A Comitiva do Rock embarca em um novo trem. Trem BÃO. :D | JUDAO.com.br

A partir deste mês, banda deixa de lado as paródias de heavy metal + sertanejo que os tornaram conhecidos para embarcar num projeto de músicas autorais

“Metaleiro de Goiânia, roqueiro do Araguaia / Iron Maiden na viola, Tião Carreiro na guitarra”, diz um trecho da letra de Viola com Distorção, faixa do primeiro disco do grupo Comitiva do Rock que descreve bem o tipo de som – e piada – que este sexteto curte fazer. Agora, os caras resolveram embarcar em uma nova fase, acrescentando um tempero extra a esta mistura de metal com música sertaneja: composições próprias.

Na estrada desde 2009, além do sucesso como presença obrigatória em eventos como o Anime Friends, ganharam prêmios com participações no programa Raul Gil e foram os vencedores do concurso nacional O Rei das Paródias, promovido pelo extinto programa Tudo é Possível, da Rede Record. Na época, lançariam seu primeiro CD, Vaca...é a Mãe, reunindo canções que eram um híbrido de paródia com mash-up, misturando Inezita Barroso com Judas Priest, Luan Santana com Ozzy Osbourne, Munhoz & Mariano com Manowar, Rick & Renner com Helloween, Gusttavo Lima com Iron Maiden...

Mas... parece que esta fase acabou. “Acho que já provamos para nós mesmos que, no quesito paródias, chegamos onde poderíamos chegar... Agora chegou a hora de encararmos o desafio de um trabalho totalmente autoral!”, revela, em papo exclusivo com o JUDÃO, o vocalista Zezé Cavalera (cuja alcunha artística, claro, mistura os nomes de dois irmãos encrenqueiros do sertanejo com os de dois irmãos encrenqueiros do metal).

Zezé conta que na verdade já é um plano antigo, o momento em que o artista resolve que quer encarar novos desafios. “Senão a arte perde o sentido”, confessa. No entanto, a cobrança não veio apenas dos próprios integrantes, mas também de fora. Segundo o músico, algumas gravadoras de maior porte se interessaram pela banda, mas queriam ouvir material próprio. “Seria inviável apostarem num álbum de versões, já que teriam que pagar direitos para muita gente e sobraria pouco pra elas”, diverte-se ele.

O cantor, no entanto, faz questão de deixar claro que o que eles vinham fazendo, até o momento, não são simplesmente “paródias”, pois além de mudar as letras das músicas, eles faziam novos arranjos instrumentais para que a música do lado sertanejo se encaixasse perfeitamente com os riffs do lado metaleiro. “Muita gente nos vê como uma banda de paródia e isso não é legal... Pois no fundo seu trabalho acaba não sendo valorizado ou levado a sério como poderia, e isso limita muito as possibilidades profissionais da banda”.

O baterista Tonico McBrain e o guitarrista Tião Satriani são os dois principais compositores do grupo e estão trabalhando juntos nos arranjos instrumentais para o CD autoral desde o ano passado. Ainda em março, a intenção é que o próprio Zezé coloque as letras e então começam os ensaios, já com a banda completa e com as devidas lapidadas do produtor Paulo Anhaia (Charlie Brown Jr., Los Hermanos, CPM 22, Fresno, Velhas Virgens). “Acredito que ainda nesse semestre começaremos a lançar os primeiros singles”.

Quanto à sonoridade das composições próprias, Zezé conta que vai rolar de tudo um pouco. “Tem músicas mais metal e outras mais sertão. Mas na verdade nós não estamos nos prendendo a uma fórmula ou estilo engessado, e sim deixando a composição correr livre, mesmo que renda um country, um brega ou até mesmo um reggae”.

capa_CD autoral_Comitiva do RockDuas delas estão confirmadas – a primeira atende pelo título de Corno Us (Chifre ‘Em All) e, como a própria brincadeira do título em referência ao álbum de estreia do Metallica sugere, é uma música bem porrada. “Essa é aquele tipo de faixa que o instrumental e o riff são tão fortes, que até dá dó de colocar letra em cima... Mas como eu sempre estrago tudo, eu coloquei”. O tema é polêmico: desmistificar a fama injusta de que todo sertanejo é corno. “Pois na verdade todos nós, inclusive os metaleiros, somos cornos!”, sacaneia ele.

