Os Superamigos do Bairro do Limoeiro | JUDAO.com.br

Lemos as edições de dezembro do maravilhoso projeto que apresenta a Liga da Justiça à Turma da Mônica e o que podemos dizer até agora é que o resultado é EXATAMENTE o que a gente queria

Uma das matérias mais lidas de 2018 sobre quadrinhos aqui no JUDAO.com.br foi o papo que batemos com a galera da Mauricio de Sousa Produções pra saber mais detalhes dos bastidores do crossover com os personagens da DC Comics. Quase quatro meses depois, estamos aqui pra falar com total propriedade do chamado Grande Encontro, que ocupou a história principal + capa de todas as revistas de linha da Turminha ao longo do mês de dezembro, além de uma primeira parte da trama da Turma da Mônica Jovem, que se completa só em Janeiro.

A gente teve a chance de ler os sete gibis numa tacada só e podemos dizer: o resultado é rigorosamente o que se esperava do projeto. Sério, sem exagero. A começar pelo fato de que, caso você seja um dos poucos que não sacou isso de primeira, estamos falando de histórias da Turma da Mônica só que com os personagens da DC como coadjuvantes. Ponto. A DC aqui é meramente um FEAT. Isso significa, por exemplo, que você está aqui pra se DIVERTIR e deixar de lado, ora veja, esta tara neurótica por cronologia. É, sim, eles se encontram com a Liga completa na revista Turma da Mônica mas quando o Flash aparece pra Magali ou o Lanterna Verde surge diante do Cebolinha, parece que eles não se conhecem. E no caso da Turma da Mônica Jovem, que é o futuro da turminha, a mesma observação valeria. E... honestamente? TUDO BEM.

O ritmo é todo da turminha, bem mais comédia do que ação/aventura, com o humor cheio de pirações, a doce inocência infantil e o coração repleto de amor, todos tipicamente nacionais, do Bairro do Limoeiro que a gente queria ver permeando as relações entre heróis e vilões multicoloridos e uniformizados em suas eternas lutas do bem contra o mal. Aliás, dá até de fato pra DIVIDIR as histórias destas sete edições justamente nestes três pilares que eu mencionei acima. Começando pela “doce inocência infantil”, temos aquelas tramas que, além de terem o Xaveco tentando bancar o herói no pano de fundo dos quadros (é sério, pode reparar), parecem “menores”, mais autocentradas nas características de cada personagem, pra você ler, dar umas risadas e seguir em frente.

No gibi da Magali, por exemplo, na história Muita Fome Para Muita Velocidade, o Flash aparece e a gente relembra que, graças ao seu metabolismo acelerado, Barry Allen come tanto quanto a dona do Mingau — felino que, aliás, atrai a presença de uma certa Selina Kyle, que ama estar cercada de bichanos. Já na revistinha do Cascão, em O Mestre dos Mares, a MSP parece ter seguido a sugestão deste que vos escreve (cof cof) e traz o Aquaman para encarar o vilão Cúmulus, enquanto o nosso simpático sujinho tenta responder perguntas cruciais sobre Arthur Curry: ele bebe água salgada? Faz xixi no mar?

No título solo da Mônica, as coisas já se ampliam um tantinho em O Plano Infalível e a Lanterna Verde — que, pelo batismo, já dá meio pra sacar do que se trata. O Cebolinha cria mais um de seus planos, enrola o Anjinho para que ele participe sem perceber, só que aí a bateria de Hal Jordan entra na dança. Rapidamente o herói surge atrás dela e então o menino dos cinco fios percebe que aí pode existir uma chance de colocar o homem do anel esmeralda contra uma certa dona da rua. No fim, a Mulher-Maravilha também pinta na área e rola até uma briga entre os dois integrantes da Liga, fazendo com que um malfeitor que atende pelo nome de Capitão Feio resolva enfim enfrentar um super-herói de verdade.

Ou talvez dois.

A parte que diz respeito ao “humor cheio de pirações” tá basicamente concentrada nos títulos Turma da Mônica e Turma da Mônica Jovem. E bota piração nisso, aliás. É neles que estão as maiores histórias e também as com maior quantidade de personagens, eventos épicos e uma dezena de referências, algumas sutis, outras esfregadas bem na sua cara, pra ninguém botar defeito. Você até meio que perde a respiração. Em comum entre elas, a presença de Mister Mxyzptlk, o duende interdimensional que leva a galera para uma série de viagens pelo espaço-tempo, na melhor tradição da DC Comics... só que tudo sendo conduzido pelos jovens brasileiros que, sim, são leitores das histórias de Superman e cia.

Em O Níver, com a versão pequena da turminha, o próprio Mauricio, que é bróder do Super, leva suas criações para a Fortaleza da Solidão, graças a uma carona do Astronauta, pra celebrar o aniversário do Homem de Aço. Só que quem está lá pra estragar tudo? Mongul, vilão das antigas que, de imediato, todo mundo confunde com o Darkseid. E tudo se inicia meio que replicando Para o Homem Que Tem Tudo, história clássica escrita pelo Alan Moore.

