Faria todo o sentido? Faria. Mas, sem pensar na complicada questão dos direitos autorais, ainda quero ver o caçador fazer sua estreia nas telonas correndo atrás do Cabeça de Teia primeiro. ;)
Este lance de dirigir filmes pra Marvel às vezes parece muito como dar uma caixa cheia de brinquedos nas mãos de uma criança e dizer pra ela “faça o que quiser e use a imaginação”. Se a pessoa que vai sentar na cadeira de diretor for fã de quadrinhos, então, aí a brincadeira fica ainda mais DAORA — porque são décadas de histórias, referências e personagens B pra pinçar ali da caixinha e fazer acontecer com um orçamento milionário. Pensa se não é incrível?
Então... Acho que talvez seja importante dar uma ênfase aí no “parece”. Porque na prática não é assim tão fácil. Fora o fato de que é importante lembrar sempre que isso é cinema mas, sim, isso TAMBÉM é um negócios de milhões de dólares com um monte de executivos babando em cima, a caixinha de brinquedos da Marvel tem suas limitações. Ainda mais porque estamos falando da coisa do universo compartilhado, o impacto que um filme tem no outro, enfim. Tá bom que depois de um Thor: Ragnarok eles parecem estar começando a ligar cada vez menos pra isso e, ufa, ainda bem. Mas...
“Olha, eu não tive problemas com isso”, respondeu Ryan Coogler, diretor de Pantera Negra, quando questionado pelo Yahoo se teve que adaptar alguma coisa pensando no que veio antes e, especialmente, no que viria depois. “Talvez rolasse se eu quisesse, por exemplo, matar o T’Challa ou algo do tipo. Mas nada do que eu decidi fazer criativamente entrava em conflito com o que Joe e Anthony [Russo] estão fazendo com o deles, por exemplo. E não fui encorajado pelo estúdio a fazer algo também. Foi uma situação incrível”.
Legal. Mas, como fã de gibis, Coogler quis fuçar um pouco mais na caixinha e acabou encontrando justamente uma daquelas situações do tipo “tira a mão daí que ESTE brinquedo não pode usar”. O brinquedo em questão se chamava Kraven, o Caçador. Que é inimigo de um certo aracnídeo. E cujos direitos estão nas mãos de um certo outro estúdio — que, ainda que parceiro mais próximo depois da volta ao lar, sabe bem onde estão os seus limites.
“Como fã da Marvel, você quer ir lá e usar todos os personagens. Mas aí saca que tem toda a coisa contratual”, conta ele. “Tem um arco do Christopher Priest que eu acho incrível, poderoso, que tem uma cena enorme do Pantera lutando com o Kraven. Eu sempre amei este personagem, em quase todas as suas versões. E tive este momento ‘eu posso usar o Kraven?’. E me responderam ‘não, este não está disponível’. Ele foi o que me fez pensar ‘ah, cara’. Mas eu nem sei se teria funcionado no filme que fizemos, no fim. Isso foi lá no começo”.
O arco ao qual Coogler se refere rolou em 1998, nas edições 6 e 7 do gibi do herói dentro do selo Marvel Knights. Na história, T’Challa estava exilado de Wakanda, cujo trono foi usurpado por um criminoso, e resolveu tornar-se um vigilante urbano no Brooklyn. Mas eis que, aproveitando a oportunidade, o vilão Lobo Branco (no caso, Hunter, irmão adotivo de T’Challa), acaba contratando o Kraven para matá-lo. Só que não era o Kraven original que a gente conhece, mas sim seu filho, Alyosha Kravinoff, que assumiu o manto de leão do paizão depois de sua morte na icônica A Última Caçada de Kraven.
Em 2011, quando T’Challa voltou a assumir o papel de combatente do crime nas ruas de Nova York, mas desta vez pra dar uma força na Cozinha do Inferno depois que o Demolidor pirou e virou comandante do Tentáculo (é, isso aconteceu), ele se tornou a estrela de um gibi batizado não por acaso de Black Panther: The Man Without Fear. E foi aí então que ele teve a chance de encarar pela primeira vez o caçador original, o ressuscitado Sergei Nikolaevich Kravinoff, criação da dupla Stan Lee e Steve Ditko surgida em Agosto de 1964, na revista The Amazing Spider-Man #15.
Membro de uma família de aristocratas russos que foi para os Estados Unidos depois da decadência da realeza em seu país (além de meio-irmão do vilão Camaleão), Kravinoff é um caçador maníaco e obcecado pelo senso de desafio: sempre está disposto a encontrar uma caça maior, mais complicada e mais arriscada, para provar que é o melhor do mundo. E nada melhor pra se provar invencível do que caçar um humano superpoderoso que se veste de animal (tipo uma Aranha ou uma Pantera).
Geralmente, prefere correr atrás de suas presas sem armas nas mãos, evitando rifles, pistolas, arcos ou afins. O máximo que acaba usando é uma lança ou um par de lâminas. Apesar de ser uma espécie de atleta com treinamento superior, graças à ingestão regular de uma poção feita de diversas plantas da selva, ele amplia sua força, agilidade e resistência, além de seus sentidos (visão, audição e olfato principalmente). Além disso, apesar de já ter mais de 70 anos — ele chegou inclusive a trabalhar ao lado de Nick Fury nos anos 50 — Kraven envelheceu muito pouco fisicamente e parece ter pouco mais de 30 anos de idade.
A versão Ultimate do personagem, no entanto, é do tipo que caberia como uma luva numa trama dos cinemas: ele é um caçador que tem um reality show na TV, caçando os animais mais perigosos do mundo em frente às câmeras. E quando ele vê o Homem-Aranha enfrentando o Doutor Octopus em cadeia nacional, se convence de que aquele moleque é seu próximo alvo.
Personagem do combo do Homem-Aranha, Kraven portanto faz parte do contrato com a Sony — que, como bem sabemos, apesar de ter feito Homem-Aranha: De Volta ao Lar em parceria com a Marvel, está mais do que dedicada a criar seu universo compartilhado próprio. Até o momento, sabemos que vão rolar os filmes do Venom com Tom Hardy e o tal encontro da dupla Gata Negra + Silver Sable. Mas o THR já tinha dado a letra que tanto o Kraven quanto o Mysterio estariam nos planos de outros filmes solo (não tem herói, vai vilão mesmo).
“Ele é um personagem incrível”, esquivou-se Sanford Panitch, presidente da Columbia Pictures, quando questionado sobre pela Variety sobre o assunto. “Vamos apenas deixar assim”.
Este tipo de comentário é daquele que pode significar um monte de coisa ou então merda nenhuma. Mas, no mínimo, pode dar a entender que Kraven está nos planos do estúdio — algum deles. Porque, além de um potencial filme solo, Kraven poderia ser um dos vilões a dar as caras na continuação de De Volta ao Lar, ainda no esquema Marvel + Sony parceironas, que deve começar a ser rodada em Junho deste ano e, segundo consta, teria minimamente a inclusão de Gwen Stacy no circuito. O lançamento está previsto pra 2019.