Cafona e longe de ser Velozes e Furiosos, Hobbs & Shaw é ridiculamente divertido | JUDAO.com.br

Não dá pra fazer Velozes e Furiosos sem Vin Diesel, e The Rock parece querer um “Dwayne Johnson & Friends”. Mas, fora isso… :D

Vamos começar tirando algumas coisas aqui da nossa frente, só pro caso de você ser algum tipo de purista: apesar do que se vê no título, apesar do nome dos personagens, apesar de todas as brigas de bastidores, Hobbs & Shaw não é um Velozes e Furiosos.

Trata-se de um filme que, no monólogo mais cafona da história do cinema recente (o bom de dizer “cinema recente” é que eu não preciso me preocupar com qualquer data, reparou?), afirma com todas as letras que o “homem não precisa de máquinas, apenas de coração”. E, assim: a gente pode não lembrar disso às vezes, eu mesmo já tinha me esquecido... Mas, definitivamente, carros e demais veículos automotores são a BASE de um Velozes e Furiosos.

Eu sei, soa óbvio pra um caralho. Meio imbecil da minha parte, até. Mas eu nunca tinha assistido a um filme dessa franquia sem que os carros tivessem um mínimo de importância. Eu nunca me preocupei com eles, a bem da verdade. Mas as pistas, o que se resolve nelas e com elas, é o que faz Velozes e Furiosos ser Velozes e Furiosos (e sim, quando eu digo “pistas”, eu posso estar dizendo “deserto”, “neve”, “céu”).

Carros, pistas e, olha só, Vin Diesel. O baixinho transforma toda a papagaiada de amor e família em algo que até parece emocionante, ao contrário do que Dwayne Johnson faz aqui (com “Producers Guild of America” nos créditos e tudo). É como aqueles ~bom dia de WhatsApp: quando a sua vó te manda, apesar de brega, é fofo; quando um amigo te manda, a sério, é só ridículo.

Em resumo, Velozes e Furiosos: Hobbs & Shaw é apenas e tão somente um cara colocando seu ego pra malhar, enquanto produz e estrela um filme de uma das franquias mais lucrativas de todos os tempos — isso depois de surgir quietinho, sendo aquele ator que fica no canto e calado durante a coletiva de imprensa (eu sei porque eu estava lá).

Mas não tem ninguém aqui dizendo que isso é necessariamente ruim, quero deixar bem claro. :)

Sei lá eu se por sorte ou carisma, mas o fato é que, desde o quarto filme, a série Velozes e Furiosos cresce em todos os sentidos, pra todos os lados — tanto que a discussão sobre um próximo capítulo se passando eventualmente no ESPAÇO parece até óbvia e natural. Hobbs & Shaw é como uma espinha surgida nesse crescimento, que acabou se formando no meio da testa e ganhou vida própria (algo que, sabemos, acontece com certa frequência na adolescência).

O Luke Hobbs do The Rock não parece nem de perto o policial do quinto filme. Claro, o que acontece nas outras três produções já mostra que o cara é a parte branca dessa espinha, crescendo sozinho num lugar que não comportava seu tamanho, suas ideias e, claro, seus amigos... Mas aqui ele foi longe. Literalmente, até. Já o Deckard Shaw do Jason Statham se parece apenas com o Jason Statham interpretando todos os seus personagens, o que por mim tudo bem; o problema é que essa soma de personagens e pessoas não gera lá uma química muito grande.

A tentativa de fazer com que eles demonstrem o ódio que sentem um pelo outro é um tanto ridícula, vergonhosa até. Não existe a HONRA DAS PISTAS pra mostrar / definir quem é melhor. Sobram apenas os músculos dos dois, piadinhas um com o outro, e momentos para Dwayne “The Rock” Johnson mandar aquele abraço pra quem é fã do cara desde os tempos da WWE. Precisa? Absolutamente não. É legal? Bem... Eu talvez não quisesse dizer isso, mas... Sim. :D

Aí temos Idris Elba e seu Black Superman que, até com música nos créditos, parece que tava lá se divertindo horrores enquanto paga seus boletos. Veja: ele tá atrás de um “vírus mortal” que será usado pela “causa”. São as coisas mais simplistas que alguém poderia inventar pra um vilão jogadas ali. Me lembrou até um pouco a série 3%, que segue a mesma escola de preguiça de roteiro. A diferença é que, em Hobbs & Shaw, isso acaba somando à cafonice extrema da produção. ;D

Oi? Vanessa Kirby? Rapaz, bem lembrado, ela tá no filme sim. Mas, apesar de todo o treinamento e história da sua personagem, ela é tratada apenas e tão somente como um FRASCO que precisa ser protegido. É um pouco ridículo, olhando pra trás, por mais que as discussões entre Hobbs e Shaw te desviem a atenção disso. :P

Dirigido por David Leitch, Hobbs & Shaw é quase que 100% ação, daquelas bonitas, bem coreografadas, com momentos maravilhosamente icônicos — a treta final entre os três, heróis + vilão, por exemplo, é pra nunca esquecer. Cansa um pouco porque a história não ajuda muito, mas ainda se trata de um filme dirigido pelo mesmo cara que nos deu John Wick e Atômica.

Eu só mordo minha língua aqui porque eu sempre disse que ele era o melhor da dupla que formou com Chad Stahelski no primeiro John Wick. Não. Ele é um ótimo diretor de ação, isso é inegável; mas PUTAMERDA como eu queria que eles dois se juntassem novamente num projeto qualquer. O cinema MERECIA isso, sabe? O cinema e nós, que veríamos filmes perfeitos... Exatamente como John Wick. :P

Hobbs e Shaw é como uma daquelas espinhas que surgem na nossa adolescência, que ficam tão grandes que adquirem vida própria. The Rock é, claro, a parte branca dela.

Hobbs e Shaw conseguiu renovar a Fórmula Marvel, com cenas antes, durante e depois dos créditos — se bobear tem alguma subliminar, ainda. Fica claro ali que sim, teremos mais filmes desses; que sim, vai haver um CROSSOVER REAL OFICIAL com a franquia original, com algum vilão (ou herói?) antigo reaparecendo; que pelo menos uma das participações especiais desse filme vai ganhar importância maior nas sequências e que a outra, vinda diretamente de um filme dirigido por Leitch, precisa se tornar algo além disso.

Mas, o principal de tudo, é que temos em Hobbs & Shaw um caminho pra uma OUTRA franquia que tenha uma história focada unicamente na diversão... Mas é só um caminho. Hobbs & Shaw precisa ser alguma coisa além de “The Rock e seus amigos se divertem” e, também, se DESVINCULAR de Velozes e Furiosos. Não que esse filme especificamente já não tenha feito isso, ainda que sem querer... Mas enfim.

Até lá, a gente fica com o que temos. Por mim, tudo bem. :)