Bob e Raul: os 70 anos dos Reis dos outsiders | JUDAO.com.br

De um lado temos um artista global. Maior ícone do reggae, maior superstar do chamado terceiro mundo. Do outro temos um artista local. Ícone dos anos 70, autor de dezenas de hits da música brasileira. Veterano do rock que nunca se limitou às convenções do estilo, abraçando a música regional sem restrições.

OBRAS DO ACASO De um lado temos um artista global. Maior ícone do reggae, maior superstar do chamado terceiro mundo. Criador de dezenas de hits imortais. Peça fundamental de uma religião controversa. Símbolo estampado em milhares de produtos. Gravado por lendas como Eric Clapton e Gilberto Gil.

Do outro temos um artista local. Ícone dos anos 70, autor de dezenas de hits da música brasileira. Veterano do rock que nunca se limitou às convenções do estilo, abraçando a música regional sem restrições. Se envolveu com religiões controversas e com magos polêmicos.

Como pontos em comum, ambos tiveram sua obra tocada à exaustão. Costumam ser associados a fãs meio malucos, cantando a plenos pulmões as profundas mensagens que pregavam. Graças a esses fãs, recebem olhares meio tortos de parte de uma dita elite cultural.

Como pontos divergentes, enquanto Bob Marley ocupa hoje capas de revistas e tem seu legado celebrado em todo o Planeta, Raul Seixas ainda sofre para ter o valor de sua obra reconhecido em seu próprio país.

Mais novos que Mick Jagger

Bob e Raul, neste 2015, completariam 70 anos. Seriam mais novos que Mick Jagger, por exemplo. Infelizmente, tombaram diante de seus objetos de adoração. Bob, cego pela religião, viu um dedo do pé inflamado se transformar no câncer que o matou. Raul, cego pelo álcool, bebeu até o fim após agonizar em praça pública.

Dois artistas tematicamente tão distantes, mas que tocaram o coração de gerações de “outsiders”. Maconheiros, roqueiros, malucos, satanistas, libertários, rastas, hippies. Pessoas que se identificaram com dois dos maiores talentos artísticos de todos dos tempos. Comendo a prato pleno o que poderia ser o veneno de alguns.

E está aí o imenso valor de Bob e Raul. Criar hinos do inconformismo. Seja através do discurso político e religioso ou do niilismo libertador. E apontar um caminho para aqueles que sempre se recusaram a receber ordens de para onde ir.

Bob Marley

Bob conseguiu transpor mais barreiras que Raul. O jamaicano concilia o popular e o cool. Infelizmente, o brasileiro ainda segue tendo sua obra olhada como certo desdém, mesmo dentro do espectro do rock nacional.

Então eu desafio aqui você a ultrapassar a barreira dos hits que você não aguenta mais. O Spotify e congêneres nos possibilita reavaliar discografias com uma facilidade inacreditável. E Raul é o artista perfeito para isso.

Toca Raul!

O essencial da sua obra está em quatro discos, lançados entre 1973 e 1976: Krig-Ha, Bandolo!, Gita, Novo Aeon e Há 10 Mil Anos Atrás. Desbrave esses discos. Descubra obras primas como Paranóia, Sunseed, Eu Sou Egoísta, Rockixe, Canto para Minha Morte, How Could I Know, Meu Amigo Pedro… E aproveite para se encantar com a absolutamente brilhante e maravilhosa Ouro de Tolo.

Krig-ha, bandolo!

Na semana passada, a Globo fez uma “incrível” homenagem aos 70 anos do Raul exibindo o documentário Raul Seixas — o Início, o Fim e o Meio ÀS DUAS DA MANHÃ. Se você não conseguiu ver PORQUE É UMA PESSOA NORMAL QUE PRECISA DORMIR ANTES DE COMEÇAR A SEGUNDA-FEIRA, procure outras fontes para assistir.

Seguindo uma série de incríveis documentários musicais lançados nos últimos anos no Brasil, Raul Seixas é importantíssimo para recolocar o cantor no lugar onde ele merece estar.

Após ouvir os discos e ver o documentário, não se assuste quando você for o próximo maluco gritando “toca Raul” por aí.

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