Novo crossover da Casa das Ideias se parece demais com algo que a Distinta Concorrência vem lidando há trinta anos…
Na última quinta-feira, dia 9 de outubro, bem no meio da New York Comic Con, a Marvel Comics anunciou: em 2015 teremos o grande crossover Marvel Super Heroes: Secret Wars, resgatando o nome “Guerras Secretas” — que batizou uma saga da editora em 1984 — e com início previsto nos EUA para maio de 2015. Só que, pelo jeito, a guerra dessa vez será bem diferente daquela do passado – e, diria eu, com um pouco da influência da Distinta Concorrência.
Oi? É, isso. Dá uma olhada com calma na primeira arte divulgada, assinada pelo Alex Ross. Temos versões diferentes do Thor, Homem de Ferro e Capitão América, um Homem-Aranha que aparenta ser o Miles Morales do Universo Ultimate, os dois Hyperion, personagens do Novo Universo e no Universo MC2... ENFIM, tem muita coisa.
A grande questão é: a HQ, que é assinada pela dupla Jonathan Hickman e Esad Ribic, não parece tanto com Guerras Secretas original, mas sim com a famosa Crise nas Infinitas Terras, publicada pela DC em 1985 para justamente resolver o problema de inúmeras Terras alternativas e de versões diferentes dos mesmos personagens.
Guerras Secretas, a primeira, surgiu em 1984 com uma parceria entre a Marvel e a Mattel. Basicamente a fabricante de brinquedos lançou uma linha com os heróis e a Casa das Ideias usou o nome para aquela que era a maior saga já publicada até aquele momento. Foram, no total, 12 edições.
Basicamente, tudo começou quando os heróis Capitão América, Capitão Marvel, Gavião Arqueiro, Homem de Ferro (na época, o James Rhodes), Mulher-Hulk, Thor, Vespa, Tocha-Humana, Senhor Fantástico, Coisa, Homem-Aranha, Mulher-Aranha (Julia Carpenter), Hulk, Ciclope, Colossus, Noturno, Professor X, Vampira, Tempestade, Wolverine, Lockheed e Magneto são atraídos para uma estranha construção no Central Park e levados para um planeta em outra galáxia.
Lá eles descobrem que se tornaram marionetes de uma entidade cósmica chamada Beyonder, que quer colocar os heróis contra seus principais vilões. Caras como Kang, Galactus e Doutor Destino estavam ali – inclusive rendendo uma passagem épica, com o Destino roubando parte dos poderes cósmicos do Galactus. Com roteiro de Jim Shooter e arte de Mike Zeck, essa não é conhecida como uma das maiores histórias da editora, mas ao menos foi divertida.
Nas revistas mensais os leitores acompanham um salto de “poucos dias” entre uma edição e outra, sem revelar o que aconteceu na saga – mas com mudanças profundas nesse período, como a Mulher-Hulk no Quarteto Fantástico e o Homem-Aranha com o famoso uniforme preto. Para saber o que tinha acontecido, só lendo mesmo todas as edições do crossover – que durou mais de um ano e, até por isso, justificava o nome de guerras “secretas”.
Na época a Marvel não tinha essa coisa de realidades e universos alternativos – não, ao menos, de forma tão presente, acontecendo mais em edições What if...? . Essa coisa era uma característica clara da Distinta Concorrência, que passou a criar Terras alternativas para justificar (e acompanhar) as versões de eras diferentes de seus próprios personagens, heróis comprados de outras editoras ou apenas para acomodar ideias fora da caixa de seus quadrinistas. Só que quando chegou no começo dos anos 80, isso aumentou a dificuldade de compreensão dos leitores novatos. Assim veio a ideia da Crise nas Infinitas Terras.
Basicamente, tínhamos diversas versões do Superman, da Mulher-Maravilha, do Flash... Tudo lutando em conjunto. Mundos viveram, mundos morreram, muitos perderam a vida sem nem sabermos que existiam. No final, sobrou só uma Terra no Universo DC.
A primeira vez que alguém tentou juntar essa coisa de “Guerras Secretas” com “universos paralelos” foi na série animada do Homem-Aranha produzida nos anos 90. Na última temporada – que, até hoje, nunca teve fim #CadêAMaryJane – o Cabeça-de-Teia passa por uma “pequena” Guerra Secreta do Beyonder, que, dessa vez, estava ao lado da Madame Teia. Os dois queriam testar o Amigão da Vizinhança para saber se ele era capaz de derrotar um clone maligno seu de um universo paralelo que se uniu ao simbionte Carnificina e ia acabar com toda a existência. Pois é.
Ainda assim, os elementos estavam bem separados.
Agora, volte a pensar no primeiro teaser de Secret Wars. Com tantas versões diferentes de personagens, parece que vamos ter uma reunião de heróis não da mesma Terra, mas sim do Multiverso Marvel – que foi justamente estabelecido a partir dos anos 80. Um monte de gente igual/diferente lutando por uma causa comum.
Ou seja: as novas Guerras Secretas vão ser menos parecidas com a saga de 1984 da Casa das Ideias e mais próximas das tão famosas Crises da Distinta Concorrência. E eu nem citei até agora que o Homem-Aranha já vive a sua própria crise entre infinitas versões na saga chamada Spider-Verse, da qual já falamos bastante aqui no JUDÃO.
Só há um detalhe nisso tudo: a Crise Secreta (dsclp, não resisti), ao menos pelo que indica a primeira imagem, não terá o Quarteto Fantástico lutando nesse novo planeta longínquo, muito menos versões alternativas deles. Tudo culpa da enorme treta entre Marvel e Fox. Ao menos os X-Men estão garantidos, apesar de também não estarem na imagem, e segue a tradição Marvete de lançar uma linha de bonecos e outros produtos baseados em Guerras Scretas, agora assinada pela Hasbro e pela Gentle Giant, além da rede de varejo Hot Topic.
De qualquer forma, temos uma Marvel soando bastante como DC em 2015 – justamente quando a editora comemora os 30 anos da primeira Crise e, pelo jeito, está planejando publicar uma nova versão do crossover.
Quem diria, né?