Já falamos diversas vezes aqui no JUDÃO, mas não custa nada repetir: uma das coisas que Vingadores – Era de Ultron ensinou é que, ao revelar muito do enredo, os trailers estragam a diversão. É como se, na sala de cinema, você estivesse tendo um déjà vu, apenas com as cenas na ordem correta. E você, que ficou imaginando que teria MAIS do que havia nos trailers, fica frustrado. Lembra do Hulkbuster contra o Golias Esmeralda? Pois é. Bem isso.

Aparentemente a lição foi aprendida por Star Wars: O Despertar da Força que, antes da Disney botar a máquina de divulgação pra funcionar nessa reta final e fazer um TV spot a cada 38 segundos, se segurou bastante nas prévias. O mesmo se pode dizer, por enquanto, de Capitão América: Guerra Civil. Porém, os Irmãos Warner faltaram nessa aula. O segundo (se você não contar os dois primeiros teasers) vídeo oficial de Batman vs. Superman: A Origem da Justiça foi revelado nesta madrugada, durante o Jimmy Kimel Live.

Bom, se você ainda não viu (como assim?), just push play.

Não precisa somar 1 + 1 pra entender que veremos Clark Kent e Bruce Wayne interagindo inicialmente em suas identidades civis. E esta é a parte legal da coisa. A parte que realmente empolga aqui, que faz a gente dar aquela pirada. A interação cheia de referências entre os dois, as provocações a la Os Melhores do Mundo (talvez o melhor retrato do relacionamento entre a dupla de heróis, cortesia de Dave Gibbons e Steve Rude), era o tipo de coisa que tava fazendo falta até o momento. Legal demais. Até aí, vambora.

Depois, sacamos que o Batman se levantará contra o alien que fodeu a vida de muita gente em Metrópolis (e, provavelmente, em Gotham) – como, aliás, já dava pra ver nos trailers anteriores, nada de novidade. Essa dualidade entre as personalidades e as abordagens de cada um terá um fator importante nisso tudo.

Ah, sim, o Batman usa armas de fogo. E nem vem com mimimi: o herói tem o código dele, mas, quando necessário, ele usa esse tipo de armamento. Digamos que enfrentar aliens mega ultra master poderosos se enquadra no “quando necessário”, tá?

Depois – e é aí que o trailer entrega mais do que deveria – temos claramente o Lex Luthor manipulando a situação, claro não só pela narração em off, como também pelo diálogo com a Lois Lane. Piora: o vídeo também mostra que Luthor quer fazer de tudo para derrotar o Homem de Aço, e isso inclui manipular o corpo do falecido General Zod e transformá-lo na versão cinematográfica do vilão Apocalypse — usando, aparentemente, uma espécie de casulo. Será tecnologia de Krypton?

Enfim, essa transformação do Zod no Apocalypse chegou a aparecer em alguns rumores nos últimos meses. Mas não precisava ter sido mostrado AGORA. Colocar o Zod morto, como já tinha sido feito no outro trailer, já tava de bom tamanho. Já teríamos uma ideia que, de alguma forma, o personagem ainda teria uma relevância nessa nova história.

Acha pouco? O trailer também entrega que é a chegada do Apocalypse que irá unir os dois heróis, como também forçará a entrada da Mulher-Maravilha na jogada. Isso fica bem claro quando Azulão e Morcegoman perguntam um pro outro “ela tá com você?”. Ficamos aqui realmente esperando que ela seja o elemento-chave para salvar o traseiro dos dois marmanjões aqui. Mas vamos combinar que, se este for o caso, até um pouco disso o trailer já entregou, né?

Até a referência ao Coringa esse novo vídeo faz questão de esfregar na sua cara, quando Bruce diz que Gotham tem um “histórico ruim com malucos vestidos de palhaços”.

Pensa um pouco comigo: o principal argumento de venda do filme é que teremos Batman VERSUS Superman. Isso tá no título. Quer algo mais sensacional e fodástico do que isso? Nem vou entrar no mérito se o filme necessariamente precisa de algo além disso, já que ninguém viu a obra completa, mas definitivamente a importância do Lex Luthor, a presença do Apocalypse e o momento que a Mulher-Maravilha entra na brincadeira poderiam ficar totalmente como surpresas pra serem curtidas no escurinho do cinema. Ainda que, para a galera que acompanha notícias de cultura pop diariamente em sites como o JUDÃO, nada disso fosse EXATAMENTE uma surpresa...

