Fomos até o próprio Anel de Fogo do Pacífico pra ouvir Guillermo Del Toro falar, ensinar e empolgar todo e qualquer fã de robôs e monstros — e ainda conversamos com ele, Charlie Hunnan, Rinko Kikuchi, Ron Perlman e o produtor Thomas Tull sobre o que Círculo de Fogo é e o que pode se tornar um dia :)
SAN FRANCISCO, EUA ~ Pornografia, do grego pornographos: escrever (graphein) sobre meretrizes (pornē). Escritos, imagens, filmes e etcetera feitos para estimular a excitação sexual; produção desse material. Foi assim que Guillermo Del Toro definiu o trabalho realizado em Círculo de Fogo em pelo menos duas oportunidades — e que eu estive presente.
A primeira foi em 2012, durante a San Diego Comic-Con, quando foram exibidas as primeiras imagens do filme e o diretor teve a chance de comentar sobre as comparações com outras coisas, tipo Evangelion; e a segunda foi no final de Julho, durante uma apresentação especial para alguns jornalistas de todo o Mundo dentro da Industrial Light and Magic, em San Francisco.
Depois de passar por uma estátua do Mestre Yoda, um Darth Vader em tamanho real e muitos, muitos pôsteres de muitos, muitos filmes, e ainda dar um jeito de conseguir uma foto da minha identidade, que ficou sem querer no Brasil (o passaporte estava no hotel e eu só descobri que a minha carteira não tinha nem dinheiro nem minha identificação chegando LÁ), fomos concentrados entre comidas e diversos “props” de diversos filmes — como por exemplo o T-Rex de Jurassic Park na sua versão “pronta”, na versão “animatronic” (só o esqueleto) e na versão “só o pé”. Eu não sabia se comia ou se ficava ali de boca aberta, babando naquilo tudo, que é SÓ uma demonstraçãoZINHA do que se pode encontrar lá dentro.
Em cada um dos corredores, em cada uma das entre-salas, em cada canto daquele campus você encontra pelo menos UMA coisinha que você já viu em pelo menos UM filme. Encontrei por ali o E.T, o Geleia, os velhinhos de Cocoon (!), o vilão de Roger Rabbit atropelado, trocentos carros, naves, modelos, monstros, bichos. É um paraíso que, infelizmente, não tínhamos tempo pra parar e fotografar — mas conseguimos, pelo menos, postar algumas imagenzinhas no nosso Instagram.
Tanta pressa era por conta do tempo relativamente contado em que aquele tanto de gente, divido em dois grupos, teria pra assistir a outras duas apresentações — uma de Alex Jaeger, diretor de efeitos especiais da ILM, responsável pelos (adivinha só?!) Jaegers, e outra de Paul Giacoppo, supervisor de modelos de criaturas digitais, responsável pelos Kaijus.
Nessas apresentações, vimos diversas imagens conceituais e de story boards, além de desmonstrações “ao vivo” de como aqueles Jaegers funcionam — os movimentos, os pesos, o fato de terem desistido de fazê-los voar justamente por isso — e de como os Kaijus foram formados, desde as animações mais simples à musculatura, veias e pele, inspirada em animais do mundo real.
Interessante perceber o quão felizes aqueles caras estavam com a oportunidade de fazer aquilo — especialmente com um diretor como Guillermo Del Toro que, segundo eles, fala a mesma língua; enxerga as mesmas coisas; PARTICIPA de fato daquelas coisas.
E toda essa animação e empolgação com a produção nos recebeu na terceira apresentação, no cinema da ILM (eu fico imaginando o que já não deve ter sido exibido por ali… QUEM já não sentou ali…). Guillermo Del Toro não conseguia conter o sorriso de poder mostrar tudo o que ele imaginou pra gente que gosta tanto daquilo quanto ele.
Fã de desenhos animados, monstros, robôs, Guillermo Del Toro parecia uma criança naquela apresentação. Apesar de dizer, com razão, que a voz dele só serve pra fazer pessoas dormirem, o jeito com que ele olhava pra cada uma das animações mostradas, respondia perguntas e explicava o universo que ele criou, empolgava qualquer um. Ou melhor, quase qualquer um — tinha um cara roncando na minha frente. MAS ENFIM. :D
“Em Meu Vizinho Totoro, há uma cena em que o pai vai colocar os chinelos. Ele tá deitado, senta na cama e, ainda com sono, tenta encaixar os pés no chinelo — e ele ERRA”, começou a contar, com os olhos brilhando, o diretor. “Numa animação comum, dessas de hoje em dia, ele teria colocado os pés direto e saído andando. O motivo é simples: pra fazer aquele poucos segundos foram gastos muito dinheiro e trabalho”. Foi com esse tapa na cara que ele começou mostrando como é que aquela história se basearia no mundo real: com erros. Todos de propósito, mas erros. “Você pode tranformar um objeto mecânico expressivo criando esses erros”.
