Everything: um jogo na mão e várias ideias em muitas cabeças

Everything não será o primeiro jogo a disputar o Oscar mas, mesmo se fosse, isso seria o de menos.

“Legal: Everything acabou de se qualificar para um Oscar, sendo essa a primeira vez que isso aconteceu com um jogo / projeto interativo” tuitou o cineasta irlandês David OReilly nessa quarta-feira, 07 de Julho.

Vencer um prêmio do júri do Vienna International Shorts Film Festival (VIS), de fato, torna a produção automaticamente elegível para um Oscar — no caso, o de Melhor Curta Animado, de acordo com as regras da Academia de Ciências Cinematográficas.

Só que Everything é um jogo. Isso então quer dizer que, na sua 90a edição, teremos um JOGUINHO disputando o careca pelado? Eu não sei como é que você conseguiu pensar isso, mas... Não. :)

Primeiro que “se qualificar” pro Oscar significa apenas que PODE disputar. É um primeiro passo, que envolve o envio do filme pra academia, votação e, aí sim, a indicação. Em termos futebolísticos, é como se Everything tivesse conseguido a última vaga para a Libertadores no Campeonato Brasileiro, precisando disputar os mata-matas iniciais antes da competição, de fato.

Segundo que... Bem, Everything é um jogo, não um filme. Está nas regras sim que basta vencer um prêmio do júri de um dos festivais credenciados pra ser automaticamente elegível. Mas, ao mesmo tempo, essa ELEGIBILIDADE faz com que seja necessário enviar o filme seguindo algumas várias especificações técnicas para a Academia e, acredite, nenhuma delas envolve um videogame ou computador. PRECISA mesmo ser um filme e, se eu fosse você, apertava o play aí embaixo. :)

O que se tornou elegível para o Oscar não foi o jogo, mas sim o trailer ou, como o próprio David OReilly, chama, “filme de gameplay”, que tem 10mins de duração e conta com narração de Allan Watts, filósofo morto em 1973, que “escrevia, falava, interpretava e o popularizava a filosofia oriental no ocidente. Essas falas englobam muitas ideias sobre percepção, vida, natureza, física, biologia e como nossos cérebros interpretam o mundo”.

Everything é um jogo em que você pode controlar absoluta e literalmente TUDO enquanto, através das falas de Watts e textos de Schopenhauer, Marco Aurélio, Sêneca e Ralph Waldo Emerson, faz uma correlação entre as maiores, menores, raras e conhecidas coisas do mundo. “Everything tem a intenção de reviver muitas ideias antigas, liberá-las dos seus textos e introduzí-las em novos cérebros”, diz o site oficial.

Essencialmente, é isso o que Everything, o filme, faz.

Everything tem a intenção de reviver muitas ideias antigas, liberá-las dos seus textos e introduzí-las em novos cérebros

O que David OReilly, que já se qualificou outras três vezes para o Oscar, faz não é exatamente novidade. Eu e você já vimos diversas recriações de filmes, ou histórias inéditas, usando joguinhos, especialmente GTA.

Pô, existe até uma série, Girls in the House, toda feita com The Sims 4!

A diferença, porém, é que ele não pegou um jogo, gravou, editou e contou uma história. Chama metalinguagem isso: ele pegou uma ideia antiga, liberou do seu texto e introduziu em novos cérebros. E deu certo.

Independente de Oscar, me parece um argumento bom o suficiente pra jogar Everything, não? :)