A vida não imita a arte | JUDAO.com.br
18 de fevereiro de 2019
Editorial

A vida não imita a arte

OUÇA o que as pessoas negras têm a dizer. #VidasNegrasImportam

MUITA coisa ruim aconteceu nessa última semana — e isso parece estar ficando cada vez mais normal. É muito triste, pesado e complicado lidar com cada uma das coisas com as quais somos bombardeados minuto a minuto, o que parece fazer com que o tempo demore demais a passar.

Especialmente essa semana, porém, me lembrei de quando Amber Ruffin, uma das roteiristas do Late Night with Seth Meyers, logo depois da eleição de Donald Trump, convidou as pessoas brancas a se juntar “à diversão”. “Se juntar à diversão? O que você quer dizer com isso?”, perguntou Meyers. “O jeito que vocês estão se sentindo agora é como as pessoas negras se sentem desde sempre!”, ironizou a moça.

Nós, brancos, estamos ficando EMBASBACADOS com tanta coisa com as quais as pessoas não-brancas, em especial as negras, vivem desde sempre que chega a ser ridículo. O assassinato do garoto no Hipermercado Extra (não vamos nos esquecer desse nome, por favor!) talvez seja o melhor exemplo disso — ainda que, claro, tentem justificar as coisas de alguma maneira completamente doentia.

Em seu Instagram, a atriz Maria Flor fez um desses relatos chocantes à população branca, mas que mostra exatamente o quão normal esse tipo de coisa é para os negros desde sempre. Recomendo que você leia, na íntegra, clicando aqui; mas faço um resumo bem resumido: ela, durante três anos, namorou o também ator Jonathan Haagensen. Um dia, o carro em que ele dirigia, com ela ao lado, foi parado por policiais na entrada do Vidigal, no RJ, onde ele morava. Eles fizeram com que o cara saísse o carro, o revistaram e isso fez com que ela saísse do carro e começasse a gritar com os policiais, diante do óbvio absurdo que era aquilo — o que fez com que os dois fossem levados à delegacia, por “desacato”.

“Eu nunca vou esquecer o rosto do Jonathan indo para a delegacia. Tudo que ele tinha passado a vida evitando eu tinha feito acontecer por um capricho meu, por não olhar para tudo a minha volta e perceber que a coisa era muito mais grave”, disse. “Que abaixar a cabeça tinha sido a realidade dele e eu achei que poderia salvá-lo disso. Eu, branca, garota da zona sul do Rio de Janeiro, achei que podia fazer justiça”.

Pra quem ainda acredita na ideia imbecil de que um filme é só um filme, um show é só um show, uma música é só uma música, que é só entretenimento, só diversão, só um momento pra “desligar o cérebro”, o que a Maria Flor narrou é exatamente o que acontece no início de Corra!, filme de 2017 dirigido por Jordan Peele. Dessa vez eu não vou resumir nada, você pode apertar o play aí embaixo.

Não cabe a nós, brancos, dizer qualquer coisa sobre isso além de “OUÇA o que as pessoas negras têm a dizer”. OUÇA suas histórias. Perceba o quanto nós, brancos, somos privilegiados pelo simples fato de não precisarmos andar com nota fiscal de qualquer coisa que tenhamos comprado, imagina então sermos assassinados só por existir? OUÇA os relatos, desde os feitos por alguém na rede social que você nunca viu e apareceu na sua timeline através de um compartilhamento, seja o feito por um dos melhores filmes dos últimos tempos.

Não deixe passar. Não ignore. Coloque-se no lugar dessas pessoas ou, como alguns disseram, coloque o seu cachorrinho no lugar dessas pessoas se for muito complicado pra você compreender a importância da vida de um ser humano.

É empatia que chama.