Diário JUDÔNICO da Mostra: Relatos Selvagens e Força Maior | JUDAO.com.br

A Mostra Internacional de Cinema de São Paulo chegou trazendo aquele verdadeiro anual deleite para os cinéfilos – e um verdadeiro teste físico para os despreparados

Todo cinéfilo que se preze sabe que outubro é o mês para se tirar férias. Afinal, é em outubro que o cinema recebe um dos maiores eventos nacionais, senão o maior: a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, evento este que está em sua 38.ª edição e reúne uma média de 340 longas e curtas-metragens, entre novidades, clássicos e raridades em um intervalo de duas semanas. Um prato cheio para qualquer apaixonado pela Sétima Arte, já que é uma oportunidade de ouro para conferir, na tela grande, produções que dificilmente chegariam ao circuito brazuca. Em 2014, a Mostra, que já se tornou um patrimônio da cidade, monopoliza 35 salas de cinema para exibir 330 filmes dos mais variados cantos do planeta, além de trazer uma infinidade de debates, palestras e workshops com profissionais gabaritados da categoria.

E claro, como todo bom cinéfilo (e que dispõe de tempo e MUITA disposição para percorrer uma verdadeira maratona diária entre uma sala e outra e passar o dia inteiro internado), este que vos fala estará lá, conferindo o dia-a-dia da Mostra, que começou neste último dia 16 e se estenderá até o próximo dia 29. E dá-lhe perna pra camelar, mochilinha com litros e litros de água (água em SP? É, ainda tem), barrinhas de cereais e cochilinhos de cinco minutos em bancos de cinemas para aguentar o tranco!

Mostra de São Paulo

Dia 01

Como o tempo é curto e as opções são muitas, rolou uma escala para conferir as coisas mais importantes que serão apresentadas neste ano – consideremos que muitos dos longas da Mostra não chegarão ao circuito comercial, e outros já têm distribuição garantida. A Mostra 38, por sinal, repete uma tendência de alguns anos em priorizar longas-metragens alternativos ao invés de produções mainstream (que também estão lá, como é o caso do sensacional Foxcatcher – Uma História Que Chocou o Mundo, em cuja sessão não consegui entrar porque não tinha mais ingresso).

Neste primeiro dia, “matei” dois belos longas: o primeiro, o drama sueco Força Maior (Turist), de Ruben Ostlund, deixou a galera meio atordoada em uma concorridíssima sessão, galera esta que nem se importou com o atraso de 40 minutos de exibição por conta de problemas com a sincronia das legendas (como muitos filmes não foram comprados por distribuidoras nacionais, a legenda é eletrônica e inserida na projeção no ato da exibição, mais ou menos o que você não deveria fazer, mas faz ;D). Vale a pena correr atrás de uma sessão deste filme, a escolha do país para representá-lo no próximo Oscar, que conta a história de um casal que viaja aos Alpes franceses com seus dois filhos pequenos e entra em crise depois de uma atitude no mínimo BIZARRA do pai em uma situação limite (o restaurante em que almoçavam é subitamente tomado por uma avalanche que não causa danos nem feridos, e na iminência do desastre, o pai atropela todo mundo e sai correndo, deixando mulher e filhos para trás). Mas, se eu fosse o pai e tivesse dois filhos insuportavelmente irritantes como aqueles dois, eu faria a mesma coisa. Desculpa por ter nascido.

Força Maior: uma imagem pra ver se dá uma REFRESCADA, que tá foda.

Força Maior: uma imagem pra ver se dá uma REFRESCADA, que tá foda.

O segundo e o melhor até o momento é a comédia argentina Relatos Selvagens (Relatos Salvajes), de Damián Szifrón, que traz seis engraçadíssimas historinhas sem ligação e retrata personagens vivenciando situações bizarras e perdendo o controle sobre tudo, tipo Um Dia de Fúria potencializado a 10. Em mais uma sessão lotada – a fila já estava formada com uma hora de antecedência – já ficou evidente que a fita caiu no gosto do público. E tinha até um mini fã-clube do Ricardo Darín, que está no elenco (UAU), com meninas dando gritinhos toda vez que ele aparecia em cena! Vários espectadores, ao final da sessão, confidenciaram que assistirão novamente. “Relatos Selvagens” é a escolha da Argentina para tentar uma vaga ao próximo Oscar de Filme Estrangeiro, e já tem data de estreia oficial no Brasil (23 de Outubro). Eu preciso que todos vejam esse troço, porque é realmente hilário.

Outros filmes importantes do dia 01: A Professora de Piano (França), de Michael Haneke, que está dentro da Retrospectiva da produtora MK2, importante distribuidora de filmes independentes europeus; Filha, de Afia Nathaniel, o indicado pelo Paquistão a uma vaga no próximo Oscar; As Horas Finais (Austrália), de Zak Hilditch, que promete apresentar uma visão inédita sobre o tema “fim do mundo”; e O Segredo das Águas, de Naomi Kawase, elogiadíssimo drama japonês.

E a lição que fica deste primeiro dia: preciso fazer mais exercícios. Só de correr de uma sala para outra já deu taquicardia! Se eu sobreviver até o final dessa jornada, sobrevivo a qualquer apocalipse. :)