É tudo, absolutamente TUDO, feito em CGI. Inclusive os modelos, que foram criados no computador pra ter a aparência de ser um daqueles que se faz normalmente no mundo real pro diretor ter noção do que tá acontecendo. Segundo Del Toro, não tinha como ser diferente.
Repare, por exemplo, que você raramente vê uma cena “de longe”. Quase sempre você está no meio da ação. Del Toro usou como exemplo uma luta no meio do mar (onde, aliás, a maioria acontece) — a câmera estaria em um barco ali perto. Isso significa que ela treme, que ela perde o foco, que a água espirra na lente, que muitas vezes a câmera não consegue acompanhar a velocidade da ação — quase como se fosse, de verdade, uma equipe jornalística ali filmando. Mas, hey! Não tinha COMO ser, né? :D
A luz também entra na brincadeira: no meio do oceano, no meio da madrugada, por mais que cada Jaeger tenha iluminação própria, raramente é o suficiente. Então, lá vem os helicópteros jogar luz na ação e, muitas vezes na câmera, ajudando a tornar o filme “geograficamente possível”.
É aí que a gente começa a entender que a história de pornografia faz mais do que sentido. Del Toro gastou mais de 30mins mostrando como os robôs e monstros espalham água que, segundo ele, é um personagem importante; outros tantos minutos mostrando como os Jaegers funcionam — um trabalho de engenharia, não só de arte. Numa porrada, num desmembramento, há tanta física envolvida, há tantos pedaços de metal juntos, que, quando você olha com mais atenção e REPARA QUE AQUILO TUDO DE FATO EXISTE… Entendeu onde quero chegar? Onde Del Toro foi buscar a referência da pornografia?!
Ou quer que eu desenhe? ;D
A ideia de Círculo de Fogo não surgiu de Del Toro. Um belo dia, Travis Beacham, o roteirista, responsável também por Fúria de Titãs, estava passeando por Santa Monica, na California, quando olhou para o Pier, viu a roda gigante e, com o tempo meio frio, com neblina, começou a imaginar um monstro saindo do mar, atacando tudo aquilo, comendo um parque de diversões.
“Eu sempre quis fazer essa coisa de robô gigante versus monstro gigante, mas era só uma ideia. Tipo, eu quero fazer um filme de zumbi, eu quero fazer um filme espacial. A coisa começou a acontecer mesmo quando a gente teve a ideia que seriam necessários dois pilotos pra controlar os mechas. A história humana estaria no coração da história. A relação dessas pessoas importaria, a bagagem que eles trouxessem importaria não só pra eles, mas pra batalha e, dessa maneira, pro mundo. Traz contexto pra aquela ação. Foi assim que eu percebi que havia uma história, que havia um filme.”
Travis parece aquele moleque que, no colégio, era zoado por absolutamente todo mundo. Gordinho, cabelo sem corte, um bigode e um cavanhanque estranhos. Mas ele conseguiu fazer com que Thomas Tull, produtor do filme AND dono da Legendary Pictures, liberasse um dinheiro pra transformar aquilo em filme. E teria de ser com Guillermo Del Toro, a sua única escolha.
“Na primeira vez que encontrei com o estúdio e com Travis eu apresentei a ideia dos dois pilotos, apresentei a ideia do Kaiju filhote, gravidez. Eu cheguei com as ideias malucas”, conta Del Toro. E as ideias fizeram bem pro filme, segundo Beacham. “Não foi como um processo de desenvolvimento normal, que você leva e traz ideias do estúdio, onde todos tem diversos propósitos. Quaisquer ideias novas eram por um único objetivo. Guillermo é tão fã disso, dessas coisas todas, que ele pensou em coisas tão grandes que eu JAMAIS teria pensado”.
O que inicialmente poderia ter sido só uma ideia besta e simples, foi transformada em algo que, inicialmente, não há como mensurar, graças a todo esse fanatismo e uma maneira diferente de enxergar o mundo de Del Toro. “Eu queria fazer um filme de aventura pra crianças que fosse humanista e não nacionalista, em que você possa acreditar na humanidade, todas as nações, cores, sexos. Não queria dizer que seriam necessários homens lindos, brancos, salvando o mundo. Todos nós salvaríamos o mundo. As coisas não importam só quando vão acontecer em Nova York. Parece que todo alienígena tem um guia da Terra que diz ‘você tem de ir destruir aquela cidade’. É muito importante que a luta principal do filme seja a Batalha de Hong Kong. São 25 minutos de nós defendendo um lugar que não é só um país. É o único porto que continua aberto — todos os outros do Oceano Pacífico estão fechados”.
