Vocalista do Slipknot se torna uma espécie de “guia-protagonista” de uma nova versão do documentário de David A. Weiner — e que estará disponível para compra apenas até o Halloween
Quando a gente vê o cantor americano Corey Taylor, devidamente trajado e mascarado, berrando a plenos pulmões à frente do Slipknot, percebemos não apenas que ele está exorcizando seus demônios e, de alguma forma, ajudando a plateia a fazer o mesmo com os seus próprios, mas também que ali está a representação viva de um monte de referências claras, a começar pelo gênero cinematográfico do terror. O visual das máscaras dos integrantes — ironicamente, adotadas nos primórdios para que as pessoas se focassem nas músicas e não na aparência dos músicos — é claramente inspirado em monstrengos clássicos das telonas como Mike Myers, Freddy Krueger e Jason Vorhees — alguns dos maiores ídolos de Taylor, assumidamente um fã de produções de horror da década de 1980.
“Minha mãe me levou para ver um filme do Buck Rogers com Gil Gerard quando eu tinha uns 5 anos de idade”, contou ele, em entrevista para a revista Revolver concedida ao lado de ninguém menos que Wes Craven. “Passou o trailer do Halloween original e você deve estar pensando que um moleque de 5 anos ficou gritando de medo, mas eu fiquei hipnotizado. Eu nem queria mais ver o Buck Rogers. Eu só queria ver o Halloween. Foi a partir daí que me tornei fanático pelo gênero”.
Este foi um dos motivos pelos quais David A. Weiner, um jornalista especializado em nostalgia que já colaborou com veículos como Hollywood Reporter e LA Weekly, além de moderar painéis na San Diego Comic-Con, resolveu convidar Corey Taylor para ser um dos entrevistados do seu documentário, In Search of Darkness. Quer dizer, mais até do que isso: Taylor acabou se tornando meio que a estrela de uma SEGUNDA versão do filme.
É assim: In Search of Darkness é uma das obras da produtora independente americana CreatorVc, que se descreve declaradamente como uma especialista em conteúdo para “superfãs”. Basicamente, estamos falando de produções que saem do papel graças ao financiamento coletivo e cuja ideia é se focar em documentários a respeito de gêneros que carregam a sua cota de seguidores. Tudo começou com In Search of the Last Action Heroes, sobre os superastros surgidos de conceitos mirabolantes em suas jornadas do tipo “exército de um homem só”. Aí veio esta ideia dos filmes de terror, já financiada e prestes a colocar os pés na rua, e o próximo projeto, que entra em financiamento no Kickstarter a partir de novembro, é In Search of Tomorrow, retrospectiva dos filmes de ficção científica oitentistas.
Só que Weiner quis aproveitar o Halloween para lançar In Search of Darkness com toda a pompa e circunstância, surgindo aí In Search of Darkness: Corey Taylor Collector’s Edition. Trata-se de uma edição limitada, em DVD ou Blu-ray (pois é, mídia física, veja só), vendida a partir deste site apenas e tão somente até o Dia das Bruxas, e que tem Taylor inserido depois como um dos entrevistados, comentando seus momentos favoritos de cada um dos segmentos, indo de 1980 até 1989.
Considerando o tanto que o músico curte o estilo e também o fato de que ele é bastante carismático e divertido, tá bom, isso torna a ideia de um filme com o “selo de qualidade” dele bem divertida e interessante de se ver. Mas, na real, pelos nomes originalmente reunidos em In Search of Darkness, certeza que o documentário já era um daqueles itens obrigatórios para qualquer fã de tripas, miolos e litros de sangue falso escorrendo pela tela.
Porque temos John Carpenter, o mestre que faz até trilha sonora e dispensa apresentações, contando que o fracasso comercial de O Enigma de Outro Mundo o impediu de dirigir Chamas da Vigança, baseado na obra de Stephen King. Aí rola Doug Bradley, ator que vivia o Pinhead em Hellraiser, revelando detalhes sobre como ele e Clive Barker ajudaram a dar forma ao personagem (“um monstro do horror que poderia tranquilamente estar numa festa no jardim com Oscar Wilde”); Joe Dante revelando que por pouco os Gremlins, que ele dirigiu, não foram um filme mais sombrio — enquanto Jeffrey Combs, o protagonista de Re-Animator, conta numa boa que passou um baita tempo estudando os cadáveres no necrotério em sua preparação para o filme.
Além deles, também aparecem no filme Sean S. Cunningham (diretor do primeiro Sexta-Feira 13), Kane Hodder (que interpretou o Jason nos filmes de 7 a 10 da franquia), Don Mancini (criador da franquia Brinquedo Assassino), Heather Langenkamp (a “rainha do grito” nos filmes A Hora do Pesadelo), o mestre dos efeitos especiais Greg Nicotero e Cassandra Peterson (ninguém menos do que Elvira, a Rainha das Trevas em pessoa), entre outros.
Importante lembrar que o próprio Corey também fez lá suas participações em filmes de terror (ou algo do tipo), desde o quarto Sharknado até Officer Downe — a adaptação pros cinemas da HQ de Joe Carey, dirigida por um estreante em longas chamado Michael “Shawn” Crahan, percussionista e colega de banda de Taylor no Slipknot.
Mas o papel que ele mais se orgulha de ter interpretado foi mesmo em Fear Clinic (2014), baseado numa web-série a respeito de um psicanalista que tenta curar as fobias de seus pacientes utilizando métodos bastante extremos. No longa, o tal médico é interpretado por Robert Englund, o Freddy Krueger em pessoa. “Vou ser honesto, cara: levou cerca de um dia inteiro pra eu parar de me comportar como fã perto dele”, confessa o músico, em entrevista pro Dread Central. “A gente sempre ficava junto na maquiagem e ele ia me contando aquelas histórias malucas sobre os anos 1980. Porque o Freddy não era apenas o rock star dos filmes de terror. Ele era meio que o super-herói do gênero”.