Minissérie em 5 capítulos explicando como a nossa cabeça funciona tem um episódio muito especial pra você mandar praquela pessoa que, apesar de tudo, não consegue entender o que é que se passa com você
Uma das coisas que mais me irritam quando se fala de filmes e séries é aquela pergunta que, se você não fez ou faz, com certeza já ouviu: “tem no Netflix?”
Não importa se o assunto é o filme que acabou de entrar em cartaz, se é um clássico, se é alguma coisa original da Amazon por exemplo. O que o serviço de streaming conseguiu fazer com as cabeças das pessoas equivale àquele lance de Gilette pra lâmina de barbear, Bombril pra esponja de aço e por aí vai.
A diferença é que as pessoas não necessariamente se importam se a lâmina não é da Gilette; no caso de um filme ou uma série, dificilmente fazem qualquer esforço pra assistir se não estiver no catálogo. :P
A vantagem disso, porém, é que da próxima vez que alguém não entender o que é que eu passo, dia após dia, como alguém com transtorno de ansiedade, é que eu vou poder mandar assistir ao terceiro episódio de Explicando – A Mente, minissérie de documentários produzidos pelo Netflix em parceria com o Vox — responsável também pela série Explicando, que ficou bastante famosa outro dia por conta do seu episódio sobre K-Pop, mas explica as mais diferentes coisas, de monogamia à criptomoedas.
Esse episódio, como você talvez já deva imaginar, explica a ansiedade — dos motivos pelas quais ela existe, o que ela faz com a gente, possíveis motivos pra epidemia em que vivemos e, o que eu achei mais interessante, tratamentos, em especial a “terapia de exposição”.
São dois os exemplos disso no documentário: a comediante que teve de gravar todos os seus medos e ouví-los repetidamente; e o psicólogo que não entrava na água traumatizado pela música de Tubarão e fez cursos pra mergulhar com a esposa no Hawaii. O resultado nos dois é o mesmo: enfrentando de frente o que mais os assusta e incomoda, perceberam que nada além daquela ansiedade toda poderia acontecer.
É, em resumo, o que a minha psicóloga me disse pra fazer quando soube que eu gosto de escrever: me expressar. Colocar os meus sentimentos pra fora através de textos, pra que dessa maneira eu consiga enxergá-los, compreendê-los e abraçá-los. É, em resumo também, o que eu fazia, como válvula de escape e antes de me tratar, no twitter e Instagram. Algo que, pra muitos, é uma exposição desnecessária mas que, pra mim, nada mais é do que parte do meu tratamento.
Esse capítulo, como toda a série, explica tudo de maneira divertida, leve e bastante didática porque é que sentimos, ou não, cada coisa; porque reagimos, ou não, de maneiras que parecem absurdas ou assustadoras. Porque nos calamos, porque não conseguimos nos mover.
Foi bom pra mim, que convivo com esse transtorno, enxergar de fora o que acontece comigo por dentro de maneira incontrolável. Foi bom pra mim perceber que o meu tratamento (terapia e remédios) é o mais eficaz.
Mas o melhor é que agora eu posso só dizer “assiste ao terceiro episódio de Explicando – A Mente” como explicação, caso eu perceba que precise dar alguma, caso eu perceba que precise de ajuda. “São só 21 minutos. Quem narra é a Emma Stone” pode convencer, também. Mas o que talvez mais resolva a relação das pessoas a minha volta com a minha doença é dizer que “tem no Netflix”.
Quem diria?