De um palhaço assassino para um super-herói palhaço! | JUDAO.com.br

Jon Watts, diretor escolhido para a próxima aventura solo do Homem-Aranha nos cinemas, iniciou a carreira com um filme de terror trash. Assim como um tal de Sam Raimi… ;)

No começo da tarde da última terça-feira (23), o mundo nerd entrou em polvorosa com o anúncio do ator Tom Holland como o novo Homem-Aranha. BOOM!

Mas, de forma bem discreta, a Marvel também anunciou o diretor do próximo filme solo do Cabeça de Teia, um tal de Jon Watts. Ele foi escolhido por conta de seu longa anterior, Cop Car, thriller com Kevin Bacon que fez ~burburinho quando exibido no último Festival de Sundance.

Ninguém parece ter dado muita importância pra esta informação, em particular.

Sabe o que acontece quando você é o maluco por filmes de terror que topa assistir qualquer bagaceira em prol da cultura pop e ainda tem um site sobre isso? Me encarregaram, então, de prestar um serviço de utilidade pública para os leitores do JUDÃO e falar sobre Clown, um dos primeiros longas dirigidos pelo cineasta que, antes disso, basicamente tinha trabalhado com filmes para a TV.

CLOWN_DVD_2DNos créditos, em destaque, aparece Eli Roth como produtor — e o cara manja dos paranauê, com filmes como O Albergue, Cabana do Inferno e o talvez-eternamente-inédito Canibais (o tal The Green Inferno, inspirado no famoso ciclo italiano antropófago dos anos 70 e 80) no currículo, além de ser produtor de O Último Exorcismo, produtor executivo da série Hemlock Grove e parça do Tarantino (e responsável pelo MELHOR momento de Bastardos Inglórios ao dizer: MAR-GHE-RI-TI com seu sotaque italiano fake).

Clown é um filme deliciosa e sadicamente divertido. Por incrível que pareça, ele se leva a sério a todo momento, por mais bizarro e estapafúrdio que seja seu roteiro, que aliás, foi coescrito por Watts. O pequeno Jack (Christian Distefano) escolheu o tema PALHAÇOS para sua festa de aniversário, e sua mãe Meg (Laura Allen) contrata um arlequim para alegrar a garotada, que acaba furando de última hora. Para não deixar o pivete na mão, seu pai Kent (Andy Powers), um corretor de imóveis, encontra em uma casa à venda uma antiga fantasia de palhaço dando sopa (ah, vá!) e resolve vesti-la.

Só que no dia seguinte ele não consegue tirar a roupa — que, por algum motivo bizarro, está colada ao seu corpo. Ele tenta com um estilete, com uma lixa elétrica, e nada funciona. Aos poucos, sua personalidade vai se deteriorando, assim como sua aparência, até descobrir que o falecido dono da fantasia era irmão de um antiquário que trouxera a INDUMENTÁRIA da Islândia, e, na mitologia nórdica original, o mito do palhaço na verdade é uma criatura demoníaca que raptava as crianças para se alimentar durante o inverno.

Kent começa a se transformar nessa criatura mutante maligna sedenta pela carne dos infantes (que passa a ser interpretada pelo próprio Eli Roth, com uma maquiagem e caracterização dignos de nota) e a única forma de quebrar a maldição é descolar cinco guris para ele jantar. O que eu tenho a dizer disso tudo é que Clown é REALMENTE DO MAL!

Pense em um filme ERRADO? É esse daqui, pois em nenhum momento ele se sente constrangido em mostrar CRIANCINHAS SENDO AMEAÇADAS, MORTAS, DESTROÇADAS, DEVORADAS e sangue para tudo quanto é lado.

Sabe o que mais? Palhaços, pessoal. Tem realmente uma pá de gente que tem medo deles. Coulrofobia é o nome disso. É estritamente não recomendado a esta galera assistir a Clown. Certeza que Pennywise, o palhaço de A Coisa do Stephen King, o suprassumo dos bufões malvados eternizado por Tim Curry em It – Uma Obra Prima do Medo, deve ter ficado orgulhoso. E mais, não pense na bobagem divertida e farrista do clássico dos clássicos, Palhaços Assassinos do Espaço Sideral, campeão de audiência do Cine Trash da TV Bandeirantes nos anos 90. Clown tem um tom bem sério e sádico e com o desenrolar da história, apesar de ser uma bobagem, dá logo para sacar que um final feliz é praticamente impossível.

Pequenos filmes trazem grande responsabilidade?

Tá bom, mas então o que Clown pode indicar com relação a aptidão de Jon Watts em dirigir o futuro filme do Amigão da Vizinhança? Quase nada, na real, exceto a facilidade em colocar uma pessoa em uma fantasia e jogá-la em uma situação vexatória que, vamos lá, é o que esperamos dessa nova encarnação do Aranha nas telas. Mas vamos fazer aqui um exercício de memória e lembrar daquela pessoa que dirigiu a primeira encarnação de Peter Parker nas telonas: Sam Raimi.

Ainda considero a sua trilogia a concepção definitiva do Escalador de Paredes no cinema (sem entrar no mérito do terceiro) e até uma espécie de “modelo padrão a ser seguido” dos filmes de super-heróis. Mas qual foi o primeiro filme de Raimi? A Morte do Demônio, o maior cult trash de todos os tempos! Hum, interessante. É um filme de terror, como, veja só... Clown!

jon.watts_Olha só o que Kevin Feige, o homem que solta e manda prender dentro da Marvel Studios, disse em nota sobre a escolha de Watts: “Assim como James Gunn, Joss Whedon e os Irmãos Russo, nós amamos encontrar novas e empolgantes vozes pra trazer esses personagens à vida. Nós gastamos muito tempo com Jon e achamos suas ideias e trabalho inspiradores”.

E vejamos, tirando os Russo, Whedon foi o criador da Buffy – A Caça Vampiros, enquanto Gunn é uma cria da Troma, a lendária produtora de Lloyd Kauffman e Michael Herz — talvez o maior celeiro de porcarias trash cinematográficas que se tem notícia (tipo O Vingador Tóxico, O Monstro do Armário e Class of Nuke’ Em High) –, roteirista de Madrugada dos Mortos, uma refilmagem do seminal Despertar dos Mortos do George A. Romero (e que foi dirigido por Zack Snyder, hoje na Distinta Concorrência), e diretor de outra pérola B, Seres Rastejantes.

Ou seja, Feige e a Marvel têm um dedo bom para escolher novos diretores e ainda o costume de pinçá-los de experiências anteriores com o cinema de terror ou fantástico de baixo orçamento. Então a escolha de Watts, parando para analisar apenas Clown, que é ridículo mas tem lá seus momentos gore interessantes, faz até sentido, ainda mais pegando Sam Raimi como exemplo.

Agora resta esperar Cop Car chegar por aqui no Brasil (se é que vai chegar...), e a longa e tortuosa estrada até 2017 para ver a sua visão para o personagem MAIS DA HORA de todos os tempos.

Só espero que a molecada fã do Aranha não resolva assistir Clown para conhecer o passado do diretor de seu herói favorito. Isso poderá render noites mal dormidas, uma baita dor de cabeça para seus pais e futuros anos de terapia.