Neil deGrasse Tyson e suas dicas pro futuro da humanidade | JUDAO.com.br

As reflexões e conselhos universais de uma entrevista apaixonada concedida ao sensacional Stephen Colbert ;)

Se eu tivesse o mínimo de afinidade com a área de exatas, certamente trabalharia com astrofísica ou astronomia. Não quero soar babaca (ou “coxinha”, a expressão que surgiu mais do nada que um soco na cara durante um almoço de família na casa da sua avó), mas desde criança sou apaixonado pelo espaço.

Tem algo mais incrível do que saber que existem infinitos planetas, galáxias e estrelas no nosso universo? Tem milkshake de Nutella... Mas esse não é o caso.

Acontece que as minhas notas de matemática, física e química eram mais baixas que a moral do Shia LaBeouf em Hollywood. Quando o meu “tio do pavê” perguntava se eu ia pra escola pra estudar ou pra comer merenda, eu mentia pensando no pão de queijo da cantina. Infelizmente então, tive que seguir o caminho das humanas.

Porém, tal como o Pequeno Príncipe em seu planetoide distante, eu ainda olho pras estrelas com o maior carinho. Como não estudo o tema, adoro escutar os especialistas no assunto — não apenas quem entende dessas coisas, mas sim quem também se sente verdadeiramente fascinado pelo conhecimento. E na minha humilde opinião, não existe ninguém mais apaixonado pelo saber do que Neil deGrasse Tyson. :)

Neil deGrasse QUEM?

[one-half] Neil deGrasse Tyson[/one-half][one-half last=”true”]Neil deGrasse Tyson, nascido em 5 de outubro de 1958, é um PhD em astrofísica e escritor americano, além de ser um dos maiores porta-vozes da ciência na atualidade. E assim como o lendário Carl Sagan, Tyson tem o dom de conseguir explicar as mais complicadas teses científicas da forma mais carismática e simples possível.

Quando criança, seus pais costumavam levar toda a família pra passeios culturais nos fins de semana. Em um desses programas, eles acabaram indo ao Planetário Hayden, em Manhattan, e o pequeno Neil simplesmente não acreditou no céu completamente estrelado que lhe foi apresentado. “Pffff, ok, vou ficar aqui deitado olhando pra essa mentirada toda, mas não é possível que tenham tantas estrelas e galáxias assim, eles tão malucos!” nas palavras do próprio cara. Um pensamento totalmente normal pra uma pessoa que mora numa metrópole, ou seja, que só consegue ver a Lua e, no máximo, uma ou duas estrelas no céu. ¯\_(ツ)_/¯

Foi aos 9 anos que o futuro astrofísico descobriu seu verdadeiro amor pelo espaço. Em uma viagem à Pensilvânia, Tyson pôde vislumbrar um céu muito mais vivo do que em Nova York e imediatamente pensou: “WHOA, parece o Planetário Hayden!”, o que ele conta com um pouco de vergonha. “A marca daquela noite foi tão forte em mim que eu não tive escolha. Aliás, o universo me chamou”.[/one-half]

Desde então, Neil deGrasse Tyson não só estuda o assunto que tanto ama, mas faz questão de divulgar o conhecimento por aí. Ele é figurinha carimbada em programas como The Daily Show e The Colbert Report, e tá pra apresentar a nova versão da série Cosmos, dos anos 80 — que era apresentada por Carl Sagan.

E falando no programa do Stephen Colbert, o comediante americano entrevistou o astrofísico na Montclair Kimberley Academy (um tipo de escola preparatória pra faculdade) por cerca de 1h30 em 2010. O resultado é um dos vídeos mais fantásticos que eu já vi, no qual Tyson, ao falar sobre a sua paixão pelo saber e os mais diversos temas científicos num bate papo super divertido, acaba gerando diversas reflexões sobre a nossa sociedade e dando várias dicas pra humanidade chegar ainda mais longe.

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Em relação à ciência, é melhor saber ou não saber?

[/one-half][one-half last=”true”]De cara, Neil responde que é sempre melhor saber porque isso nos dá o poder de reagir e, caso seja necessário, mudar as coisas. Mesmo depois que Colbert brinca falando que Édipo pode ter uma opinião diferente, o astrofísico crava: o conhecimento é sempre algo positivo.

Ao ser perguntado então se as pessoas que não valorizam a ciência tão valorizando a ignorância, Tyson responde que sim, mas que não irá julgá-las. “Se elas tão confortáveis na sua ignorância, tudo bem. Tirando o fato de que elas não estarão na fronteira das descobertas cósmicas. Elas não estarão nessa fronteira fazendo descobertas, e não estarão na posição de melhorar suas vidas por ter acesso a essas descobertas.”

É simples: quem ignora o poder da ciência, no mínimo, demorará muito mais pra usufruir dos seus avanços com força total. Sem #mimimi e sem julgamento. Como diria o Ara Ketu, cada macaco no seu galho (xô, xuá!). ;)[/one-half]

O conhecimento pode ser algo ruim?

“Eu acredito que não”, diz deGrass, ao que Colbert replica perguntando sobre as ações para as quais o conhecimento nos leva. “Será que o conhecimento que levou o homem à destruição deveria continuar escondido?”. E aí vem uma das respostas mais bacanas da entrevista: “o mundo é acessível a nós. Eu não quero culpar o conhecimento. Eu quero culpar o comportamento das pessoas na presença do conhecimento. Então, talvez, nós precisemos de um administração melhor do conhecimento.”

