Diário JUDÔNICO da Mostra: sobrevivemos a 6h de Ninfomaníaca! | JUDAO.com.br

E estamos na reta final da 38.ª Mostra Internacional de Cinema, que monopolizou cinéfilos de todo canto em duas sensacionais semanas de filmes, filmes e mais filmes em SP!

Chega o último final de semana, e a organização da Mostra divulga em primeira mão os longas mais votados até o momento, aqueles que concorrerão, ao final do evento, ao Troféu Bandeira Paulista. Estes longas (11 filmes de ficção e 5 documentários) são escolhidos pelo público, e os finalistas passam pelo crivo do Júri Internacional, formado basicamente por cineastas e profissionais do cinema de bastante influência em seus países. Daí, sairão os dois grandes vencedores. Claro que o anúncio dos finalistas mexeu totalmente com a agenda que montei previamente, principalmente depois que percebi que eu não tinha visto NENHUM dos longas mais bem votados (exceto O Último Trago, da qual já comentei aqui nos Diários)... E para conseguir ingresso em cima da hora, foi um parto. Cheguei até a montar uma barraquinha na fila da Mostra para trocar meu rim por ingressos, mas não fui bem-sucedido. :)

O dia 10 foi bem tranquilo. Com a galera correndo para ver os favoritos, as sessões ficaram menos concorridas, sobretudo porque muitos estavam guardando forças para um dos grandes eventos da edição deste ano: a projeção, na sequência, de Ninfomaníaca Volumes I & II: Versão do Diretor. Você sabe, aquelas duas fitinhas bem puritanas, inocentes e angelicais (!) dirigidas por Lars Von Trier, só que desta vez com a adição de zilhões de cenas explícitas cortadas por imposição da censura nas versões que chegaram aos cinemas recentemente. A maratona começou às 20h e terminou às duas da manhã. Haja disposição para ver tanta putaria! Pra mim, o fato nada mudou: Ninfomaníaca continua o mesmo filme mais-ou-menos de antes, principalmente depois que revelou-se que aquela história de que “os atores não tiveram dublês nas cenas de sexo” era tudo mentira.

Dia 11

Enfim, o final de semana apresentou também outros longas bem quistos, como o drama japonês A Pequena Casa (Chiisai Ouchi), de Yoji Yamada, cultuado no Japão por ser considerado o discípulo mais fiel de um dos grandes cineastas do passado, Yasujiro Ozu. Pela natureza de sua história – um rapaz descobre os diários escritos por uma parente distante, onde ela relata os dias em que trabalhou como doméstica em uma casa de família rica – percebe-se que a fita tem uma tendência enorme de mirar na delicadeza e acertar no melodrama piegas... e infelizmente é o que acontece, mas o filme não é tão ruim quanto aparenta. Em uma comparação inevitável mas eficaz, Clint Eastwood contou quase a mesma história com muito mais competência em seu As Pontes de Madison.

O melhor do final de semana foi mesmo Encontros Com Um Jovem Poeta (Meetings With a Young Poet), de Rudy Barichello, por sinal bastante aplaudido na sessão em que eu estive. Esta fita canadense, que está entre as finalistas para o Troféu Bandeira Paulista, conta a história do aspirante a poeta Paul Susser, que experimenta algo que todos nós sempre sonhamos: ter uma forte amizade e a admiração de seu maior ídolo – no caso de Susser, o renomado dramaturgo Samuel Beckett. “Encontros” é um filme curto, ágil, que apóia-se na brilhante atuação de seus atores (Stephen McHattie, que vive Beckett, é habitual colaborador de Zack Snyder em filmes como 300 e Watchmen) e cativa sem muito esforço. Recomendado.

Encontros Com Um Jovem Poeta

Outros filmes importantes dos dias 10 e 11: Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos (Espanha), o filme mais famoso e premiado de Pedro Almódovar, e um dos mais engraçados também; As Noites Brancas do Carteiro (Rússia), drama premiado em Veneza e dirigido por Andrei Konchalovski, cineasta que nos anos 80 fez carreira no cinema de pancadaria norte-americano como Tango & Cash e Expresso Para o Inferno, agora atuando somente em seu país natal; Queen & Country (Reino Unido), de John Boorman, continuação tardia do clássico da Sessão da Tarde Esperança e Glória; e Do Que Vem Antes (Filipinas), vencedor do Leopardo de Ouro no último Festival de Locarno que narra o cotidiano de uma família ante a ascensão do ditador Ferdinand Marcos nos anos 70 – e que se mostra um violentíssimo teste de resistência, já que a fita tem absurdos 338 minutos de duração. CINCO HORAS E MEIA!

E a lição que fica deste final de semana: pior do que molecada que vai ao cinema em turma, é pessoal da terceira idade que vai ao cinema em turma. Sério, na sessão de “Ninfomaníaca” ouvi cada barbaridade de umas senhorinhas lá que olha... :-D