Lamen e Dracomics chegam com algumas histórias 100% nacionais e sem custo algum pros leitores
Depois de começo lento em relação a outros mercados, o Brasil parece ter entrado de vez na era das HQs digitais. Já são alguns serviços do tipo por aqui, indo das grandes editoras aos pequenos e independentes. E essa lista ganhou, nas duas últimas semanas, dois novos integrantes: Lamen e o Dracomics.
O que os dois tem em comum? Simples: mangás nacionais de graça. ;)
O Dracomics foi lançado, como o nome já entrega de cara, pela Editora Draco. “Esse é um site para construirmos uma relação mais próxima do leitor”, explica o editor Raphael Fernandes. “Ao invés de apenas jogar as publicações impressas nas livrarias e torcer para as pessoas descobrirem, nós decidimos oferecer para quem quisesse ler e com isso gerar nosso próprio público”. A intenção da editora é colocar três séries por vez, mais uma minissérie ou edição especial. De cada uma delas, dez páginas são publicadas mensalmente.
A ideia da plataforma surgiu quando Fernandes estava começando o projeto do mangá Zikas, junto com Alessio Esteves. “Daí surgiu a necessidade de ser uma webcomic e que tivesse periodicidade”. A partir disso, veio o processo de selecionar os títulos para compor a primeira leva da plataforma. Além de Zikas, que tem arte de Júnior Ferreira, o Dracomics conta com Quack, de Kaji Pato; Starmind, com roteiros de Toppera TPR e arte de Ryot; e Ôch, de Raphael Salimena.
Basicamente, o Dracomics está publicando online mangás que a editora já vai levar pras livrarias. “As séries só foram pro ar quando os volumes impressos estavam quase concluídos. Ou seja, pretendemos lançar encadernados das histórias antes de terminar a publicação no online. Quem quiser ler antes, só correr pras livrarias ou clicar nos nossos banners pra adquirir os quadrinhos impressos”, explica Fernandes, definindo como o serviço gratuito vai se rentabilizar: funcionando como porta de entrada para novos leitores que, depois, vão se sentir motivados à comprar os encadernados completos ou conhecer mais do trabalho dos autores. Uma grande vitrine digital da Draco.
“Por enquanto, não estamos selecionando novos trabalhos, mas temos planejado coletâneas dedicadas ao estilo mangá. Tudo vai depender de como as coisas vão se desenvolver com o site”, conta Fernandes, que liga os farois no fim do túnel pros autores que quiserem entrar na brincadeira. “Porém, nada impede o cara de procurar o blog da Draco e mandar um e-mail para nós. Por enquanto, estamos em busca de obras inéditas e não temos interesse em séries já publicadas na internet”.
O Lamen tem um conceito bem parecido. A grande diferença é que os capítulos dos mangás são publicados semanalmente, inspirado no formato como essas histórias saem no Japão. Outra diferença é que os títulos foram criados especialmente para a web.
Todo o projeto também começou como uma ideia do roteirista Douglas MCT em disponibilizar seu novo mangá, o SUPER. “Eu começava a desenvolver SUPER e quando o Fabiano Ferreira fechou como artista, eu comecei a pensar em maneiras interessantes de lançar isso na web, até ter o insight pro Lamen, que também era um desejo antigo meu, de reunir um time de outros artistas e títulos para mostrar suas histórias na web, já que antes, esses mesmos artistas lançavam suas obras individualmente e com pouco alcance em blogs e sites não pensados para uma navegação adequada de quadrinhos”, relembra MCT. “O Lamen pretende ser uma vitrine pra autores e artistas, mas também entregar a melhor experiência digital pro leitor”.
No Lamen, diversos quadrinistas e títulos estão envolvidos. Além de Douglas MCT e Fabiano Ferreira, o site ainda conta com Fabiano Santos e Igor Guanandy no mangá Dragon’s Tale; Henrique DLD em Engrenagem Cristal; Vinicius de Souza, de Digude; Kari Esteves, autora de S.P.Y. Project; Heitor Amatsu, em LOKI; Israel de Oliveira e Charles Lindberg, ambos em Nuvens de Verão; e Fabio Lino, autor de Aventura de Gally. “Temos ainda outros seis autores e artistas prontos para estrear a partir de agosto. Anunciaremos em breve”, conta MCT.
