Culpa, responsabilidade e BoJack Horseman | JUDAO.com.br

A nova temporada da série chegou mostrando que ainda há MUITO o que discutirmos sobre nossos piores lados

BoJack Horseman precisa de ajuda. Desde o primeiro episódio da primeira temporada, ele é um cara absorto nos próprios transtornos e sem perspectiva nenhuma das consequências disso e, a cada temporada que passa, conhecemos MAIS lados sombrios dele. Diane, Princess Caroline, Mr. Peanutbutter, Todd e todos os outros personagens secundários parecem realçar tudo isso, cada um à sua maneira. Só que todo o seu absoluto desprezo pela própria vida e a dos outros atingiram um pico nessa quinta temporada, que nos conduz ao fundo do poço junto com ele.

Tudo começa meio... frio. Depois de vermos TANTAS situações extremamente sérias serem ignoradas por BoJack, os primeiros episódios parecem “leves”. Existe a continuação sobre o papo da assexualidade de Todd, o divórcio de Diane (que brilha DEMAIS, de volta totalmente sem medo de conflitos e provocando Horseman DE VERDADE, gerando as maiores reflexões dessa nova parte da história) e Mr. Peanutbutter e a estreia de um novo trabalho de Horseman. As coisas parecem tranquilas, assim como uma pessoa pode estar completamente devastada fingindo que está perfeitamente bem.

As coisas começam a esquentar PRA VALER lá pelo quinto episódio. Não que os outros sejam exatamente ruins, parecem mais uma calmaria antes da tempestade que traz o sexto capítulo. Esse, em específico, atraiu uma atenção bem grande da internet. Aos moldes do inesquecível Peixe Fora D’água, da terceira temporada, Churros Grátis traz um monólogo intenso do protagonista. Algo que soa como um desabafo que há muito tempo precisava sair, cheio de dor, ressentimento e memórias embaralhadas. Algo que talvez um de nós soltaria no consultório de um psicólogo ou para alguém de extrema confiança, talvez. Mas não BoJack, jamais. Ele o faz na frente de desconhecidos, como uma tempestade de verão extremamente forte que parece não ter fim, mas para em 5 minutos. E daí pra frente, meu amigo… se segura na cadeira. Porque é ladeira abaixo.

Nesses cinco anos, vimos pedaços muito amargos da história dele com seus pais abusivos, situações que desafiaram sua ética e saúde mental, alcoolismo, depressão e, agora, adicionamos a dependência de analgésicos. Juntando todas essas situações com uma CONSTANTE negação, BoJack age de uma maneira que MATA todo e qualquer carisma que tinha. A escolha de narrativa é pesada e bem clara: não dá mais pra gostar dele.

Nem de longe.

Nem um pouco.

Isso tudo deixa na sua mente muitas perguntas. Dá pra culpar os traumas? Até onde as ações tóxicas dele são culpa de seu contexto e até onde ele é o responsável? Até onde EU E VOCÊ podemos usar nossas vivências e baques da vida pra justificar coisas não tão boas que praticamos, falamos e fazemos?

BoJack Horseman toca muitas pessoas justamente por ter a coragem de colocar o dedo nas feridas mais feias que podemos ter em comum com o cavalo e todas as outras personagens. É justamente o que faz dela tão boa e, por vezes, meio difícil de assistir.