Destruir a nave estelar e em seguida aparecer com outra novinha em folha é, digamos assim, uma das tradições da franquia.
SPOILER! No exato momento em que, durante Star Trek: Sem Fronteiras, descobrimos que a Frota Estelar estava construindo uma nova nave dentro da base Yorktown algo ficou claro praquele fã das antigas. Quando a Enterprise foi devidamente destruída no decorrer do filme, era questão de tempo até que surgisse a NCC-1701-A — ou, em outras palavras, a USS Enterprise-A. Algo que ecoa lá da cronologia original da franquia...
Tudo começa durante o fime Jornada nas Estrelas III – À Procura de Spock, lançado em 1984. O vulcano havia morrido ao final da história anterior, com os restos mortais sendo jogados no planeta Gênese, criado a partir de uma bomba capaz de criar vida. Só que Kirk, McCoy, Scotty, Sulu, Uhura e companhia descobrem que isso, na verdade, fez não só com que Spock vivesse novamente, mas que o corpo do cara voltasse à infância. Assim, eles precisam não só ir até o meio de uma zona politicamente instável do universo para resgatar o Spock, como em seguida levá-lo até o planeta Vulcano para que suas memórias fossem restauradas (por um tempo, elas ficaram “guardadas” na mente do Dr. McCoy, numa daquelas ironias da vida).
Só que a Frota, preocupada com a politica que envolve um novo e perfeito planeta desabitado no universo, proíbe que a Enterprise vá até Gênese. Não que seja exatamente um problema: Kirk e a tripulação roubam a própria nave que, no clímax do filme, é atacada por uma Ave de Rapina Klingon e destruída. O destino da clássica Enterprise é se transformar em uma bola de fogo no céus de Gênese.
A trajetória do resgate de Spock é concluída a bordo dessa mesma Ave de Rapina, que é também utilizada pela tripulação para voltar no tempo e salvar a Terra durante Jornada nas Estrelas IV: A Volta pra Casa, de 1986. No final dessa mesma história, que se passa no ano de 2286, os antigos tripulantes da Enterprise são perdoados pelos crimes que cometeram no filme anterior. Apenas Kirk é penalizado, sendo rebaixado de almirante para capitão e recebendo uma nova nave para liderar ao lado dos velhos companheiros.
Incialmente eles estavam achando que receberiam da Frota a Excelsior, a mais poderosa nave estelar da Federação. Estavam errados: eis que surge uma nova nave da classe Constitution, externamente parecida com a anterior, só que agora com o prefixo NCC-1701-A. Era a USS Enterprise-A da timeline original.
Uma rápida explicação sobre essas “classes”: são as “séries” das naves estelares da Frota, normalmente categorizando aquelas que são criadas a partir de um mesmo projeto base. Normalmente o nome é dado a partir da nave/protótipo que começou essa classe. A USS Constitution, por exemplo, é quem iniciou a classe da Enterprise. Na marinha dos EUA no mundo real é praticamente a mesma coisa.
A nova nave estelar foi ALÇAR VOO em uma grande história no filme seguinte, Jornada nas Estrelas V: A Fronteira Final, de 89. Com a série Jornada nas Estrelas: A Nova Geração no ar desde 87, a Enterprise-A recebeu logo de cara uma atualização na ponte de comando, pois a equipe de arte do novo filme queria deixar clara uma sensação de que aquele universo dos tiozinhos de Star Trek estava evoluindo para algo próximo do que seria visto no século seguinte com capitão Picard e companhia.
Além disso, a nova Enterprise passou a viver uma situação incomum na Frota: ter três capitães a bordo. Jim Kirk, rebaixado no filme anterior, era o primeiro no comendo, seguindo por Spock (capitão desde antes dos eventos de Jornada nas Estrelas II: A Ira de Khan) e seguido por Montgomery Scott, promovido a “capitão da engenharia” ainda em Jornada nas Estrelas III.
A clássica tripulação da Enterprise retornou para mais um filme, Jornada nas Estrelas VI: A Terra Desconhecida, lançado em 1991. Considerada uma das melhores histórias da franquia, explica finalmente como a Federação e os Klingons encontraram a paz vista na época da Nova Geração. Uma curiosidade sobre a Enterprise-A nesse filme é que o diretor Nicholas Meyer exigiu que a nova ponte da nave deixasse de lado alguns comandos por touch screen, vistos no filme anterior, por botões e comandos “físicos”. Não deixou de ser uma falta de visão FUTURISTICA do cara...
Aquela acabou sendo a última aventura da nave. A NCC-1701-A foi descomissionada após a missão, em 2293, com toda a tripulação clássica, teoricamente, se aposentando.
Só que aquele não foi o fim do nome Enterprise na Frota Estelar. Tendo marcado época, o nome voltou a batizar uma nave da classe Excelsior, lançada ainda em 2293. Era a NCC-1701-B, a Enterprise-B, que teve o comissionamento mostrado nas primeiras cenas do filme Jornada nas Estrelas: Novas Gerações, de 1994. Sim, é o momento da ~morte do capitão Kirk.
Durante a série da Nova Geração houve ainda uma viagem temporal que nos mostrou a USS Enterprise-C, da classe Ambassador, que foi destruída em 2344 pelos romulanos. Já a Enterprise-D, famosa justamente por ser a nave estelar de Picard e companhia, teve uma brecha no núcleo de dobra, causando a explosão da sessão secundária, aquela dos motores de dobra e da engenharia. Esse modelo, da classe Galaxy, conseguia justamente separar a parte do “disco” do resto da nave, o que foi feito como manobra de emergência. Porém, a onda de choque da explosão acabou fazendo com que o restante da Enterprise-D caísse na superfície do planeta Veridian III – tudo isso já em 2371, como relatado no filme Jornada nas Estrelas: Novas Gerações.
No ano seguinte a Frota Estelar comissionou uma nova Enterprise, a NCC-1701-E, da classe Sovereign, que continuou com a tripulação da Nova Geração pelos filmes seguintes. Até onde se sabe, essa é a última nave da Frota Estelar a carregar o tão famoso nome – já que não existem novas histórias canônicas após o final do filme Jornada nas Estrelas: Nêmesis, lançado em 2002. Sim, eu sei que tem uma NCC-1701-J em Jornada nas Estrelas: Enterprise, mas ali era uma linha temporal alternativa.
Por tudo isso, destruir uma Enterprise e colocar outra no lugar não é uma exclusividade na chamada “Kelvin Timeline”, a nova linha temporal da franquia, iniciada após o ataque do vilão Nero, vindo do século XXV, à Frota Estelar em 2233. Aliás, a destruição da NCC-1701 da realidade alternativa lembra bastante o final da Enterprise-D.
Claro que, obviamente, nem tudo é igual. A nova linha temporal abreviou as viagens da NCC-1701 em VINTE E TRÊS ANOS, com a Enterprise-A aparecendo em 2263, e não mais em 2286. Além disso, a nave estelar da nova linha temporal é consideravelmente maior que a original. Não há, ainda, dados confirmados da nova NCC-1701-A, mas a Enterprise anterior tinha 725 metros de comprimento, enquanto a Enterprise-A da timeline original media 305 m. Pra você ter uma ideia, a Enterprise-E, a última da cronologia clássica, chegava aos 685 metros de comprimento. Essa mudança é justificada pelo contato de um momento da história de Star Trek com uma tecnologia do século seguinte, além do maior perigo BÉLICO que passou a rondar a Federação.
Só vamos torcer, agora, pra que a nova Enterprise-A dure o suficiente pra proteger o universo por mais uns anos. ;)