis como Wolverine e Thor, também não decolou em Agosto. Se isso não aconteceu até agora, é difícil imaginar que irá acontecer nos últimos quatro meses do ano. Se for assim, o mercado direto voltará aos mesmos níveis de venda registrados em 2014.

Também podemos dizer que a “crise” não é só do mercado de quadrinhos: o pessoal de Hollywood também está suando frio este ano. De acordo com a Fortune, a queda geral de bilheterias deste último verão foi de 16% em relação ao mesmo período do ano anterior. É mais do que o pessoal de quadrinhos está sentindo, e talvez demonstre que 2017, por uma série de fatores, está sendo complicado para o mundo do entretenimento.

No entanto, há uma terceira via. O ComiChron também divulgou recentemente os números gerais de 2016, em parceria com o ICv2, incluindo outros canais de vendas, como digital e livrarias. No período, todas as vendas subiram 5% – de US$ 1,03bi para US$ 1,085bi. Só que, veja bem, o faturamento em comic shops ficou estagnado – foram US$ 570 milhões em 2016, o mesmo número de 2015. Nas versões digitais, também ficou tudo igual: US$ 90 milhões.

Quem puxou o crescimento foram, mesmo, as livrarias, que sozinhas subiram 16% nas vendas de graphic novels e encadernados.

Foram as livrarias que puxaram o crescimento em 2016, o que tem tudo para se repetir em 2017

Dá pra dizer que há uma importante mudança de comportamento: os leitores estão deixando de lado as tradicionais lojas com novas edições todas as semanas e comprando encadernados completos via internet ou livrarias físicas. Ou seja,são esses pontos de venda que estão formando novos leitores, enquanto as comic shops seguem lidando com a mesma galera de sempre – que provavelmente comprou tudo de Rebirth ano passado e agora está reclamando de Secret Empire.

No final, talvez não seja nenhuma tragédia ou rejeição. É, apenas, uma mudança de comportamento, com o dinheiro (e o público) vindo por outro lugar. Dá pra dizer que é um movimento parecido com o do cinema: enquanto as bilheterias caíram em 2017 e, até agora estão em U$ 7 bilhões, o Statista informa que o faturamento do vídeo on demand este ano vai subir 5% só nos EUA – chegando à marca de US$ 10 bilhões.

Reutilizando o que Lavoisier disse, há dois séculos, “nada se perde, tudo se transforma”.