Nem dá pra culpar (só) o diretor Zack Snyder pela burrada. Apesar dele ter um nome e uma liberdade criativa que poucos possuem hoje na indústria do cinema, o trailer é ainda uma peça de marketing, de divulgação, e pesam sim os desejos, vontades e medos dos executivos dessa área. Só que eles acabam jogando contra o próprio patrimônio. Tudo isso só pra tentar provocar o fator “MASSAVÉIO”.

A surpresa, agora, seria se matassem o Superman. Mas tá cedo pra isso, né?

Até porque, vamos combinar, 90% do público médio que verá esse trailer nos cinemas nem vai sacar que esse monstrengo é o Apocalypse, muito menos qual é a importância do vilão. Agora, pros outros 10%, a galera mais inteirada e que alimenta o hype, vai sentir que já viu o filme inteiro. Não vai sobrar surpresa alguma. Inclusive, a única surpresa ALÉM do que tá aí seria matar o Superman dos cinemas, o que tá bem cedo pra acontecer.

Tá, ok. Desculpa. Você tá viajando nessa história de “Apocalypse”. Vale uma contextualização, então: o personagem foi introduzido nos quadrinhos, com o nome original de Doomsday, em dezembro de 1992 com um único propósito: matar o Homem de Aço. Era o início da saga A Morte do Superman, publicada no ano seguinte pra, além de turbinar as vendas do herói, segurar um pouco o casamento dele com a Lois Lane, já que houve um acordo com os produtores da série Lois & Clark para que a cerimonia acontecesse ao mesmo tempo na TV e nas HQs.

Acontece que aquela história marcou uma época – pra alguns, por deixar o Azulão mais humano; pra outros, por acabar de vez com os conceitos do Superman clássico, da Era de Prata. O fato é que a saga atraiu os olhares de toda a imprensa mundial e matar super-heróis acabou se tornando um lugar comum ainda maior depois disso. Ah, pouco depois o personagem voltou à vida em O Retorno do Superman, fazendo com que ressuscitar também se tornasse um outro lugar comum, motivo de piada entre os leitores fiéis.

Nas HQs, a origem do Apocalypse não tem ligação com o Luthor, não. Depois, na minissérie Superman vs. Apocalypse, é revelado que o monstrengo é uma criação de cientistas de Krypton, que ficaram clonando e matando uma criança pra provocar a chegada de uma evolução definitiva, criando assim uma arma perfeita. De qualquer forma, adaptações do tipo não chegam a ser, necessariamente, um problema.

Foi ainda nos anos 90 que surgiu a primeira oportunidade de levar o Apocalypse pros cinemas, já que o produtor John Peters queria colocá-lo em Superman Lives, aquele mesmo que teria o Nicolas Cage no papel-título.

O ponto aqui é: o Batman e o Superman vão tretar. A Mulher-Maravilha vai aparecer. Precisamos de uma ameaça maior ainda pra fazer a treta deles parar e eles virarem amiguinhos. Vamos pegar aquele monstrão lá dos gibis e deu, né? O cientista maluco pira, cria ele e joga contra os heróis. E pelo menos o que este trailer nos dá a entender é que o Apocalypse aqui vai ser apenas isso. Um monstrão genérico que cospe fogo – ou algo assim – para ser surrado pela Sagrada Trindade da DC, que vai acabar a história devidamente apresentada, estabelecendo as fundações da Liga da Justiça. Podia ser o Apocalypse como podia ser o, sei lá, Chutador de Bundas From Outer Space. Daria no mesmo.

Tudo muito grandioso, tudo muito estrondoso, tudo muito bonito, dona Warner. A gente queria saber mais da história do filme, claro. Mas não precisava contar TANTO ASSIM, né? ¯\_(ツ)_/¯

Batman vs. Superman: A Origem da Justiça estreia em 24 de março do ano que vem.