Mais parecido com um episódio gigante, South Park: A Fenda que Abunda Força é um jogo delicioso e até mesmo necessário
South Park sempre foi um desenho simples, às vezes até tosco e displicente. Quando surgiu, em 1997, dividindo minha atenção adolescente com Beavis & Butt-Head, uma das coisas que mais me impressionava era o fato de (parecer) ser feito no saudoso Paint e animado em Flash — keyframe aqui, keyframe ali, FESHOW.
Outras coisas que me chamavam atenção era o Kenny morrendo em todos os episódios e eu imitando a voz do Kyle no OMGTKKYB (sigla para “OH MY GOD! They killed Kenny! You Bastards!”) e as piadas imbecis de CUNHO SEXUAL, fosse o uso indiscriminado do cu pra qualquer coisa (você sabia que o episódio da sonda anal no Cartman é o primeiro da série?), fosse a pudica mãe do gordinho e seus diversos BRINQUEDINHOS.
Nesses últimos 20 anos muita coisa aconteceu com o mundo e com a minha vida, o que felizmente me fez perceber que a criação de Matt Stone e Trey Parker ia muito além das piadas de sexo, peido e cu — e South Park: a Fenda que Abunda Força, jogo da Ubisoft lançado em Outubro, talvez seja o PINÁCULO de toda essa história.
Primeiro que se trata de um episódio gigante (foram cerca de 24h pra terminar com 90% das coisas feitas, no meu caso) que só se torna um jogo mesmo, basicamente, por conta das batalhas em grid, por turno, que, apesar de repetitivas, em momento algum chegam sequer perto de ser maçantes, seja pelos inimigos que você enfrenta — velhos, SEXTANISTAS, ninjas, caranguejos, red necks, garotas do Hooters, entre outros –, seja pelos heróis (e golpes) que você usa, seja pelo fato de que em momento algum elas querem te foder do jeito ruim — a única coisa que South Park: a Fenda que Abunda Força quer, no fim das contas, é contar sua história.
As batalhas também permitem que você conquiste aliados que te ajudam na solução de problemas (sempre seguindo a ideia de contar a história e não te frustrar) e no acesso a algumas áreas da cidade, onde você encontra outros aliados e inimigos, resolve outros problemas, encontra ARTEFATOS que melhoram seu personagem e te permitem fabricar desde armas até peças de fantasias pra utilizar durante o jogo (o meu personagem usava vestido da Mulher-Maravilha e máscara do Homem de Ferro) que, sim, é um RPG delicioso. DELICIOSO.
Seu personagem é o New Kid, que pode ser, quase que literalmente, o que você quiser — você escolhe do gênero à cor da pele, passando pela orientação sexual e ascendência, além é claro da “classe” que vai moldar não só o super-herói que você será, como também a história que te fez chegar ali.
Com um roteiro de 360 páginas, South Park: a Fenda que Abunda Força começa um dia depois dos eventos de South Park: The Stick of Truth, com a MOLECADA resolvendo abandonar a “fantasia” e se focar em criar uma franquia de sucesso com super-heróis, com direito a filmes e séries do Netflix.
Eric Cartman (Guaxinim) lidera os Coon & Friends, com Kyle (Pipa-Humana), Clyde (Mosquito, que numa batalha pode usar poderes como “surto de Zika”), Jimmy (o velocista Fast), Craig (Super Craig) e o Novate, que acreditam que se encontrarem o gato perdido, conseguirão investir os US$100 de recompensa no início da sua franquia. Em sua distinta concorrência estão os Freedom Pals, liderados por Timmy (Dr. Timothy), Stan (Ferramenta), Tweek (Tweek Maravilha), Token Black (Tupperware) e Mysterion (com o imortal, inclusive nas batalhas, Kenny), que na verdade pensam mesmo em salvar o mundo dos vilões da cidade e, assim, conseguir o sucesso.
A partir disso, South Park: a Fenda que Abunda Força prova algo que a gente diz aqui no JUDAO.com.br há algum tempo, e se utiliza da cultura pop, com essa ideia das franquias de super-heróis disputando a atenção do mundo e com o fato de eles mesmo serem parte da história da humanidade, pra esfregar diversas coisas na nossa cara, no melhor estilo South Park de fazer.
A importância desnecessária e DESMEDIDA dos chamados influencers e seus likes e hashtags, o racismo da polícia e da sociedade num geral, LGBT+fobia, xenofobia, pedofilia (na igreja e também fora dela), sexismo, essa vontade inacreditável de algumas pessoas lacrarem umas às outras na porrada, esse pedido por “mudanças” na política que elege gente como Donald Trump e dá um cagaço imenso pra quem mora no Brasil... Enfim. Tal qual os episódios da TV, feitos semana a semana e permitindo que estejam sempre atuais em absolutamente tudo, South Park: A Fenda que Abunda Força parece ter sido feito pra ser lançado exatamente no momento em que foi lançado, quase que exigindo que seja jogado também nesse momento.
Não que esse momento pareça ter fim pelos próximos anos, é claro, mas... Sabe quando é aquele tipo de coisa que você sai recomendando pra todo mundo, porque PRECISA fazer naquele momento? Talvez você DEVESSE jogar South Park: A Fenda que Abunda Força. Vai ser bom que, não importa como você esteja, vai acabar conseguindo GAITAR largado com as piadas mais idiotas do mundo, ao mesmo tempo em que abrirá os olhos em INCREDULIDADE quando ver e ouvir algumas coisas — inclusive os troféus e achievements que surgirem. :D
É um jogo tão sensacional que é bom até pra quem não gosta de jogar tanto assim — o mesmo vale pra quem não curte RPGs eletrônicos... Até pra essa galera South Park: A Fenda que Abunda Força funciona. E se você prestar atenção em tudo o que acontece no jogo, além das piadas de sexo, peido e cu, pode até sair como uma pessoa um pouco melhor.
Só vantagens. ;D