Outra canção já em andamento é uma balada romântica que fala sobre a primeira vez do próprio Zezé, com o título provisório de 4 Pé. “Já é uma dica de como era a minha primeira namorada”, explica. Por falar em “provisório”, a banda libera em primeira mão a capa provisória do álbum, que tem tudo para se tornar oficial. E o provável batismo da segunda bolacha da Comitiva: aVACAlhando. “Faremos jus ao título”, promete Zezé.

Para quem está se perguntando como diabos a Comitiva poderia soar em uma canção que não seja sátira de uma outra que já existe, Zezé lembra que eles experimentaram este formato em três ocasiões, em momentos diferentes, com objetivos diferentes e para públicos bem distintos.

A primeira foi a música Rock, Muié e Barretão, feita para a coletânea oficial do rodeio de Barretos, a Barretão 2011 (dá para ouvir aqui). Outra foi Tô na Fazenda, feita para a trilha sonora do reality show da Record, no mesmo ano (dá pra ouvir aqui). E a terceira foi Dia de Anime, homenagem aos otakus com as participações de Ricardo Cruz (JAM Project) e Bruno Sutter e lançada em pleno Anime Friends, em 2013.

É claro que a banda sabe que, com músicas próprias, vai sair de sua zona de conforto, já que é muito mais fácil, confortável e garantido você trabalhar em cima de músicas que já são conhecidas do seu público. “Teremos uma pressão e responsabilidade muito grande em relação às músicas próprias, pois elas serão automaticamente comparadas às versões-paródia, que é a referência que a galera tem da Comitiva”. Mas mesmo sabendo que não vai ser uma missão fácil, os caras estão empolgados. “É um desafio que a gente sente que precisa e quer encarar! (...) Sabemos que será praticamente como recomeçar do zero, mas estamos com tesão em fazer e ver qual será a aceitação do público...Então seja o que Deus quiser! ;)”.

Para quem gosta das versões da banda, no entanto, não há motivo para desespero. Eles têm outras paródias na gaveta e que querem lançar algum dia. A única coisa que garantem é que não farão mais clipe oficial deste tipo de música, como se tornou sua marca registrada. “No máximo alguma montagem em vídeo bem simples, apenas para ilustrar o áudio da música”. No entanto, garantem que apesar do setlist dos shows ter que mudar para acolher as novas canções próprias, é óbvio que algumas paródias vão continuar fazendo parte da lista de músicas. “Mas agora serão escolhidas a dedo”. Entre as que devem ser obrigatórias, estão Leitão, Amigo Ensaboado e Vida de Pedreiro, além da recente Pistoleira. “Se a gente não tocar essas, o público lincha nóis!”.

E que público é este, afinal? Porque estamos diante de uma banda que tira sarro tanto do metal quanto do sertanejo, será que ambos os tipos de ouvintes levariam a sacanagem numa boa? “Já tocamos em programas de calouros, em festivais de metal (como o Roça ‘n Roll), em eventos universitários, em rodeio, em festas de prefeitura, em Festivais de Inverno no interior, em eventos anime em todas as partes do Brasil, e até em casamentos!...Ou seja, já tocamos para todas as idades, tribos e classes sociais, e sempre a recepção do público foi muito boa, pois no palco a gente faz a maior zona!”, assume Zezé.

Como o background dos músicos da Comitiva é essencialmente o heavy metal, as partes relativas à bandas como Judas Priest e Grave Digger acabam sendo executadas na medida certa, fazendo com que outros músicos e fãs/bangers mais técnicos acabem levando numa boa. “Já o pessoal do sertanejo que a princípio se ‘assustaria’ com as guitarras e bumbos duplos, acaba curtindo por causa das letras engraçadas e da bagunça que fazemos no palco”. Mas é claro que existe a galera mais radical, seja de um lado como do outro. “Uma vez uns moleques metidos a troos vieram nos encher o saco durante um show numa praça pública em Serra Negra, interior de São Paulo... Mas quando eu falei no microfone que o show já estava acabando e a gente iria descer do palco para ‘dar uma atenção especial’ para eles, os bundões saíram com o rabinho entre as pernas, e todos os velhinhos e velhinhas que assistiam o nosso show nos aplaudiram!”, relembra gargalhando o vocalista.