Só que a grande diferença do Lamen ao Dracomics é que o objetivo é realmente ficar no digital – o impresso nem é um foco, aliás. Por isso, o site vai buscar outras formas para se rentabilizar, como venda de anúncios e assinaturas no esquema do Patreon. “Fizemos uma parceria com a versão brasileira do conceito, o APOIA.se, onde teremos inúmeros planos a partir de R$ 1 para o leitor contribuinte, envolvendo participação no Lamen Club, recebimento de capítulos com antecedência por e-mail, extras exclusivos, artes autografadas, bate-papo com os autores via streaming, etc. Nesse caso, cada autor receberá 70% do valor, com 30% para a plataforma arcar com os custos de servidores, hospedagem e outras manutenções”.
Pra quem quiser participar como autor, o criador do Lamen avisa que estão construindo uma seção específica pra isso, tirando todas as dúvidas de como entrar para a plataforma. “Mas, pra começar, selecionamos títulos que já tiveram certa relevância, ou num passado impresso ou na web, com níveis de qualidade de roteiro, arte e narrativa, que avaliamos caso a caso. Também vamos agregar obras inéditas (como foi o caso de Engrenagem Cristal e LOKI, além de SUPER), e para isso, além de analisar os requisitos já citados, também precisamos saber se o autor aceita trabalhar no formato de dividir os capítulos em partes e se tem bom senso e certo nível de profissionalismo pra submeter suas páginas para revisão”.
Acessando os dois sites, as similaridades continuam: são bem fáceis de serem usados. As HQs são disponibilizadas como ~galerias e você vai clicando para abrir a página seguinte. Também não precisa ter cadastro, nem nada disso. No caso do Lamen, as páginas são bem maiores, o que é interessante para ver melhor a arte, mas que pode atrapalhar um pouco se você está usando um monitor com baixa resolução. Talvez fosse interessante que os dois sites utilizassem páginas responsivas ao tamanho do monitor do visitante, como o ComiXology via web.
Falando no ComiXology, o app dos gringos se tornou meio que a referência na leitura de HQs em tablets, justamente por conseguir ficar mais próxima da leitura de cada página do gibi como se fosse a edição física, na palma da mão. Só que as duas plataformas não possuem aplicativos e tentam trazer a mesma experiência pelo site, ficando um pouco longe disso.
“Não somos um aplicativo, como o ComiXology e, dentro da nossa proposta, o Lamen foi pensado pra funcionar em todo e qualquer tablet e smartphone, além de computadores”, explica MCT, que avisa que quem preferir um aplicativo terá outras formas de ler os mangás do site. “Os títulos do Lamen também constarão nos catálogos dos apps Social Comics e Cosmic, por isso ainda não planejamos ser um aplicativo”.
Já a ideia do Dracomics é avançar um pouco mais na compatibilidade, como avisa Fernandes. “No momento, nós vamos manter o site e trabalhar para que ele seja amigável com as plataformas móveis. O Paulo H. GraveHeart é o nosso webmaster e está sempre dando um talento no site. Para nós, é importante que ele esteja sempre evoluindo, tanto em conteúdo como em acessibilidade”.
Apesar dos eventuais percalços que iniciativas como essas sempre tem, o importante é que, cada vez mais, quadrinistas e editores brasileiras estão se aventurando em novos formatos para mostrarem seu trabalho – e quem ganha são os leitores, claro. “Vamos continuar fortalecendo o digital, pra crescer junto do mercado brasileiro de HQs e juntos alcançar um lugar ao Sol. Já tamos vendo o primeiro feixe de luz ali no fim do túnel, quem diria”, finaliza Douglas MCT.
E já tinha muita gente achando que essa luz aí era uma lenda... ;)
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