Entre clichês e a dura realidade dos (ex) jogadores do esporte, a série vai brincando com os bastidores da NFL
O mundo dos esportes tem bastante glamour. Não, não tô falando do Juventus da Mooca ou do Campeonato Paulista, mas sim dos grandes campeonatos dos Estados Unidos e da Europa. O futebol americano, por exemplo, movimenta US$ 10 bilhões para a principal instituição do esporte, a NFL, enquanto o Super Bowl é assistido por 115 milhões de pessoas nos EUA. Em alguns lugares do país, o esporte é praticamente uma religião.
Não é pouca coisa.
Só que, na real, muita coisa se esconde por de baixo desse glamour – e é o que veremos, pelos olhos de The Rock, na série Ballers, que estreia no Brasil e nos EUA no próximo domingo (21). As gravações rolaram em Miami, que é onde a série se passa, e não só o próprio Dwayne Johnson atua como produtor executivo, mas também o Mark Wahlberg (além de mais uma galera), o que faz com que qualquer semelhança com Entourage não seja mera coincidência.
The Rock interpreta Spencer Strassmore, um ex-jogador da bola oval que, ao se aposentar, foi procurar outras formas de ganhar dinheiro – afinal, as contas continuam chegando e, bom, ele provavelmente não guardou nenhum dinheiro durante a carreira. Sobra a função de analista financeiro, daqueles que vende produtos como seguros, investimentos, essas coisas. Com vários contatos no mundo do futebol, cliente é o que não deveria faltar.
E é essa visão, mais vivida, do cara que tem que continuar os contatos pra fazer o seu trabalho, que vai levando a série, que deixa de lado o jogo em si e foca no que rola fora de campo, ao menos pelo que pudermos conferir no primeiro episódio. Spencer vai cruzando o caminho com diversos jogadores em atividade, como um que morre num acidente com a amante, deixando todo um rolo financeiro para a esposa (Tina, interpretada por LeToya Luckett); ou como Charles Greene (Omar Benson Miller, que talvez você conheça de CSI: Miami), que se vê obrigado a se aposentar antes da hora e trabalhar num emprego normal, como eu ou você.
De todos os personagens que aparecem nesse primeiro episódio, talvez o mais interessante seja mesmo Ricky Jerret – interpretado por John David Washington, que é realmente um ex-jogador da NFL, com passagem pelo St. Louis Rams, além de ser filho do Denzel Washington. Ricky tem aquele estilão que, aqui no futebol brasileiro, seria algo na linha de Edmundo, Romário ou Vampeta: fala um monte, trepa um monte, se mete em confusão aos montes... Sim, eu sei, parece meio clichê. E é.
Tudo pode parecer até normal pra um esportista famoso, ainda mais aqui no Brasil, mas é algo que, claro, acaba atrapalhando a própria carreira do jogador, já que os americanos são bem mais exigentes quando esse tipo de comportamento se torna público. Ricky se vê sem contrato, justamente naquele TERÇO FINAL da carreira profissional – e vai precisar da ajuda do amigo Spencer e de JUÍZO pra chegar bem ao fim dessa carreira. É aí que, até onde vimos, a história vai fugindo desse clichê habitual.
Entre sexo, dinheiro e festas (não necessariamente nessa ordem), já deu pra reparar pela deixa no primeiro episódio e pelos trailers que Spencer também pode estar lidando com um problema que tem cada vez mais assombrado atletas e ex-atletas do football: a Chronic traumatic encephalopathy (CTE), causada pelo efeito no cérebro das inúmeras pancadas que vão levando durante a carreira.
Essas (e outras) histórias paralelas vão rolando com um roteiro até que bem ágil, sem tanta enrolação. Pra você ter uma ideia, o primeiro episódio tem cerca de 30 minutos corridos, sem intervalos, pra contar até que bastante coisa do enredo. Como a primeira temporada terá 10 episódios, vai dar pra, depois, fazer uma maratona e ver um “filmão” com cerca de 5 horas.
O que também provavelmente ajuda a série a funcionar é que, de alguma forma, ela é um pouco autobiográfica. Dwayne Johnson já foi jogador de futebol americano — ele fez parte da liga universitária pelo Miami Hurricanes (sendo campeão nacional em 1991!) e jogou profissionalmente na Canadian Football League. Por azar (ou sorte, vai saber), Johnson não teve muito sucesso no esporte e resolveu, assim como o seu personagem na série, seguir outra carreira. No caso, o novo caminho foi o mesmo o do pai e do avô, entrando pro pro-wrestling. O resto, bom, é HISTÓRIA. ;)
E assim é Ballers. No final, o que vai ficar não é nada memorável. Vai ser aquele mistão de comédia com drama, com bastidor esportivo ficcional e tudo mais. Um legítimo entretenimento de domingo, principalmente pra depois do ~nosso futebol...