Hong Kong só foi escolhido depois que Del Toro visitou o país. Ele ficou abismado com as luzes, as cores e decidiu que a treta mais importante do filme seria lá. E de noite. “E aí eu vi uns containers e pensei ‘E SE A GENTE USASSE AQUILO COMO ARMA?’, aí eu vi um navio e pensei ‘MEU DEUS VAMOS USAR AQUILO’”… ;D
Não é por acaso, portanto, que o filme se passa no Círculo de Fogo do Pacífico (e, se você não tinha entendido o nome Brasileiro do filme, de nada), que envolve mais de 15 países e tantos Jaegers de tantas nacionalidades — o que, segundo Thomas Tull, foi uma escolha um pouco randômica, muito mais baseada no que cada um poderia fazer do que na nacionalidade deles, exatamente — o que nos leva a uma outra questão: a GRANDIOSIDADE desse universo todo.
Já existem bonecos, há uma graphic novel contando a história entre o primeiro ataque e os acontecimentos do filme, um jogo sem graça pra celulares e um potencial imenso pra tornar essa história dos Kaijus, dos Jaegers e dos Humanos um novo Star Wars. Há muito, MUITO o que ser dito — o que, inclusive, irrita um pouco nesse primeiro filme. Você fica querendo saber de mais coisas, conhecer outras histórias e são “só” duas horas de uma ação sensacional, uma ação absurda, uma ação linda. “Se conseguirmos US$300, US$350 Milhões nas bilheterias, poderemos pensar numa sequência”, contou Thomas Tull.
No momento em que essa matéria era escrita, o filme já tinha arrecadado US$294,672,391 em bilheterias no mundo todo — grande parte dessa grana vinda da China. Pode ser que eles tenham garantido a expansão desse nosso universo — eles e, claro, o 3D, que garante um ingresso mais caro.
Aliás, uma coisa importante: Círculo de Fogo é um filme que não só merece, como precisa ser visto numa tela 4DX, IMAX, com aquelas poltronas tremendo, tacando água na sua cara, com um som absurdo. Não é só um filme, é uma EXPERIÊNCIA e, principalmente, foi assim que Guillermo Del Toro queria que a gente visse.
“Foram três coisas”, comentou o diretor, ao responder o que o fez mudar de ideia em relação ao 3D do filme. “Antes de mais nada, a gente ia fazer em 3D desde o início. Mas eu disse que iríamos precisar de mais 10 dias de filmagem e nós não tínhamos como pagar. A Warner e a Legendary foram bem claros: se você ultrapassar $1000, nós não vamos dar esse dinheiro pra você. E aí tivemos de fazer uma linha. Se você ultrapassar um dia, vai ter que cortar um dia. E eu sabia que o 3D iria me atrasar, então decidimos não fazer. Mas se você vir qualquer um dos meus filmes, eu filmo com muita coisa na frente, com muita profundidade, são imagens amigáveis pro 3D”.
“E então, no final, eles vieram me perguntar se eu faria em 3D. Eu tava com muito medo de eles me forçarem a fazer hiper-estéreo — se você olhar aqueles prédios”, contou, apontando para duas construções do outro lado da rua, “não importa o quando você se mova, não há paralaxe. Eles são tão altos que o paralaxe vai embora. Se você força isso, fica parecendo miniatura. Então”, começou a dizer batendo na mesa, “eu disse que só faço se tiver controle total do processo. Eles disseram ‘ok’. Então eu pedi”, novamente batendo na mesa, “o dobro do dinheiro que iria custar pra fazer. Nós vamos pagar a ILM pra gerar o 3D nativamente. 89% do que eles fizeram não foi convertido, é nativo. E, finalmente, eu queria mais tempo e um teste com a equipe de conversão pra saber se eles poderiam converter as cenas mais difíceis, e eles conseguiram”. “Fiquei muito orgulhoso da conversão e a razão pela qual vocês [jornalistas] assistiram ao filme em 3D é porque é minha versão preferida. Eu prefiro que as pessoas assistam ao filme em 3D — esse é o tanto que eu amei o resultado”.
“Deve ter sido a conversão mais chata daquela empresa. Começamos com reuniões duas vezes por semana, depois três, e chegamos a sete reuniões por semana. DOMINGOS!”, riu o diretor.
