Flash: a construção ao Reverso | JUDAO.com.br

Série retorna nesta terça-feira com um grande gancho para o resto da primeira temporada: qual é a do Flash Reverso?

SPOILER! Um grande herói se forja ao lutar contra um grande vilão. O Batman tem o Coringa, o Superman enfrenta o Lex Luthor, o Arqueiro Verde vive às turras com o Merlyn... Mas, na real, quem tem o melhor arqui-inimigo em toda a DC é o Flash. Muito porque nenhum dos outros antagonistas replica exatamente os poderes do super-herói que enfrenta – e ainda consegue usar essa capacidade pra sempre estar um passo a frente. Um passo que, nos gibis, fez com que esse vilão matasse as duas principais mulheres da vida de Barry Allen: a mãe, Nora Allen, e a esposa, Iris West.

Sim, tô falando do Flash Reverso – e que foi, sem dúvida alguma, o grande ponto alto da série de TV do Corredor Escarlate nessa primeira temporada, fechada com um midseason bombástico, no qual os dois entraram na porrada pela primeira vez e deixaram os telespectadores com um “que porra vai acontecer?” na cabeça.

É, ficou difícil entender a relação entre o herói e o Dr. Harrison Wells, agora confirmado como o Flash Reverso da série. Afinal, ele quer ajudar ou atrapalhar Barry Allen?

Diria que são as duas coisas. ;)

Wells

Uma junção de ideias

Um dos grandes méritos de The Flash é ter, além de Greg Berlanti e Andrew Kreisberg, o dedo do CCO da DC, Geoff Johns. Não que o envolvimento de Johns seja sempre sinal de coisa boa (é só lembrar do filme do Lanterna Verde...), mas, nesse caso, o grande conhecimento do cara em relação ao personagem, combinado com a visão dos caras que já fazem de Arrow um sucesso, está trazendo ótimos resultados.

Para começar, a produção bebeu bastante das duas passagens de Johns pelo gibi do personagem. O principal fato é que foi incorporada uma das mais polêmicas (e interessantes) cartadas dessa fase logo de cara, com o Flash Reverso matando Nora Allen, a mãe de Barry, no primeiro episódio. Além de jogar um ar de mistério que sempre faz bem em uma série de TV, isso deu um boost no lado de investigação criminal do protagonista. The Flash ganhou uma cara de super-herói com altas doses de CSI e Law & Order – inclusive pela maior presença de Joe West, interpretado por Jesse L. Martin, que trabalhou em 198 episódios da série sobre a galera que fica de olho nos homicídios em Nova York. Tá aí uma fórmula perfeita pra conquistar o fã habitual de quadrinhos e, ao mesmo tempo, o público médio estadunidense.

Só que, ao invés de ficar num chove-não-molha desse mistério inicial (que é como Gotham está fazendo com a morte dos Wayne, aliás), o Flash Reverso veio crescendo a cada episódio. Em The Man in the Yellow Suit, justamente o episódio pré-pausa de midseason, é quando descobrimos que o vilão é o Dr. Wells, justamente o cara que causou o acidente que deu poderes ao Flash. Por mais que tivessem sido dadas pistas dessa relação, havia quem apostasse que o vilão era (ou viria a ser, no futuro) o policial Eddie Thawne, outro personagem da série – afinal, nas HQs, o primeiro Flash Reverso atende pelo nome de Eobard Thawne. É uma mudança que parece grande, mas que, no final das contas, faz MUITO sentido. ;)

Nos quadrinhos, o Reverso original era um cara do futuro, do século XXV, fissurado no Flash. Um dia ele encontra uma cápsula do tempo vinda do século XX e, lá dentro, um uniforme do Corredor Escarlate. Usando a tecnologia futurista, Thawne ampliou as ondas de supervelocidade que vinham do traje, inverteu as cores e BOOM, Flash Reverso. Foi só muito tempo depois que ele conseguiu replicar aqueles poderes de forma definitiva.

Com o tempo, o Flash Reverso (ou ainda Professor Zoom, como ele gosta de ser chamado) criou uma fixação ainda maior pelo Barry Allen e uma paixão pela já esposa dele, Iris West. Até que um dia, após levar um “não” da ~amada, ele a matou.

Se você reparar bem, o que a série de TV fez foi dividir o Flash Reverso em dois personagens. Por um lado temos um Eddie Thawne que vive no presente e é apaixonado pela Iris, entrando num triangulo amoroso com o Flash que é um típico recurso para movimentar uma série de TV, mas já tempera o relacionamento conturbado dele com o herói. Do outro, Wells assume o lado cientista do vilão, mais na vibe Professor Zoom, vindo do futuro e tudo mais. O uniforme amarelo visto no último episódio é nada mais que uma interpretação mais moderna da origem do vilão na Era de Prata dos Quadrinhos.

