F1 2015: O avanço com retrocesso | JUDAO.com.br

Novo game da série chega com gráficos ótimos, ainda mais realismo nas corridas e umas (boas) ajudas pra quem é inexperiente, mas acaba perdendo modos de jogo e outras coisas pelo caminho…

Os games da Fórmula 1 não poderiam estar numa casa melhor: desde 2009 os títulos são produzidos pela Codemasters, que fez vários dos melhores jogos de corrida já lançados. E, este ano, a série está dando um salto: foi lançado agora em julho o F1 2015, que marca a chegada da série ao Xbox One e ao PlayStation 4 (além de continuar no PC) com uma engine toda nova, chamada EGO 4.0. Promessa de gráficos e física ainda melhores.

E a promessa está cumprida.

É nítido o avanço em relação às versões anteriores. As texturas estão melhores, os detalhes dos carros e das pistas estão mais definidos. Há, aqui e ali, um detalhe o outro pra polir, mas no geral o resultado impressiona. No Grande Prêmio de Mônaco, com o circuito com mais detalhes em todo o campeonato, dá até pra ver o verde do Mediterrâneo e o Palácio do Príncipe de Mônaco. É incrível.

As outras pistas também estão muito bem feitas. O Autódromo Hermanos Rodriguez, que retorna com o seu GP do México à Fórmula 1 todo reformado este ano (após mais de 20 anos de ausência), tá lá com seu ESTÁDIO no meio da pista; e, claro, temos Interlagos, que vem até com o polêmico novo muro de arrimo.

Em Monza, se você estiver atento, dá até pra reparar no comecinho das míticas CURVAS INCLINADAS, que só foram usadas na F1 quatro vezes (e que tão no filme Grand Prix...).

Outro detalhe que chama a atenção é o reflexo no retrovisor: saiu aquele borrão feio dos jogos anteriores e entrou algo próximo do que você vê, bom, ao olhar pra ~frente. Ah, até os reflexos nos capacetes espalhados estão bem bonitos.

Pilotando na chuva ;)

Pilotando na chuva ;)

Os gráficos de chuva estão incríveis, assim como os noturnos. Mas, o que fica meio estranho é quando o tempo está nublado: a paleta de cores chegou a ficar estranha em certo momento, acinzentada de um jeito que não parecia natural.

Alinhando no grid

Os 20 pilotos e 10 equipes da temporada deste ano estão presentes. Até a McLaren, que mudou a pintura após as primeiras etapas, aparece com o visual atual, preto e vermelho (ou quase atual, já que acabaram de mudar o bico do carro, mas isso não dava mais tempo de entrar, mesmo), apesar de estar ainda com o ~design prateado na capa. A única equipe que não está exatamente igual à vida real é a Williams, mas culpa não é exatamente da Codemasters: a Martini é a principal patrocinadora da equipe e, por “circunstâncias fora do nosso controle”, teve que ficar de fora desde o ano passado. Ao menos o esquema de cores é o mesmo utilizado em corridas em países árabes que proíbem o álcool.

É o que tem pra hoje...

É o que tem pra hoje...

Outra novidade é que o F1 2015 não é APENAS do ano de 2015, não. É possível, logo no começo, selecionar a temporada de 2014, e aí andar nas pistas e com os pilotos do ano passado, meio que compensando a falta do F1 2014 pro XONE e o PS4. Fernando Alonso volta pra Ferrari, Sebastian Vettel tá lá na Red Bull, McLaren de motor Mercerdes, sai o GP do México e entra o da Alemanha, é possível correr de Carterham, Jules Bianchi tá a bordo da Marussia...

Acelerando

O jogabilidade deu uma bela evoluída. Dá pra sentir ainda mais o carro, principalmente as variações causadas pelo acerto, maior ou menor peso do combustível, pneu diferente e/ou desgastado... E, quando digo acerto, você pode (nos níveis mais avançados) realmente mudar uma boa parte daquilo que o piloto pode mudar na vida real, incluindo as asas, lastro, pressão dos pneus, altura do carro, diferencial, cambagem, suspensão e, talvez, um monte de expressões que você nem sabe o que significam.

Isso cobra um preço, claro: o F1 2015 (como os anteriores) não é um game fácil pra quem não tem muita noção da categoria. Porém, você pode contar com diversos auxílios, como traçado ideal (daqueles que indica também, por cores, se você pode acelerar mais, ou precisa reduzir a velocidade), ajuda nos freios, câmbio automático, piloto ~automático nos pits, acerto do BÓLIDO feito pela equipe (ou cinco acertos pré-definidos, se quiser ter algum tipo de escolha), essas coisas. Se você quiser só se divertir, esse é o caminho.