[one-half]Neil-deGrasse-Tyson[/one-half][one-half last=”true”]Essa fala do Tyson casa muito bem com outra quando Stephen, mais à frente na conversa, pergunta o que ele pensa sobre a forma como os cientistas são retratados no cinema, sempre criando exterminadores do futuro ou super bugs que destroem a humanidade.

“No fim das contas, quando você abre as cortinas, tem um político financiando essa pesquisa. Cientistas não lideram exércitos, não invadem outras nações. Sim, nós temos cientistas que inventaram a bomba. Mas alguém tem que pagar pela bomba. E são os contribuintes, houve uma ação política que pediu isso. E todos culpam os cientistas. Somos todos parte de uma sociedade que tá usando os conhecimentos científicos pro bem ou pro mal. No fim do dia, a descoberta em si não é a questão, mas sim a sua aplicação.”[/one-half]

Ao ser perguntado se ele acha que a ciência é vista com desconfiança pelos americanos porque ela é mais complexa do que o cidadão comum pode compreender, Neil responde que sim, mas não pelo que ela pode fazer em si, mas porque as pessoas não entendem como ela pode fazê-lo. “Toda descoberta da ciência tem alguém pra dizer ‘você não deveria fazer isso!’. Não é porque você não entende que significa que é ruim pra você. Vá entender como funciona! Por isso que precisamos de um eleitorado cientificamente alfabetizado, pra quando você for votar, você poder fazer uma decisão informada e poder tirar as suas próprias conclusões, ao invés de ligar num determinado canal da TV que te entrega as suas conclusões de bandeja.”

[one-half]Por mais que a resposta do cara tenha sido sobre os EUA, a mesma coisa rola aqui no Brasil e no restante do mundo. Quantas pessoas têm suas próprias opiniões formadas por terceiros, na forma de jornais, revistas e programas de TV? O método científico é algo que ajudaria bastante as pessoas na hora de acreditarem ou não em algo. E você nem precisa ser um cientista pra colocá-lo em prática. Só precisa fazer as perguntas certas e ter a mente aberta. Nas palavras do próprio Tyson, “ao ser confrontado por uma informação nova, excluí-la logo de cara é tão preguiçoso quanto tomá-la imediatamente como verdade. A alfabetização científica é a vacina contra os charlatões do mundo que querem explorar a sua ignorância das forças da natureza.”[/one-half][one-half last=”true”][quote width=”100%” author=”Neil deGrasse Tyson”]

A alfabetização científica é a vacina contra os charlatões do mundo

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Neil deGrasse Tyson

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“Nós somos poeira estelar”

[/one-half][one-half last=”true”]Quando Stephen Colbert pergunta ao astrofísico qual é a coisa mais bonita da ciência, ele responde com o clássico E=MC². “Sério, é incrível. A beleza dessa equação é que ela é simples e, ao mesmo tempo, é responsável por coisas colossalmente complexas. Os átomos e moléculas do seu corpo são rastreáveis até o centro das estrelas que fabricaram esses elementos ao longo do seu ciclo de vida, ficaram instáveis na sua morte e explodiram suas entranhas enriquecidas por toda a galáxia, espalhando-se em nuvens de gás que finalmente desabaram, e criariam uma estrela e teriam os ingredientes certos pra fazer planetas e pessoas.”

Neil então completa com a parte mais bonita do vídeo na minha opinião: “o que significa que nós somos parte desse universo. Não não apenas estamos no universo, o universo está dentro de nós. E acho que esse é o maior presente que os astrofísicos deram pra cultura no século 20. Nós somos poeira estelar e isso nos conecta ao universo de forma única. Isso é lindo.”[/one-half] [one-half]Na parte final da conversa, Neil dá a sua visão sobre o nosso futuro, começando pela descoberta de que a expansão do universo fica mais rápida a cada dia que passa. “Um dia o universo chegará numa fase de expansão acelerada tão bruta que as galáxias que o Hubble descobriu desaparecerão do nosso horizonte, e tudo que poderemos ver será a Via Láctea, voltando ao estado de mente do nosso universo que existia antes de 1920”. Taí a prova de que louco, certamente, é pouco.

E pra concluir, Tyson fecha com um discurso rápido, mas brilhante sobre a falta de visão dos nossos governantes. “A ciência sempre pode dar um impulso imensurável na economia, mas não no próximo semestre. Sempre vai demorar mais tempo do que os políticos que estão no poder agora tão dispostos a esperar. Precisamos de uma visão a longo prazo nesses investimentos. As pessoas precisam pensar além do ciclo de reeleição e ver que a ciência é um bom investimento.”[/one-half][one-half last=”true”]

O futuro da humanidade e a quebra do ciclo de reeleição

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É esse imediatismo que acaba com qualquer chance de investimentos reais no conhecimento. Quem tá no poder hoje não quer gastar dinheiro com algo que só dará frutos na gestão de outra pessoa.

Podem até existir políticos dispostos a isso, mas aí entra a inquietude da população. A maioria das pessoas quer ver as coisas mudarem amanhã, não daqui alguns anos. Acaba que, infelizmente, nem os governantes, nem o povo têm a paciência necessária pra dar uma chance real à ciência, que acaba sofrendo da mesma sina da educação.

Como mudar isso? Dá pra começar a virar a mesa em outubro desse ano, na hora de votar. Pesquise, pergunte, encha mesmo o saco dos candidatos e veja quem tá disposto a quebrar o ciclo da reeleição. Se você tomar essa missão pra si, já é um excelente primeiro passo.

A ciência e as gerações que ainda tão pra chegar agradecem. ;)