Do mesmo jeito que “In Del Toro we Trust” na hora de assistirmos a um filme, essa confiança foi o que fez Círculo de Fogo dar certo. É ela que humaniza essa pornografia de robôs e monstros, e é ela que fez com que tanto Charlie Hunnan quanto Rinko Kikuchi conseguissem protagonizar o filme. E conseguir não é uma palavra solta nesse caso. :D
Começou com o jeito que Del Toro trouxe Hunnan pra brincadeira. “Eu cheguei pro Thomas Tull e falei sobre ele. A resposta foi, literalmente, ‘Charlie é legal’. Foi esse o tanto que eu tive que lutar pra tê-lo aqui”.
“Ele me chamou na sua caverna e me disse um pouco sobre o filme. Literalmente, nos primeiros cinco minutos ele disse ‘Vai ser assim, uns robôs gigantes e você vai chutar a bunda deles e salvar o mundo. Quer fazer?’”, contou Hunnan, que interpreta Raleigh Becket no filme, imitando o diretor. “Sim, por favor. Obrigado. Parece ser sensacional!”
Com o seu heroi pronto pro dever — um heroi que não teria muitas motivações na vida além de “não querer se responsável por outra pessoa de novo”, como definiu Del Toro — era hora de colocá-lo pra controlar o Jaeger. Ou melhor: colocá-lo numa máquina de tortura. :D
“As cenas do cockpit foram muito difíceis de filmar. Era, de verdade, uma máquina de tortura. Dizer que eu precisava fazer de novo me fazia me sentir um filho da puta. Mas eu ainda assim fazia de novo!”, riu Del Toro, com um poooouco de culpa. :D
“Eu fiquei lá por uns 27 dias e, depois do quarto, eu já tava num completo ataque de pânico. A gente não podia se mover! Nós fazíamos sete horas de manhã, meia-hora de intervalo pro almoço, e mais sete horas de tarde”, contou com um pouco de medo na voz, Hunnan. “A gente tinha de ficar lá, lutando com essa armadura que pesava uns 18kg e um capacete que não deixava a gente respirar direito… Eu achei que eu fosse ficar maluco. Eu fiquei tão puto que cheguei a imaginar eu socando a cara de Guillermo ou voltar ao set de noite e colocar fogo em tudo!”, riu o cara. Mas, toda brincadeira… ;D
Se no quarto dia ele já tava assim, os outros 23 só foram possíveis por conta da Rinko Kikuchi. “Ela é foda. Nós somos esses caras pensando que somos fortes e tal, e quando chegava no cockpit a gente chorava como bebês. E ela era a ÚNICA que nunca reclamava. Parecia um Samurai, completamente Zen”, Hunnan disse sobre a sua parceira de filme, de Jaeger e de tortura. “Eu perguntei pra ela o que diabos ela pensava lá dentro. ‘Chocolate. E ursos de pelúcia!’”
Rinko realmente parece ser essa menina fofa, bonitinha e, falando com aquele sotaque, apaixonante. Mas não se engane: ela treinou diversas artes marciais e sabe manejar perfeitamente uma katana. “Mas nunca ninguém deixa eu usar isso em um filme!”
Segundo Travis Beacham, quando Del Toro falou da ideia dos dois pilotos, ele disse que deveria haver amor entre eles. Raleigh é o heroi que não quer se responsabilizar por ninguém; Mako, a personagem de Rinko, é alguém que tem uma história muito maior — e pior — com esses robôs, com esses monstros, e com essa coisa de salvar o Mundo. E, pra chegar nesse ponto em que, óbvio, Raleigh assume a responsabilidade por outra(s) pessoa(s) novamente, Guillermo Del Toro precisou voltar no tempo com a PEQUENA Mako — que é mesmo japonesa e não falava uma palavra em inglês.
“De uma maneira diferente [das cenas de cockpit], o mais difícil de filmar foram memórias da infância de Mako. Eu queria fazer aquelas cenas como um conto de fadas, com o sapatinho vermelho, a menina, ter tipo essa aura mágica em volta. E dirigir Mana [Ashida, a menininha] pra chorar, tantas vezes, em tantos dias me fazia sentir um monstro. Eu tinha certeza que ia pro inferno, pedindo mais, e mais e ela lá gritando”, contou rindo e deixando claro que não forçou nada. “Ela tinha uma tradutora e eu pedia pra ela pensar em algo que pudesse fazê-la se sentir daquele jeito e me avisar quando estivesse pronta, levantar a mão. Eu não dizia ‘ação’ aqui. Quando ela avisava, eu colocava as câmeras pra rolar e esperava, esperava… Até que ‘AAAAAH!’”