Só com tanta ajuda é que dá pra jogar com o joystick. Pois é, esse controle que vem com o seu console não é dos melhores pra um game de corrida como esse. Os gatilhos até que avançaram no Xbox One (que usamos pra esse teste) em relação ao Xbox 360, dando pra dosar com um pouco mais de exatidão a aceleração e a frenagem, mas virar o volante com um direcional analógico é ainda como se tivesse um elefante dirigindo um carro de Fórmula 1. Pra ter uma direção mais exata e conseguir mandar bem sem ajudas, cara, você vai precisar de um volante. Daqueles bons. Com pedaleira, claro. Há diversos ângulos de câmera, incluindo aí de dentro do cockpit, pra deixar o combo com o volante completo.

Agora, se você fizer alguma cagada, seja com joystick ou volante, nada tema: tem os flashbacks, aí você pode voltar pra antes do erro. ;)

Erro esse que pode ser provocado ao se distrair por conta de uma fala fora de hora do próprio engenheiro de pista, aliás – já que eles falam MUITO no rádio, igualzinho à vida real. Por sorte, no Xbox One o jogo usa o Kinect e você pode mandar um comando de voz pro cara parar de falar, mas sem o mesmo ESTILO do Kimi Raikkonen e o seu “Leave me alone! I know what I’m doing”. Ou você pode diminuir a periodicidade dessas informações nas configurações, o que talvez faça mais sentido.

F1 2015

Nada é perfeito, claro. Depois de algum tempo jogando, dá pra notar algumas questões na Inteligência Artificial. Três problemas graves aconteceram comigo: o primeiro numa corrida quando o líder Lewis Hamilton foi tocado de leve por um retardatário e simplesmente parou na pista, sem ter sofrido dano algum. Um, dois, três carros passaram, até que o quarto bateu nele. Era o Daniel Ricciardo, que ficou com o carro danificado. O Lewis voltou a correr quase que instantaneamente, num passe de mágica. E ainda sem dano algum.

O outro foi quando resolvi correr numa estratégia diferente daquela oferecida pela equipe. Escolhi iniciar com os pneus Option (os mais duros), e deixar os Prime (macios) pro final, com uma parada apenas nos boxes e na ordem inversa sugerida pela equipe. Só que, por algum motivo, colocaram os mesmos pneus Option no pitstop, me obrigando a ter que fazer uma parada na última volta, pra usar os Prime – já que o regulamento da categoria obriga o piloto a usar os dois compostos durante a prova, regra essa obedecida à risca pelo jogo.

O terceiro bug que vi foi ao fazer uma Corrida Rápida pra conhecer o circuito do México. Simplesmente o jogo travou quando fui ver o replay, pra conferir a ambientação com calma, e o Xbox One voltou pra Home.

Outro problema, mas esse menor, ocorre quando você usa o flashback pra evitar um erro que custou uma posição: o engenheiro repete no rádio a sua posição atual após o flashback, como se fosse “nova”. Na verdade, nenhuma posição foi perdida ou recuperada, já que RETORNO AO PASSADO simplesmente apagou os eventos anteriores...

São detalhes que não deveriam acontecer e que podem atrapalhar toda a brincadeira.

Modos de jogo

Há algumas formas de se jogar o F1 2015. A mais tradicional delas, que deve bastar pra maioria, é a Corrida Rápida. Basicamente, você vai lá e corre por 3 voltas em cada circuito. Porém, dá pra customizar isso aí. Você pode selecionar pra participar dos treinos livres, ver se quer o treino classificatório em volta lançada (como era há alguns anos), ou dividido em 3 qualificações (como é agora), aumentar a distância da prova...

As Corridas Rápidas também dão pontuação e você pode construir a sua própria temporada customizada. Pode ter apenas os circuitos mais rápidos, os mais travados, todos menos Mônaco (que é difícil, cara, BEM difícil)...

O outro modo de jogar é com o Temporada de Campeonato (pois é, mas já falaremos disso). Nela você assumir um dos cockpits das equipes e curtir todos as 19 pistas do calendário. Se você seguir a configuração que vem pronta, vai gastar uns 40, 45 minutos por etapa, entre treinos e uma corrida com 25% da distância.

