Pelo menos é o que diz Daniel Ek, CEO da plataforma de streaming musical. Mas talveeeeeeeez ele esteja se referindo a uma questão mais específica aqui…
Depois de toda a treta com o Napster, no começo dos anos 2000, confesso que AINDA acho estranho ouvir o Lars Ulrich, baterista e um dos porta-vozes do Metallica, falando abertamente que AMA o Spotify. “Eu não sei se ele é o único futuro possível para o mundo da música, mas certamente é uma grande experiência, que está dando muito certo”, afirmou o músico, em 2013, numa entrevista pra NME.
Isso porque, até metade do ano passado, um dos membros integrantes do conselho de diretores da plataforma de streaming era ninguém menos do que Sean Parker (aka Justin Timberlake no filme A Rede Social), ninguém menos do que co-fundador do Napster. Eita mundinho que dá volta, né?
Tudo indica, no entanto, que este caso de amor é ainda mais intenso e profundo do que a gente imaginava. Pelo menos foi o que deu a entender Daniel Ek, CEO do Spotify, durante uma daquelas tradicionais conferências de resultados financeiros que grandes empresas fazem com seus investidores. “Você tem artistas como o Metallica, que mudam seu setlist de cidade em cidade apenas analisando dados do Spotify, decidindo quais são as canções mais populares naquela região”, afirmou ele, de acordo com informações do site Quartz, especializado no novo cenário econômico global.
Segundo ele, artistas e gravadoras agora podem saber mais sobre quem seus fãs são, principalmente por conta deste tipo de informação de hábito de consumo de música que a plataforma compartilha com eles — e, desta forma, o Spotify também estaria ajudando a mudar a indústria musical. “Nunca estivemos num momento como este, no qual você pode tomar decisões com base em informações e entender tão bem a sua audiência”, finaliza o executivo.
Embora o Metallica não tenha se manifestado a respeito, dá pra acreditar que seja verdade, já que Lars já disse algumas vezes, como nesta entrevista do ano passado pra rádio 97.9, de Baltimore, que desde 2003 ou 2004 ele faz uma análise detalhada das canções executadas por eles em cada região nas apresentações anteriores e também do que o público ouve deles nas rádios e nas plataformas de streaming, usando um recorte de cerca de uma década.
A intenção é mudar em média de seis a oito canções no setlist, para dar ao público “uma experiência diferente”. De acordo com o baterista, desde então eles não fizeram um único setlist igual ao outro.
Claaaaaaaaro que titio Lars é um homem de negócios que não é bobo nem nada e muito disso OBVIAMENTE tem a ver com o LiveMetallica.com, iniciativa que vende as faixas de todos os shows que os caras fazem, gravadas em alta resolução e disponibilizadas em até 48 horas depois da apresentação. Por no máximo 20 doletas, você compra o dito cujo na maior tranquilidade e, sejamos honestos, como diabos fazer o fã fanático e fiel gastar o dinheirinho dele com todos os shows de uma única turnê se todas as noites forem rigorosamente iguais, né?
Se a gente der uma olhada nos setlists das últimas performances do Metallica em suas apresentações na turnê europeia, por exemplo, vamos perceber que de fato rola uma modificação de noite pra noite. Os dois últimos shows, dias 9 e 11 de maio, na Hartwall Areena, na cidade finlandesa de Helsinki, têm as três primeiras canções idênticas, assim como as quatro que encerram os shows. Mas o miolo tem pelo menos CINCO músicas diferentes.
A mesma lógica valeu pra dobradinha dos dias 5 e 7 de maio em Estocolmo — assim como valeu pros dois shows consecutivos que a banda fez na cidade de São Paulo, em 2010, pra divulgar o na época recém-lançado disco Death Magnetic. Eu lembro que estive lá, na primeira data, 30 de Janeiro, e ao conversar com amigos que compraram ingressos para o dia seguinte, comparamos setlists e eles realmente foram diferentes, incluindo o tão aguardado cover que eles metem no meio da performance, variando de Queen a Misfits e passando por Thin Lizzy, Diamond Head e Mercyful Fate, relembrando o clássico disco Garage Inc. (1998).
Este mesmo Metallica pirado em análise de dados de comportamento de audição de seus fãs foi aquele que, em 2014, fez 25 shows na Europa e na América do Sul numa turnê batizada de Metallica By Request. Basicamente, o público do local podia escolher via website, meses antes, o setlist da apresentação por lá e, no dia do show, via SMS, dava pra votar em uma das faixas a serem executadas no bis.
Se a gente olha o setlist de São Paulo e Buenos Aires, por exemplo, a mudança é quase que nula, com foco quase que total no clássico Master of Puppets e no popularíssimo Black Album. Mas aí pula pra Finlândia, que já te mostramos aqui que é a Terra do Metal, e os caras foram buscar The Frayed Ends of Sanity lá do fundo do baú, uma música que o Metallica NUNCA tinha tocado ao vivo na íntegra.
O que isso diria pro Lars, especificamente? Que é pra ele vir pra América do Sul e tocar sempre o Black Album na íntegra e guardar as raridades? Ou que talvez seja legal que a banda obviamente atendesse ao seu público tocando aquelas que não dá pra evitar (Enter Sandman, tô falando com você), dando à audiência o que ela quer, só que talvez alternando não apenas com faixas do disco novo mas também com canções menos populares e mais difíceis, desafiando a audiência? Não seria um bom equilíbrio? PODIAM ATÉ SURPREENDER TOCANDO UMA DO LULU, O DISCO “RENEGADO” COM O LOU REED?
A respeito da declaração de Daniel Ek, no entanto, pode ser que ela se foque atualmente não no setlist da banda como um todo, mas talvez num momento especifico no qual o Metallica vem investindo acertadamente recentemente? Afinal, quem acompanhou as últimas performances dos caras viu que, depois de Halo on Fire, James Hetfield e Lars saem do palco e deixam Robert Trujillo (baixo) e Kirk Hammett (guitarra) comandarem um pouco a ação. E o que eles fazem? Tocam uma música de uma banda local. :)
Na Finlândia foi Dead, Jail or Rock ‘n’ Roll, de Michael Monroe, do Hanoi Rocks; na Suécia teve Dancing Queen (ABBA) e The Final Countdown (Europe); na Noruega rolou Take On Me (A-ha); na Alemanha a escolhida foi Balls to the Wall (Accept); na Suíça foi a pancada Procreation of the Wicked (Celtic Frost); na Áustria aconteceu Rock Me Amadeus (Falco); e em Portugal teve uma EMOCIONANTE homenagem aos Xutos e Pontapés, cujo guitarrista e fundador Zé Pedro morreu em 2017, com Minha Casinha (ver o Robert se esforçando pra cantar em português é muito bonitinho, hehe).
Estaria Lars cruzando os dados do Spotify pra entender que OUTRAS bandas/artistas os fãs locais do Metallica ouvem ALÉM do Metallica? Estaria aí um uso bem interessante desta inteligência digital... E sim, estamos esperando DESDE JÁ que os caras venham tocar Pabllo Vitar no Brasil.
POR FAVOR ALGUÉM FAÇA ISSO ACONTECER.