Primeiro trailer do novo filme da tripulação Enterprise mostra uns aliens obscuros e investe na ação pra pegar o público de Star Wars
Uma das coisas mais legais estabelecidas no CANON de Star Trek em Jornada nas Estrelas II: A Ira de Khan é que o (então) Almirante James T. Kirk é um fã do passado, mais precisamente do século XX. Quase que uma metáfora de si próprio, afinal o personagem era uma velharia do passado, que desafiava a morte com atitudes impensadas numa época mais civilizada da humanidade. Ainda assim, ele continuava se aventurando no espaço, algo que ele mesmo diz ser reservado aos jovens, e salvando todo mundo. Uma raridade antiga e, ainda assim, necessária
Veio o reboot de 2009, um dos que melhor funcionaram nessa coisa de começar do zero até hoje. TODA a cronologia anterior desembocou na ida do Spock e dos romulanos ao passado, mudando a linha do tempo a partir do nascimento do mesmo James Kirk. É como se a história nova não apagasse a velha, mas sim continuasse a partir dela.
E nessa história nova, logo nas primeiras cenas, vemos um jovem Kirk dirigindo um Corvette 1965. Ele liga o rádio, toca uma música e... É Beastie Boys. Sabotage! Jim continua gostando de velharia, mas não é mais só dos anos 1960, 70 e 80 da Terra. É também dos anos 1990.
Mais de seis anos depois, o primeiro trailer do terceiro filme do reboot, Star Trek: Sem Fronteiras (sim, esse é o título nacional de Star Trek Beyond), começa JUSTAMENTE com Sabotage. Ainda não viu? Tá na mão. ;)
A música funciona não só como um FECHAMENTO, pra uma noção de trilogia, mas vai além. Dita o ritmo desse novo trailer, que claramente não foi feito pra mim ou qualquer outro trekker das antigas. Não, não é pras ESSAS velharias. É pra galera que irá aos cinemas se empolgar com a ação de Star Wars: O Despertar da Força – e, vejam, que o nome do JJ Abrams como produtor tá destacado pra eles, e não necessariamente por ser o diretor dos dois filmes anteriores. Justin Lin, um dos grandes reponsáveis pela transformação da franquia Velozes & Furiosos no que ela é hoje, fecha esse combo, como o diretor.
Há, também, o humor. Mas isso não é novidade pra franquia: está lá desde Jornada nas Estrelas IV: A Volta para Casa, que pra muita gente é considerado o melhor de Star Trek, ao lado de A Ira de Khan.
Mas isso não quer dizer que todo o tom do filme será o do trailer. É de se imaginar que tenhamos correria e ação, sim – afinal, foi isso que Abrams estabeleceu e é de se de esperar do Lin. Por outro lado, Simon Pegg co-assina o roteiro, e sabemos que ele é fã, também. Outro detalhe que ajuda é que o final de Além da Escuridão estabelece que a Enterprise entraria naquela missão de cinco anos em busca de novas formas de vida, de novas civilizações. Audaciosamente indo onde nenhum homem jamais esteve...
Como nos outros filmes, referências ao passado e inspirações em todas as produções de Star Trek ao longo dos anos estarão presentes, claro. A principal, que está chamando a atenção de muita gente (e deixando-as com o saco um pouco cheio) é a destruição da Enterprise, algo que já aconteceu em Jornada nas Estrelas III: Em Busca de Spock e Jornada nas Estrelas: A Nova Geração, fora as vezes que ficou bem danificada — e a tripulação fica dividida.
Dois aliens misteriosos aparecem para colocar CARAMINHOLAS em nossas cabeças. Uma parece ser uma romulana albina, interpretada pela Sofia Boutella, mas que não deve se enquadrar em nenhuma raça previamente conhecida — e que terá um papel importante no filme. Pro outro, tenho duas teorias: uma é que se trata de uma nova versão dos JEM’HADAR. A outra, BALOK. De qualquer forma, fica a questão se esse é ou não o personagem do Idris Elba no filme.
Os Jem’Hadar surgiram em Deep Space 9, uma das séries derivadas da franquia, como uma espécie de raça de seres répteis clonados e modificados pelos Fundadores, pra serem a força militar do Domínio – que, por sua vez, é um estado bélico do Quadrante Gama. Os Fundadores são seres transmorfos, ou seja, podem virar qualquer coisa e são fodões em engenharia genética.
Já Balok veio lá do começo da série clássica, mais exatamente do episódio The Corbomite Maneuver. Pra nós, ele parece um LOUVA-À-DEUS ASSUSTADO, mas ele era um comandante da Primeira Federação que queria proteger o seu pedacinho do espaço da tripulação da Enterprise. Ele faz diversos testes com Kirk e seus amigos antes de se revelar e, neles, usa uma espécie de boneco para representar um alien mais ameaçador – que lembra o grandão aí do trailer. Será que a parte “BEYOND” do nome do filme tem relação com a ~invasão do território de outra Federação? De qualquer forma, essa é a opção que eu apostaria menos entre as duas.
Há ainda mais duas raças de alien que aparecem rapidamente. Uma parece ser uma variação desse que acabamos de falar, enquanto o outro lembra vagamente justamente os Fundadores.
Se não há muitos detalhes, o que fica é que o primeiro trailer de Star Trek: Sem Fronteiras quer continuar dialogando com um público maior, sem ser apenas o nicho. Nesse sentido, a estratégia está sendo perfeita — colocando ação e velocidade, que é algo que vende, mas sem entregar muito da história pra satisfazer o público.
Além disso, não é como se Star Trek não pudesse ter ação ou qualquer coisa assim. Muito pelo contrário. O que muda, aqui, são as épocas em que cada coisa foi gravada — e qualquer reclamação desse tipo só vai te colocar lado a lado daquelas velharias dos anos 1960, que o antigo Kirk tanto adorava. ;)