Flash Reverso
“Você quer que o Barry seja bem-sucedido, então não pode apenas pintar o Flash Reverso como malvado”, comentou Tom Cavanagh, o intérprete do Dr. Wells – e que, como o próprio ator esclareceu, está sob o capuz amarelo nestes últimos seis meses – ao CBR News. “Porque Harrison e o Flash Reverso são os responsáveis por ajudar Barry a atingir o seu potencial. Ovos são quebrados pelo caminho, certamente isso é ruim, mas, ao mesmo tempo, há complicações para isso. Como manter a persona de Harrison Wells enquanto a persona do Flash Reverso se desenvolve ainda mais? Eu acho que isso é interessante. Como ele desaparece? Não, ele não desaparece – porque faria isso? Está tudo junto, de forma orgânica”.

É uma dicotomia interessante, que lembra também o que Geoff Johns fez nos gibis em meados dos anos 2000, quando introduziu outro vilão: Hunter Zolomon, antagonista do terceiro Flash, Wally West. Após um entrevero com Wally, que se negou a voltar no tempo para prevenir que um ataque de vilões acontecesse, o futuro vilão percebeu que o herói nunca havia passado por uma grande perda na vida. Assim ele assume a identidade de Zoom, o novo Flash Reverso, e tenta matar Linda Park, que na época estava grávida do herói. Tudo para fazer de Wally um herói melhor.

Apesar de ser claramente um vilão, esse Zoom acreditava que estava fazendo um bem maior ao Homem Mais Rápido do Mundo.

Na série já vimos diversas vezes o Wells agindo claramente com esse foco. Vamos dizer que ele recorre à forma ideal para fazer de Barry um herói melhor: se colocando como um grande vilão. É também provável que, na mente dele, ter matado a Nora Allen sirva justamente como estímulo para Barry – diferentemente do Flash Reverso original, que, nas HQs, voltou ao passado e matou a senhora Allen apenas por vingança.

Crise!

E qual seria o objetivo do Dr. Wells? BOM, caro amigo, isso já está claro pra todo mundo. O cara tem uma verdadeira fixação com um ~recorte de jornal de abril de 2024 (quem disse que os jornais vão morrer no futuro? HÁ!), que noticia o desaparecimento do Flash no meio de uma grande Crise.

Jornal

Flash morto + Crise = Crise nas Infinitas Terras, clássica maxissérie dos anos 80, responsável por acabar com o Multiverso DC clássico e introduzir um novo (e rebootado) Universo DC. Naquela história, o Corredor Escarlate morre (ou, como descobrimos, é absorvido pela Força da Velocidade, que dá poderes aos Velocistas) ao correr em um ritmo alucinante para destruir uma grande arma de antimatéria criada pelo Antimonitor.

Basicamente tudo não passa de um grande plano para que o jornal tenha uma outra manchete: Flash enfrenta – e resolve – a Crise.

A morte de Barry Allen

A morte de Barry Allen

Como diz o próprio Cavanagh, não dá pra dizer que o Flash Reverso é exatamente um vilão. Existem milhares de tons de cinza em toda essa história. Ele pode ter matado algumas pessoas, mas é aquela antiga frase cunhada pelo Spock: “as necessidades de muitos superam as necessidades de poucos”.

Vamos ver como essa dualidade avança nessa segunda metade da primeira temporada de The Flash, inclusive porque muita coisa ali não é exatamente o que parece. Cisco Ramon, o cara dos artefatos tecnológicos no Team Flash, é o alter-ego do Vibro, herói que integrou a Liga da Justiça nos anos 80 e, durante a saga Lendas, se tornou o primeiro membro da equipe a ser morto no exercício do dever – algo que, talvez, possa indicar parte do futuro do personagem. Já a meiga Caitlin Snow, veja só, atende pelo nome da vilã Nevasca nos atuais gibis da DC.

Nisso tudo ainda tem lá o Eddie Thawne. Será que, no futuro, Thawne assumirá o manto (superpoderoso) do Flash Reverso? Talvez não. “Pra mim – pra mim – há apenas um Flash Reverso. Eu acho que não posso ir diretamente aos detalhes específicos por enquanto, mas, quanto estou atuando, esse é o meu ponto de partida”, disse Cavanagh.

Ou, nunca se sabe, Wells nada mais é que uma versão futura de Thawne. Nos quadrinhos, o vilão já mudou o próprio rosto para ficar parecido com o Barry. Por que não, então, fazer o mesmo com outra pessoa? Isso explicaria, entre outras coisas, o porquê do Flash Reverso não ter atacado Thawne junto com os outros policiais lá nos Laboratórios Star durante The Man in the Yellow Suit, deixando o próprio Thawne grilado.

Infelizmente, como era de se esperar, não veremos uma nova briga entre Flash e Flash Reverso logo neste retorno da primeira temporada, que nos EUA acontece nesta terça-feira — essa briga será meticulosamente guardada para mais perto do season finale. Antes disso, a série vai introduzindo outras pontas que devem temperar esse conflito. Entre elas, já sabemos que o 15º episódio terá uma viagem do tempo acidental do Barry Allen.

Por enquanto, o que importa é que The Flash vai revelando desdobramentos empolgantes usando justamente a quadra que faz o herói ser tão legal nos quadrinhos: a vasta e colorida galeria de vilões, viagens no tempo, muita velocidade e uma grande CRISE vindo aí, só pra zoar o barraco. ;)