Banda está de volta pra promover o álbum Eternal e bateu um papo com a gente sobre o disco, o ápice da fase pós-Tolkki
Todo mundo sabe o quão clichê pode ser esta parada do “we love you, Brazil!”, que toda banda gringa grita quando sobe num palco do nosso país, seja ele pequeno, médio ou grande. É aquela declaração de amor rasgada, “vocês são o melhor público do mundo”, vocalista enrolado na bandeira verde e amarela. Certeza que você já viu esta cena antes. Mas, em alguns casos, parece que este amor é definitivamente verdadeiro e vai além dos jargões óbvios.
É o caso dos finlandeses do Stratovarius, por exemplo. Em 2002, quando entrevistei o baterista da época, o simpático Jorg Michael, às vésperas de mais um show dos caras por aqui, ele me confessou que gostava tanto do Brasil que estava pensando em vir morar na nossa terrinha quando se aposentasse. E já tinha até destino certo: “Quero morar em Recife. Tocamos por lá e fiquei apaixonado pela força das percussões regionais de vocês”. As declarações destes headbangers platinados vindos do frio sempre seguiram por este caminho.
Nesta sexta-feira, 12, o Stratovarius sobe novamente a um palco Brasileiro – seguindo uma tradição de aportar com suas turnês por aqui pelo menos a cada dois anos, sozinhos, com outras bandas, dentro de festivais, não importa. O show no Carioca Club em São Paulo, que deveria ter acontecido em dezembro mas acabou adiado graças a problemas num festival chileno, servirá para promover o disco Eternal, décimo-sexto item de sua discografia e definitivamente o melhor da atual formação.
“Sempre sinto que vocês gostam muito das nossas músicas. São sempre barulhentos, cantam as faixas de cabo a rabo”, declara, empolgadíssimo, o vocalista Timo Kotipelto, em entrevista ao JUDÃO. “Acho que nós fomos uma das primeiras bandas finlandesas de metal a começar a incluir o Brasil na lista de shows”.
Os últimos anos têm sido de reestruturação para o quinteto – que, no começo dos anos 2000, experimentou uma brutal queda de popularidade graças a uma sucessão de cagadas envolvendo o antigo líder e guitarrista Timo Tolkki. Foram várias trocas de acusações dignas de qualquer Ego do mundo metal, incluindo aí uma nova vocalista falsa toda coberta de sangue, a descoberta oficial de uma bipolaridade e até uma mijada (que muita gente diz ter sido verdadeira) em pleno palco. Kotipelto, um tanto político, evita falar sobre o xará. “Com certeza ele foi uma grande parte da história da banda. Mas não tenho mais contato com ele. Só tenho a desejar ao cara tudo de bom em seus novos projetos”.
Da formação clássica, sobraram apenas Kotipelto e o tecladista Jens Johansson – entrando então o guitarrista Matias Kupiainen, o baterista Rolf Pilve e o baixista Lauri Porra (cujo sobrenome sempre rende saudações calorosas por parte dos brasileiros). Mas como Tolkki sempre foi o principal compositor do Stratovarius, muito se questionou sobre o que diabos aconteceria com os caras a partir de Polaris (2009), o primeiro disco sem ele. As coisas, de fato, demoraram para engrenar, mas Nemesis, de 2013, já dava a dica de que a banda tinha enfim reencontrado seu caminho. Eternal é apenas a confirmação de que as peças finalmente estão bem encaixadas.
“É legal ver que, toda vez que chega alguém novo, ele traz alguma coisa de seu próprio estilo para a banda. Mas sempre respeitando o legado do Stratovarius. É assim que deve ser”, opina Kotipelto. “E ao vivo, a gente está tocando melhor do que nunca”. Pra ele, Eternal é o melhor disco do Stratovarius nos últimos 15 anos. “Estou realmente muito satisfeito. Algumas das canções poderiam facilmente ser encaixadas em álbuns clássicos da gente, como o Visions. Mas, ao mesmo tempo, elas têm uma sonoridade moderna”.
Os fãs das antigas que escutaram Eternal sabem que o frontman não está exagerando – estamos falando de um disco que não soa uma cópia barata de sua época de ouro, mas sabe respeitar as origens. O músico explica, no entanto, que o resultado não foi nada intencional e que eles jamais ficam planejando que direção o disco seguirá.“Temos cinco caras abertos na hora da composição, então temos muita variedade no que diz respeito a sonoridades. Acaba ficando mais fácil tendo mais caras compondo do que apenas um”, diz, dando aquela cutucada no antigo colega de banda, que era nitidamente centralizador. “No fim, todos estes caras vão soar Stratovarius”.
E como o Stratovarius soa, aliás? Como de costume, claro, um power metal altamente melódico, com elementos sinfônicos (afinal, o nome deles não é uma mistura de Stratocaster com Stradivarius à toa) e mensagens mais otimistas e positivas que aquelas que se pode ouvir na maior parte dos álbuns de metal mais populares. Feeding the Fire, por exemplo, retoma o tema de Paradise ao falar sobre a responsabilidade do homem na preservação da natureza.
Aliás... será que a tão declarada morte do power metal que o Stratovarius representa e do qual foi porta-voz absoluto durante muitos anos não teria relação com o momento difícil que eles passaram há alguns anos? “Olha, gêneros musicais vão e vêm, sabe?”, arrisca Kotipelto. “É claro que o power metal não é mais tão popular quanto era há, sei lá, quinze anos. Mas ainda está por aí. E o Stratovarius está muito bem, obrigado! A gente faz o tipo de música que ama e ainda temos o privilégio de rodar o mundo com ela. Em nosso caso, o pior momento foi provavelmente há cerca de sete anos, mas estamos voltando, ainda que devagar. Fizemos muitos shows nos últimos anos”.
Por falar em shows, o que deve rolar no setlist? Além dos clássicos como Black Diamond, Against The Wind, Hunting High and Low, Eagleheart e a balada Forever, dá para ter plena certeza de que o recém-lançado single My Eternal Dream deve abrir os trabalhos.
“A canção foi composta por Matias e então eu e Jani Liimatainen [amigo de Kotipelto, ex-guitarrista do Sonata Arctica e no Cain’s Offering] viemos com a letra, sobre um cara que luta para realizar seus sonhos”. A música rendeu um clipe lindíssimo, no qual o diretor argentino Mariano Biasin criou uma ambientação que não poderia soar mais atual, em um cenário que lembra uma zona de guerra no Oriente Médio. “Eu adorei o resultado final”, comemora Kotipelto.