Falta mulher no cinema | JUDAO.com.br

Existem poucas mulheres fazendo, trabalhando e sendo retratadas nos filmes. É possível mudar isso, mas não é um caminho fácil para quem quer tentar

Quando estava prestando vestibular, depois de ficar naquela dúvida do que fazer para o resto da minha vida, abracei meu sonho e corri pra faculdade de Cinema. Foi uma coisa absurda estar no primeiro semestre e ver 80 pessoas na sala, todas descobrindo o curso juntinhas. Nem preciso dizer que destas tantas pessoas, 30 se formaram – se é que foram trinta mesmo. Dessas trintas, nem metade eram mulheres. Esse pequeno panorama que vi na faculdade acabou me mostrando o que é o meio cinematográfico: muitos homens, poucas mulheres. E não é só aqui no Brasil, não.

Não vou falar de pesquisas que mostram como as mulheres tem mais afinidade com a área de humanas e os homens com as exatas, ou como a pequena presença delas em áreas mais científicas são por acanhamento ou qualquer coisa assim. O fato é que existe sim um preconceito – muitas vezes velado – de mulheres estarem trabalhando no cinema.

Como disse o escritor britânico Ian McEwan certa vez, “as meninas podem usar jeans, cortar o cabelo curto, usar camisas e botas porque não há problema em ser um menino; para as meninas é como uma promoção. Mas para um garoto se parecer com uma garota é degradante, porque secretamente você acredita que ser uma garota é degradante”.

Acho que está na hora de mudar esse tipo de pensamento, né? Principalmente na indústria do cinema, algo que tanto amamos.

Durante muitos anos, as mulheres dessa indústria se encontravam em poucos setores: figurino (um tanto óbvio, já que se estava ligado à moda), produção (alguém dúvida da capacidade de organização e de delas?), roteiro, edição e em uma ou outra função. Esses números melhoraram, e muito, desde os primórdios da película, mas estão longe de serem ideais.

Lexi Alexander: buscando o próprio (e difícil) espaço

Lexi Alexander: buscando o próprio (e difícil) espaço

[one-half][/one-half][one-half last=”true”]Em uma carta aberta, Lexi Alexander (diretora de Hooligans) declarou que Hollywood precisa contratar mais mulheres para o cargo de direção, mesmo que elas sejam catalogadas com algo entre “difícil de lidar” ou “indecisas”. Ela aponta que a indústria está tentando mudar à duras penas, mas que os chefes dos estúdios relutam em contratar mulheres e fazem propostas que não são viáveis – ou pior ainda, se veem obrigados a fazer as propostas por pressão. Sim, o cinema norte-americano é povoado por homens caucasianos de uma certa classe social e faixa etária de idade, e sim, é possível alterar isso, mas se você quiser trabalhar nesse ramo – sendo do sexo feminino – prepare-se para uma longa e árdua jornada, Lexi avisa.[/one-half]

Falando em estatísticas e números, a New York Film Academy divulgou um infográfico (que você já viu aqui no Judão), demonstrando que as atrizes falam menos, aparecem com menos roupa, são minorias no elenco e ganham menos, Enquanto isso, as mulheres por trás da câmera estão numa desvantagem ainda maior, já que a cada profissional do sexo feminino, existem cinco do masculino – sem falar que elas são menos reconhecidas, recebem menos indicações e prêmios e geralmente trabalham muitos anos antes de serem consideradas “parte da turma”.

Good Night: curta "aprovado" no teste de Bechdel

Good Night: curta “aprovado” no teste de Bechdel

[one-half]Em uma tentativa de ajudar os filmes a se tornarem menos machistas, um grupo de suecas lançou o teste Bechdel, que tem sido descrito como o padrão pelo qual críticas feministas julgam a televisão, filmes, livros e outros meios de comunicação. A proposta do teste é analisar se na história existem duas ou mais mulheres, com nomes e que falam entre si sobre alguma coisa que não seja o sexo oposto. Pode ser um belo começo para melhorar essa desigualdade, mas mesmo assim o teste é meio falho. Não é necessariamente porque cumprimos esses três pré-requisitos que o filme é transformado em um trabalho com igualdade de gênero. Como argumentou o crítico sueco Hynek Pallas: “Há demasiados filmes que passam no teste Bechdel que não ajudam em nada para tornar a sociedade mais igual, ou melhor, e um monte de filmes que não passam no teste, mas são fantásticos para essas coisas”.[/one-half][one-half last=”true”]

Teste Bechdel nem sempre ajuda a tornar a sociedade mais igual.

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Hoje, depois de toda evolução e mudança no cinema, voltamos a um cinema de autor (simplificando, é quando o diretor é visto como a maior força da produção, é o tipo de filme que leva a cara dele, como, por exemplo, os trabalhos de Tarantino e de Wes Anderson), que ajuda as mulheres, já que muitas vezes elas escrevem, dirigem e produzem seus próprios filmes – como Lena Dunham, Kathryn Bigelow e Diablo Cody.

Compreendo – e em certo nível apoio – quando as equipes se mantêm as mesmas em várias produções, por questões de afinidades ou contrato ou mesmo gosto pessoal, mas também acredito em dar chance para pessoas novas se envolverem na indústria, e gostaria de ver mulheres e homens trabalhando juntos, com igualdade e afinidade.

Quem sabe, um dia, isso não deixa de ser utopia?