Mas, como manda o figurino de um bom filme de monstros japonês, é preciso ter humor. Charlie Day interpreta um dos dois cientistas malucos que ajudam, sim, a salvar o mundo, enquanto fazem merda pra cacete — uma dessas merdas foi o contato que teve com Hannibal Chau, interpretado por, óbvio, Ron Perlman — mais uma prova de confiança no trabalho do cara.
“Eu acho que o Hannibal era pra ter sido interpretado por um asiático baixinho”, disse o ator que já trabalha com Del Toro desde 1993 e, hoje, são grandes amigos. “Em algum momento, e eu de verdade acho que foi um pensamento posterior, Guillermo disse (e aqui Perlman começa a imitar o cara ;D) ‘E se a gente transformar esse cara num personagem completamente ‘full of shit’? Tendo um judeu gigante de Nova York que se chama de Hannibal Chau… Eu conheço o cara perfeito!’”, contou o ator, meio resignado, mas feliz por estar ali.
“Ele é o tio Guillermo pros meus filhos. Eu o levei pro Japão para a premiere de Hellboy. Sob a tutela do Tio Guillermo, ele se tornou obssecado com, número 1, mangá; e, número 2, Hayao Miyazaki. Eu trabalhei o tempo todo e meu filho ficou por todo o Japão e voltou transformado. Foi uma viagem bonita”
Guillermo Del Toro conseguiu balancear MUITO BEM a ação, o humor e o drama, fazendo com que o filme não fosse só as porradas entre os robôs e os monstros, que não fosse nenhum tipo de dramalhão humano que se sobressaísse a isso e que a gente ainda desse risada. Aliás, importante: não saia do filme antes dos créditos. Depois de algumas exibições teste, Del Toro resolveu adicionar uma cena lá… E foi sensacional. ;D
Círculo de Fogo, definitivamente, é mais do que um filme. Talvez seja mais do que um universo. Não faço a mínima ideia se Del Toro vai querer investir nisso daqui pra frente — não me parece ser do feitio dele. “Eu não posso ser responsável por isso”, disse. “Meu trabalho é fazer um filme. Eu sou muito responsável com o que tenho de orçamento e o tempo pra fazer. Essa é a minha responsabilidade. Quando eu faço um filme, eu não sei se vai fazer sucesso, se vai ser algo gigante, se vai dar errado. Eu sou tipo um jogar de futebol que, quando a bola cai na minha mão… Eu ganhei. Eu não penso se vou chegar no gol, quem eu tenho de driblar. Eu agarro e corro pra frente. Onde vai dar a gente descobre depois. Eu tento ir o mais longe possível”.
Talvez a sequência fique com um novo diretor. Talvez Del Toro apenas participe do roteiro, apenas produza o filme. Talvez ele não se meta nem por um segundo. Deve demorar um pouco pra sabermos. Mas é fato: se em 2013 nós temos a simples possibilidade de assistir a esse filme, do jeito que ele foi pensado e realizado, já devemos agradecer, muito, e talvez eternamente, a esse gordo mexicano de óculos e olhos azuis.
Nós, que vivemos de escrever sobre essas coisas todas, vivemos também pra ver um cara como ele conseguir realizar essas coisas, com uma visão de mundo, de universo, única.
Deixo aqui pra vocês o áudio completo (em inglês) da apresentação que ele fez na ILM e esse quotes que eu acho que ajudam a entender esse cara — e a entrar ainda mais no universo do filme.
Uma jornalista japonesa passou quase todos os 20mins que tivemos com ele tentando perguntar sobre como ele enxerga a cultura japonesa dos filmes de monstros. O tempo acabou e, enquanto a assessora avisava que era só aquilo, Guillermo deixou, enfim, que ela perguntasse. E essa foi a resposta:
Na cultura japonesa, monstros podem ser bons. Há os Kaijus maus, há os Kaijus bons. Você pode torcer pelo Godzilla, Gamera, etcetera. Porém, os Mechas no Japão tem um status incomparável a qualquer outra história na cultura ocidental. Na cultura oriental máquinas podem ter alma, enquanto por aqui tecnologia é uma coisa ruim e robôs podem se rebelar contra as pessoas
Eu continuo com a minha PEDIOFOBIA aqui no Brasil. Mas, já sei que, qualquer coisa, é só chamar o Tio Guillermo. In Del Toro we trust. :)
O Judão viajou a convite da Warner Bros.