O último modo single player é uma novidade: Temporada Pro. E é isso mesmo que você está imaginando: é PROFISSA, sem nenhuma ajuda e todos os outros competidores no AUGE de suas habilidades, além dos treinos, classificações e provas terem 100% da duração da vida real. Se você tiver HABILIDADE e um volante legal, vai na fé e PÉ NO PORÃO. Agora, se não tiver... Vai ser um daqueles modos que você nunca vai chegar perto, só se quiser, obviamente, descobrir como um F1 de verdade dá uma rodada fácil, fácil.

No Multijogador (oi?) fica o modo... Multiplayer, que é online. O F1 2015 não tem nenhum esquema pra separar automaticamente os gamers, então basicamente você vai lá, escolhe o seu nível (entre Iniciante, Mediano e Avançado) e vai pra pista com os outros, em corridas separadas de acordo com a dificuldade. Ou ainda vai no Modo Corrida ou Corrida Personalizada. Não há aqui muito espaço pra mudar ajudas e essas coisas, que são definidas de acordo com o nível que você escolhe.

E é só isso. Não há nenhum Modo Carreira, o que é o pior defeito do F1 2015. Nos títulos anteriores, era legal começar como piloto de uma equipe pequena, usar seu próprio nome, ir subindo, receber e-mails do TEAM PRINCIPAL, essas coisas. Você se sentia parte daquilo. Algo que foi totalmente pro lixo na nova versão.

Imagina só se tivéssemos um Modo Carreira num game que tem DUAS temporadas, algo que nunca rolou antes? Pois é. Uma oportunidade perdida.

F1 2015

Também não há um Teste de Novos Pilotos, que antes ajudava os novatinhos a entender o que é um ponto de freada, tangência da curva, controles, ajudas, ERS-K, DRS e todas essas siglas que fazem uma boa diferença no tempo de volta. F1 2015 não é, sei lá, Super Monaco GP, gente. Precisa ser amigável pra quem está chegando agora.

Parece que correram tanto pra deixar os gráficos e a nova engine redonda pra atual geração de consoles que esqueceram de todo o resto...

Outra perda sentida, mas essa desde o F1 2014, é a possibilidade de jogar com carros, pilotos e pistas clássicas, que foi introduzida em 2013. No ano passado, a justificativa da Codemasters pra falta do recurso é que eles tiveram que focar nas mudanças do regulamento. Pra esse ano, o motivo deve ser mesmo a nova engine. De qualquer forma, eles garantem que o conteúdo clássico deve retornar no futuro.

Localização

O F1 2015 foi totalmente localizado e dublado em português, mantendo uma tradição que vem desde que o jogo estava, no Brasil, nas mãos de outra distribuidora. No geral, o trabalho de tradução dos termos até que foi bem feito, com algumas escapadas aqui e ali. Entre elas, o já citado “TEMPORADA DO CAMPEONATO”, uma versão PT-BR de “Championship Season” que ninguém usa por aqui; e traduzir o “Team Principal”, que seria “Chefe de Equipe”, pra “PILOTO PRINCIPAL”, o que não faz sentido algum.

Só que a dublagem está longe, beeeem longe de agradar. O que fizeram foi simplesmente contratar dois dubladores para reproduzir na nossa língua as falas do locutor David Croft e do comentarista, ex-piloto e consultor da Codemasters Anthony Davidson – a mesma dupla que comanda as transmissões da Sky Sports no Reino Unido. O dublador do Croft até que faz um trabalho satisfatório na hora de transmitir emoção e algum realismo, mas o do Davidson simplesmente lê o que tá no papel.

Parece que o cara tá morrendo.

E não, não dá pra configurar o console pro inglês e esperar ouvir as vozes originais.

F1 2015

Faria mais sentido fazer como é feito com o FIFA: chamar um locutor e um comentarista brasileiros pra fazer falas locais pro game. Algo com a nossa cara. E com informações (um pouco) menos genéricas...

As falas também se repetem muito, sendo praticamente as mesmas pra cada circuito cada vez que você corre neles. O problema não é exatamente da localização, nesse caso, mas a própria versão original, que também fica devendo uma trilha sonora mais diversa e interessante, que existia nas versões anteriores.

No final, dá pra dizer que o F1 2015 é uma boa simulação da Fórmula 1, com grandes gráficos, e só. A falta de um Modo Carreira e de outros atrativos vai fazer este ser um jogo que vai se esgotar rapidinho depois que você completar a Temporada de Campeonato.

Pois é, Codemasters. Não dá pra dar um passo pra frente e outros pra trás, ao mesmo tempo. :/