Filme, dirigido por Wagner Moura, deve chegar aos cinemas depois do Oscar 2020 (além, é claro, das exibições em Festivais)
“Nós, produtores do longa-metragem Marighella, dirigido por Wagner Moura, anunciamos que a data de lançamento do filme nos cinemas brasileiros, divulgada anteriormente para 20 de novembro de 2019, está cancelada”. É assim que começa o comunicado oficial distribuído para a imprensa na tarde da última quinta-feira, 12 de Setembro, que acabou CAUSANDO nas redes sociais, sob os mais diversos gritos e lamentações.
O comunicado segue explicando os motivos pelos quais a data havia sido escolhida inicialmente (mês que marca os 50 anos da morte de Carlos Marighella e também o Dia da Consciência Negra) e, então, afirma que a produtora “O2 Filmes não conseguiu cumprir a tempo todos os trâmites exigidos pela Ancine (Agência Nacional do Cinema)”.
O porta-voz do filme afirmou ao JUDAO.com.br que não há nenhuma data de estreia prevista ainda e, de acordo com o Telepadi, blog da jornalista Cristina Padiglione, isso só deve acontecer no ano que vem, depois do Oscar, “por decisão estratégica”.
Tá. Tudo bem. Mas... Quais seriam os trâmites e como uma produtora do tamanho da O2 não conseguiu cumpri-los? É... Um pouco estranho, não?
Ao JUDAO.com.br, a assessoria da O2 Filmes explicou que Marighella “tem aporte no Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), e isso obriga a produtora O2 Filmes a dar a opção do FSA fazer parte como investidor do lançamento nos cinemas”. De acordo com o Origina Conteúdo, o FSA “é a principal ferramenta de investimento público no audiovisual brasileiro” e boa parte da sua grana vem do CONDECINE, o imposto pago pelas empresas que exploram essas mesmas obras, em especial as de telecomunicações.
“O prazo que a produtora tem para ofertar o filme ao Fundo é de 90 dias antes do lançamento”, continua o comunicado. “Porém, ainda falta um contrato do filme a ser apenas assinado na Ancine (Agência Nacional do Cinema). Sem esse contrato assinado, não podemos oficialmente ofertar Marighella ao FSA. Diante disso, a O2 Filmes pediu uma excepcionalidade para que enquanto o contrato fosse assinado, a produtora pudesse ao mesmo tempo ofertar ao Fundo, diminuindo assim o tempo de espera. Porém a Ancine negou a excepcionalidade”.
O presidente do País decidiu, recentemente, cortar 43% do orçamento do FSA, fazendo com que em 2020 o Fundo receba R$415 Milhões, o menor valor desde 2012, quando recebeu apenas R$ 112 Milhões. É, como definiu a Folha de S. Paulo, “mais uma ofensiva contra a Ancine”, agência cuja extinção o presidente inclusive chegou a cogitar e, dia após dia, faz o possível pra aumentar seu controle sobre ela.
Em entrevista à Folha, o ex-ministro da Cultura e deputado federal Marcelo Calero afirmou que o corte nos recursos do FSA é uma declaração de guerra. “Todos os países investindo em indústrias que se relacionem à criação, à criatividade, e o Brasil na contramão disso. Seja na parte de pesquisa e desenvolvimento científico, seja na parte de cultura e artes”, afirmou.
Porém, contudo, entretanto, todavia, o lançamento de Marighella não foi adiado por falta de dinheiro, como explica Padiglione. A O2 Filmes conseguiu de um investidor o valor de R$ 1 Milhão, devido pela Ancine, e avisou a agência que poderia se utilizar dessa grana pra bancar os custos. “A Ancine então deixou de repassar R$ 1 milhão do valor que seria destinado à produção, mantendo o restante do repasse previsto, de modo que o filme está pago, longe daquela ideia de que Marighella geraria um prejuízo aos seus produtores”.
Interessante notar como o setor privado se envolveu e permitiria que o filme fosse lançado normalmente, mas é justamente a burocracia de uma agência do governo que impede a estreia — uma burocracia que, enquanto podemos dizer que está sendo reforçada por uma... “má vontade” baseada nas declarações de quem foi eleito e empossado presidente desse país, também está no meio de um furacão que domina a Ancine nos últimos meses, com seu presidente afastado e virando réu em processo por associação criminosa.
Então é isso. Eis os fatos e é bom que a gente se foque neles na hora de fazer e falar qualquer coisa — a desinformação só ajuda um lado dessa história. Agora nos resta ~torcer para que o Festival do Rio não seja cancelado, para que Marighella possa ser exibido, preferencialmente com POMPA E CIRCUNSTÂNCIA. Porque, sim, o Festival do Rio tá correndo perigo...