Aqui no JUDAO.com.br, falamos muito sobre representatividade na cultura pop e as crises que ela gera no público. Pra fechar 2018, estamos pensando: o que aprendemos com isso?
Todos nós tivemos um ano e tanto na cultura pop. A continuação dos movimentos #MeToo e Time’s Up, uma lista comprida e estrelada de artistas acusados de assédio sexual. Denúncias também no meio gamer, com a denúncia sobre a cultura sexista dentro da Riot Games, responsável e dona do League of Legends; jogadores que queriam boicotar Battlefield V apenas porque ele traz uma mulher na capa; anúncios e estreias de títulos como Capitã Marvel, She-Ra e Daphne & Velma vieram seguidos de chiliques de homens que não sabem ver mulheres sem objetificá-las. Xenofobia, muita homofobia, casos sem fim de racismo… Isso sempre rolou, mas 2018 foi o ano de BOTAR O DEDO NA FERIDA, meu amigo.
Eu, por exemplo, já estreei no JUDAO.com.br, em Abril, com o texto O Clube dos Cinco na era do #MeToo, que trazia uma reflexão de Molly Ringwald sobre uma cena problemática que viveu no clássico oitentista. E cobrimos mais e mais pautas sobre diversidade e tudo o que a cerca: o problema racista sobre Apu e as falas péssimas de Matt Groening, os ataques xenofóbicos que Kelly Marie Tran sofreu, a decisão de um homem de tirar todas as cenas com presença feminina de Os Últimos Jedi, a bagunça que a Disney fez com a demissão de James Gunn, a toxicidade do público nerd... Todos entre os textos mais lidos no JUDAO.com.br em 2018.
Até que, depois dessas e MUITAS outras, chegou Setembro. E com ele, a publicação do texto mais lido do site esse ano: o easter egg no jogo do Homem-Aranha e o machismo nosso de cada dia. Nele, falamos sobre o mito do homem nerd bonzinho que tenta MUITO agradar mulheres, mas que sempre perde e é trocado porque essas MALVADAS não sabem valorizar um cara legal e, por isso, merecem ser xingadas de coisas inimagináveis e receber ameaças diversas. Aparentemente, muita gente queria falar sobre isso: o texto foi compartilhado algumas dezenas de milhares de vezes e, com tudo isso, acabamos lendo alguns comentários de homens que se sentiram ofendidos.
“Tá, mas e a coerência na questão familiar? Será que vocês tem (sic) uma visão como normal um possível abalo entre irmãos pelo motivo de terem relação com a mesma mulher, quando a mesma terminou recentemente?! Aí já passa dos limites da moral humanitária”, quis ensinar um rapaz no Twitter. “Já sabia quem tinha escrito antes de abrir o link. Judão de mal a pior!”, falou outro no Facebook, com um começo muito elogioso. Ainda em Setembro, desativamos nossa página do Facebook pra tirar dessas pessoas um ambiente fértil pra espalhar comentários ofensivos.
Esse Ano-da-Graça-de-Nosso-Senhor-2018 termina com a notícia de que filmes com protagonistas femininas estão faturando BEM mais nas bilheterias do que outros. O estudo, feito pelas agências CAA e shift7, comparou produções grandes de 2014 a 2018 e sacaram que longas com mulheres à frente da história levaram até 200 MILHÕES de dólares a mais. “O que vemos nas telonas afeta a todos nós e pode aumentar ou diminuir nossa confiança,” disse Megan Smith, CEO da shift7. “Quando pessoas que sempre foram pouco representadas são estereotipadas ou excluídas, nós diminuímos sua autoestima, tiramos delas bons exemplos de vida e atrasamos nosso potencial social e econômico”. Ou seja: além de socialmente justo, representatividade tem se mostrado como algo lucrativo. E muito embora isso seja uma coisa não comercial, não há como negar que estúdios e produtoras estarão cada vez mais a fim de investir nisso.
E, olha, a gente entende: A cultura pop é um refúgio pra muitos. Você se espelha nela, cresce com algumas obras, se apaixona por jogos, usa filmes como referência para seus pensamentos, fala de episódios de séries usando frases como “eu na vida”... É CLARO que mudanças estruturais em certas coisas podem causar estranhamento. Mas o caminho por onde você leva esse sentimento é o que faz diferença.
Se a existência de mulheres em um jogo sobre a Segunda Guerra Mundial te incomoda, questione o porquê do incômodo e do apagamento dessas pessoas que não vimos nas aulas da escola. Se uma animação é refeita e uma personagem perde uma sexualização exagerada, pense quais os motivos que fazem com que aquele desenho antigo já não faça sentido. Se uma pessoa que faz parte de alguma minoria social aponta como ofensivo um comportamento que pra você é normal, queira aprender o PORQUÊ da ofensa – e como ela pode ser evitada.
Ouça a população LGBTQ+. Ouça as pessoas negras. Ouça mulheres. Ouça pessoas que não têm dinheiro. Ouça. Compreenda, de uma vez por todas, que sentir-se representado NÃO DEVE ser um privilégio. E que o JUDAO.com.br vai continuar trabalhando pra te ajudar a pensar sobre isso — ou incomodar profundamente –, cada vez mais. :)