Diretor de The Last Night pode realmente ter mudado, mas precisa demonstrar isso | JUDAO.com.br

Tim Soret, diretor do que talvez tenha sido o grande destaque da conferência da Microsoft durante a E3, pede desculpas por tweets e diz que “muita coisa mudou”. O que?

Todo mundo aqui já fez alguma merda na vida, já magoou alguém, já disse alguma barbaridade. Mas a graça da humanidade é que a gente cresce, evolui, se arrepende, muda. Com o passar do tempo, os pensamentos se tornam outros, as vezes até conflitantes, os atos são completamente diferentes... Enfim. Quanto mais a gente olhar, e seguir, pra frente, melhor — em todos os sentidos.

Durante a conferência da Microsoft na E3, que aconteceu neste domingo (11), entre os 42 jogos demonstrados, dos mais diversos tamanhos, indies ou AAA, um dos que mais chamou à atenção foi The Last Night, com lançamento previsto para Xbox, Windows 10 e Steam no ano que vem.

Descrito pelos criadores como um “mundo aberto cyberpunk bidimensional”, o jogo parecia um REFRESCO pros olhos de quem tá cansado de todo aquele realismo que aparentemente ninguém mais vai conseguir superar. É realmente bonito demais. Mas, como dizem, beleza é um conceito relativo pra caralho.

Pouco depois da apresentação, começaram a ressurgir tweets de Tim Soret, diretor do jogo, no qual ele afirmava ser contra o feminismo AND apoiar o tal do GamerGate. “Hora da controvérsia. Tudo bem. Vamos falar sobre isso, porque é importante” disse Soret no primeiro de uma série de três tweets. “Eu sou completamente a favor de igualdade e inclusão. O mundo ficcional do jogo desafia o progresso tecno-social como um todo, mas certamente não tentando promover ideias regressivas”, disse. “De maneira nenhuma The Last Night é um jogo contra o feminismo ou qualquer forma de igualdade. Muitas coisas mudaram pra mim nesses últimos anos”.

Pois bem, de fato, muita coisa pode ter mudado nesses últimos anos. Tim Soret pode ter percebido o quão perigoso era (ou ainda é?) o tal do GamerGate, além do quão idiota é ser “contra o feminismo, a favor da igualdade”. O comunicado oficial da Raw Fury Games, publisher de The Last Night, que você pode ler na íntegra, em inglês, aqui, essencial e infelizmente basicamente diz isso... E apenas isso.

Durante o PC Gaming Show, também da E3, realizado nessa segunda (12), Soret até chegou a pedir desculpas, mas... pelos tweets. “Eles, de maneira alguma, representam o que eu sou hoje ou o que The Last Night será”.

A questão é que há diversos tweets recentes (tipo, do fim de Abril) AND de pessoas ligadas direta ou indiretamente a The Last Night — como os do tal do Notch, criador do Minecraft — que mostram que as coisas TALVEZ não sejam, ou estejam, tão diferentes assim.

Zoë Quinn, a dev que se tornou a “razão” do surgimento do GamerGate e começou a ser atacada novamente, comentou que “é 100% a favor de não deixar passar quando um dev participou do GamerGate (a não ser que alguém de fato faça reparações, mas ninguém fez)”. E, aqui, ela está mais do que certa. Porque sim, as pessoas mudam. O que elas pensam hoje pode ser completamente diferente do que o que pensavam há três anos. Mas não adianta só, quando a água bate na bunda, dizer que mudou, sem DEMONSTRAR isso de fato.

Tim Soret deveria pedir perdão à Zoë Quinn, além de condenar publicamente o que o Notch, seus colegas e até mesmo seus fãs têm feito, ao invés de simplesmente dizer que “não é mais essa pessoa”. Se ele tá pedindo desculpas pelo que disse, ele precisa demonstrar que o está fazendo porque não concorda com aquilo, e não porque é algo que pode manchar sua reputação e até mesmo criar problemas pro jogo.

Vejamos o que acontece nos próximos meses.