CSI e a volta dos que nunca deveriam ter ido | JUDAO.com.br

Episódio especial de 2h que encerra a série original de Las Vegas traz o retorno do seu elemento mais precioso: o time clássico

Acho que o primeiro produto da franquia CSI foi, de longe, a série que acompanhei durante mais tempo na vida. Foram nove temporadas sem interrupção, assistidas quase sempre em formato de maratona, muito antes do Netflix existir – apesar de ter que aturar os boxes nacionais de DVDs dividindo as temporadas sempre em três partes (alô, PlayArte!), eu persistia e acabava vendo tudo de uma só vez, ao longo de um único final de semana.

Nove temporadas de dezesseis. Porque a partir da décima, tudo foi perdendo um pouco da graça. Foi justamente naquele ano que Gil Grissom (William Petersen), o chefe do laboratório de criminalística da cidade de Las Vegas, se aposentou. Porque a graça de CSI nunca foram as tramas intrincadas que desembocavam em crimes inacreditáveis desvendados de maneira mais inacreditável ainda. Não. CSI era sobre tudo isso, só que devidamente estrelado por um elenco de excelentes personagens, cheios de personalidade. E com um deles chamando particularmente a atenção.

Não adiantou tentar substitui-lo pelo carrancudo Raymond “Ray” Langston (Laurence Fishburne) ou pelo zé graça D.B. Russell (Ted Danson). Grissom se tornou uma espécie de vácuo na série, sempre mencionado, sempre referenciado. Meio que o Charlie quando sumiu de Two and a Half Men. Petersen esbanjou carisma na interpretação do cientista especializado em insetos, um tanto neurótico, meio tímido, com algumas divertidas obsessões – mas sempre genial. O cara que sabia tudo sobre tudo. Menos sobre a própria vida. Eu costumo fazer a seguinte comparação: imagina se, em um dado momento de House, lá pelo terceiro ou quarto ano, o Hugh Laurie resolve sair? Assim, do nada. E aí alguém vai lá e coloca outro médico no lugar. Dá pra imaginar o resultado, né?

As séries derivadas nunca me pegaram de verdade. Sempre achei o Horatio Caine de CSI: Miami um mala pretensioso, que vivia querendo posar e tirar onda com aqueles óculos escuros (pode ser culpa da canastrice do David Caruso, claro), enquanto o detetive Mac Taylor era dramático e sofrido demais pra minha cabeça em CSI: NY (por mais que Gary Sinise seja um PUTA ator, vamos combinar). Mas acho que era sempre porque Grissom não estava lá.

Essa semana foi exibido nos EUA um episódio especial de 2 horas, desvinculado de uma nova temporada, para servir de series finale para a versão Las Vegas de CSI, 15 anos depois. Adivinha quem foi trazido de volta? O Grissom, claro, por mais que o supervisor do turno da noite vivido por Ted Danson ainda seja, cronologicamente, o personagem principal. Mas adivinha quem tomou conta da história e deixou D.B. de lado, quase como um coadjuvante de luxo?

CSI

A história começa quando um maluco explode a si mesmo dentro de um cassino – que, no caso, é o mesmo no qual o policial aposentado Jim Brass (Paul Guilfoyle) estava trabalhando como chefe da segurança. E que pertence, por herança, à Catherine Willows (Marg Helgenberger), agora uma respeitada agente do FBI. Ela e Brass se envolvem na investigação com os antigos amigos do laboratório criminal, comandado por Russell, mas que tem Sara Sidle (Jorja Fox) lutando para se tornar diretora. O lance é que as pistas indicam que o homem dos explosivos era ex-paciente da Lady Heather (Melinda Clarke), dominatrix e terapeuta sexual, com quem Grissom teve uma espécie de “caso intelectual” e com quem ele trabalhou algumas vezes...e enfrentou algumas outras. Obviamente, o ex-marido de Sara é então convocado pra ajudar a desvendar o mistério, saindo temporariamente de sua aposentadoria, navegando, estudando e protegendo animais marinhos.

Num passe de mágica, eis que o episódio que começou com os personagens novos se torna um episódio com a equipe clássica. Tá bom, Warrick (Gary Dourdan) morreu e Nick (George Eads), que foi chefiar uma equipe em San Diego, não apareceu por “questões de bastidores”. Mas Grissom, Sara e Catherine... cara, a química está ali. Com o bom e velho Gil novamente responsável por dizer as frases de efeito que dão o gatilho para os intervalos comerciais, como de costume. E, que sensacional, ele ainda fala com insetos. É um dos episódios bons das primeiras temporadas, envolvente o suficiente pra te deixar grudado na cadeira, em especial numa daquelas conclusões típicas, com uma tensão dramática seguida de um diálogo cerebral do antigo líder da equipe com o antagonista, resolvendo a situação toda na base do papo. Nada mais CSI, nada mais Grissom.

No final, ainda descobrimos que a filhota de Catherine, aquela pequena garotinha com saudades da mãe que só pensava em trabalhar nos turnos mais malucos, agora é uma mulher formada e que está, vejam só, se tornando uma criminalista no mesmo laboratório onde a mãe trabalhou. E imediatamente nos pegamos lembrando sobre a tal da Holly Gribbs. Um toque de mestre.

Me bateu saudades, sabe? Foi um final bastante respeitoso, cheio de boas referências para quem acompanhava a série desde o início. E a prova de que, caso o rumo tivesse sido mantido, talvez este não precisasse ser o episódio final, afinal de contas. Talvez o Grissom nem precisasse ser chamado para dar um jeito na bagunça.

Vou lá assistir às primeiras temporadas e já volto. <3