Guerreiros Folclóricos, projeto nacional de videogame, coloca um guerreiro indígena para enfrentar o Boitatá e o Curupira antes de chegar no grande vilão, o Saci
A cultura pop fala o tempo todo de elfos, dragões, orcs e demais derivações da mitologia nórdica que Tolkien adotou em sua obra. Mas quando alguém resolve buscar inspiração no folclore brasileiro, começa aquela coisa de “ai, não, é Saci, que horrível”. Pois bem. Se Detonator (aka Filhinho do Deus Metal) foi lá e transformou as lendas do nosso folclore em um disco conceitual de heavy metal, por que diabos não poderíamos tê-los também como estrelas em, sei lá, um jogo de videogame?
Esta é a ideia por trás de Guerreiros Folclóricos, game que está sendo desenvolvido pela Unique Entretenimento Digital, empresa especializada da cidade de Salvador – o que torna a coisa duplamente interessante, já que estamos falando de um projeto fora do eixo Rio-SP.
Fundado em 2012 por um grupo de sócios empreendedores apaixonados por games, o estúdio está investindo pesado na ideia de Joe Santos, sócio e diretor de arte na Unique. O projeto é uma obsessão antiga do artista, pensado inicialmente para os quadrinhos, da época em que trabalhou ao lado do saudoso Antonio Cedraz, criador da Turma do Xaxado. “Nosso objetivo é fazer com que o projeto obtenha notoriedade tanto aqui no Brasil quanto no exterior, para mostrar que a nossa cultura é tão rica e interessante quanto a grega e a nórdica, por exemplo”, explica Santos, em entrevista ao JUDÃO.
A história fala sobre um lendário guerreiro indígena chamado Kambaí, protetor da floresta e dos animais que acaba transportado da Terra para o Mundo das Lendas (também conhecido como Akakor) pelo deus Tupã. Graças a um colar mistico chamado Baêta, Kambaí ganha alguns poderes sobrenaturais e vai acabar descobrindo mais detalhes sobre sua origem.
O objetivo é livrar o reino das mãos do maligno Saci e sua horda de zumbis Corpos Secos – já que, aproximadamente 300 anos após seu banimento, o agora imperador procura uma nova maneira de invadir a Terra para punir os humanos e tomar o poder, pois afinal a raça humana não é digna desta “dádiva” que é o nosso planeta.
Guardião da cura e do veneno que a floresta esconde, o Saci tem o coração inundado por sentimentos de ódio e vingança e quer trazer seus parceiros monstruosos para espalhar o caos por aqui.
“O Kambaí enfrentará adversários monstruosos da nossa mitologia, como o Mapinguari [criatura monstruosa da Amazônia com aproximadamente dois metros de altura e que se alimenta principalmente cabeças humanas], o Boitatá [mito indígena simbolizado por uma cobra de fogo/luz com dois grandes olhos, relacionado ao fenômeno do fogo-fátuo], a Alamoa [sedutora dama branca que apavora a galera em Fernando de Noronha], entre outros”, explica.
Outros inimigos previstos são a criatura transforma chamada Boto, especialista em manipulação e disfarce, e o Curupira, demônio de cabelos flamejantes e reconhecido por ter os pés para trás.
Durante sua jornada, o bravo lutador índio fará aliança com uma tribo de lobisomens inspirada nos lobos-guará [representada pelo personagem Naurú], o Caipora [pequena entidade da mitologia tupi que protege os animais dos caçadores], a Iara [a sereia de canto irresistível que atraía os homens para o fundo do rio], e a misteriosa feiticeira chamada Matinta Pereira, entre outros.
“Certamente, ainda desenvolveremos outros personagem para o game”, explica o criador. “Inicialmente, selecionamos os personagens nos guiando através das lendas mais populares e com personagens-chave. Contudo, encontramos alguns não tão conhecidos assim, como o Mapinguari, mas com histórias igualmente interessantes, que se encaixam na trama do game”.
No momento, uma equipe de dez pessoas está em empenhada no desenvolvimento do jogo, ainda na fase de concepção, aperfeiçoando a história e definindo/produzindo os personagens em 3D – além dos testes de dinâmica do engine. Guerreiros Folclóricos ainda não tem data de lançamento, mas já se sabe que a primeira intenção é que ele chegue pra PC, via stream. No entanto, eles querem mais e pretendem levar o jogo também para plataformas como Playstation e Xbox, ambos em processo de negociação com parceiros. “E também vamos levar o projeto para sites como Kickstarter e Catarse, buscando financiamento coletivo”.
Como era de esperar de alguém que veio originalmente dos quadrinhos, Joe não quer que a jornada de Kambaí fique restrita ao mundo dos jogos eletrônicos. Além dos planos para gibis e animações com os personagens, eles devem começar com um livro, já sendo escrito por Lucas de Medeiros.
Sobre a questão do preconceito com relação ao folclore nacional que mencionei láááááááá em cima, Joe garante que nem ele e nem ninguém da desenvolvedora se preocupa com isso – e tudo depende do ponto de vista. “O que estamos fazendo em relação ao folclore está tendo um retorno bastante significativo dos seguidores no site e na fan page – e o feedback do público é bastante positivo”, afirma.