Mônica, Magali, Cascão, Cebolinha, Xaveco, Marina, Dudu e Bidu, devidamente fantasiados como os heróis da Liga, vão esbanjar metalinguagem pra todos os lados, com uma metralhadora de diálogos ágeis e as mais diferentes (e reconhecíveis) versões das roupas dos heróis, indo da Zona Fantasma (com a presença do Penadinho, ÓBVIO) até momentos icônicos como Silêncio, Cavaleiro das Trevas, Os Novos 52, A Morte do Super-Homem e afins. Destaque para a maravilhosa utilização do Bugu na trama (rápida, mas simplesmente genial) e para o aguardadíssimo diálogo entre o Xaveco e o Aquaman, de personagem subestimado pra personagem subestimado.

Aliás, esta dupla TAMBÉM protagoniza um momento incrível e imperdível nas páginas da Turma da Mônica Jovem, em Odisseia Infinita — que, neste caso, trata a turma da DC Comics como um grupo de personagens que vem de OUTRA dimensão. O conceito de Multiverso é totalmente extrapolado, misturando uma caixa materna, Mxyzptlk e um artefato da quinta dimensão chamado, está preparado?, Kirbyrilium. A ideia é ajudar uma coalizão de vilões (que inclui Lex Luthor, Coringa e Darkseid) a mandar os heróis para ficarem presos numa dimensão na qual não existem heróis. Rola um forrobodó master (valeu, Magali) e acaba que a Arlequina tem que cuidar da caixa materna, caindo no meio do Bairro do Limoeiro. Ela e o Átomo, né. Mas este é um lugar no qual vive o Cascão, nerd de carteirinha, que manja dos nomes, poderes e acontecimentos da DC Comics como a palma de sua mão encardida.

O mais legal desta história da TMJ é que, além de termos duplas formadas por um herói da Liga + um personagem teen da MSP atuando juntas (o Lanterna Verde atuando com a Marina, que é desenhista, por exemplo, funciona que é uma beleza), o roteirista Flávio Teixeira faz uso bastante inteligente de uma das paradas mais geniais do título: a arqueologia da própria MSP. Sim, temos referências mil aos personagens (incluindo os mais B) e sagas da DC Comics. Mas também MUITAS envolvendo antiguidades heroicas da mitologia da Turma da Mônica. Estão lá vilões locais além do Capitão Feio, como o Rei do Fogo, a Bruxa Vivi e o Doutor Spam. E que papo é esse de que não temos heróis no Limoeiro? Afinal, como você chamaria um cara como o Astronauta, por exemplo? <3

Por fim, chegamos às histórias que atendem diretamente ao lado mais “coração repleto de amor” deste projeto todo. E se você tiver, por qualquer motivo, que escolher dois gibis pra começar a comprar esta coleção, sugiro MESMO que comece pelos do Cebolinha e PRINCIPALMENTE pelo do Chico Bento.

Eu Trabalho Sozinho, a história na revista do filho do Seu Cebola, começa de maneira quase que surreal, com Bruce Wayne em pessoa comparecendo pra inauguração de um Ginásio Poliesportivo no Bairro do Limoeiro. Mas, na sua cola, chega a Arlequina, que tem sua própria agenda particular pra dar cabo por lá. Quando ela comete um ato criminoso que, de verdade, chega a dar um ar carregado, triste, quase sombrio pro gibi (juro!), somos levados a duas páginas lindas, tocantes, que exploram mais o relacionamento entre o Cebolinha e a Mônica. Mas conforme você vai lendo, saca que elas se referem a um momento lendário de um dos melhores gibis do Cavaleiro das Trevas e a tensão, ufa, se torna humor, ainda bem.

De uniforme mais Tim Drake, Cebolinha resolve se tornar o Robin pra dar aquela força pro Batman na resolução do problema com a Harley. Só que ele não é o único. Vestida num uniforme que mistura a roupa tradicional de Dick Grayson com a da Carrie Kelley, a Mônica também quer ajudar. Ela e o Cascão, que prefere uma abordagem diferente e chega vestido de Asa Noturna. A história é surpreendentemente fofa porque, porra, tamos falando do Morcegão, né? Mas o trio de aspirantes a heróis querendo ajudar uma amiga, mesmo sem pensar muito nas consequências, trazem uma doçura com a qual é impossível não se encantar.

E aí que chega Esperança, no gibi do Chico Bento, o caipirinha que não tinha sido envolvido nos encontros com a Liga até então. E dá pra entender o motivo. Que momento lindo, sublime, sem exagero. O roteiro de Carlos Estefan nos entrega uma história com um coração do tamanho do mundo — melhor do que MUITA coisa que a própria DC vem publicando recentemente, vamos combinar.

Nem quero contar muito pra não tirar a sensação de surpresa de cada um de vocês, mas dá pra dizer que estamos falando de uma história sem supervilões e na qual Superman e Mulher-Maravilha passam a maior parte do tempo como Clark e Diana. A conexão do passado do Homem de Aço em Smallville com a calma e quietude do sítio dos pais de Chico funciona lindamente. E o final... mexeu comigo. Me fez chorar de verdade.

Esta revista do Chico, aliás, é a metáfora perfeita para todo o restante deste Grande Encontro. Temos uma série de heróis icônicos para a cultura pop mundial não chegando pra chamar atenção com seu brilho próprio, mas sim para se curvar diante de ícones ainda mais importantes para a NOSSA cultura pop. Eles são heróis que, enfim, vieram reconhecer a força dos NOSSOS heróis.

Já não era sem tempo.