Futebol na TV aberta pode ser só uma lembrança a partir de 2020 | JUDAO.com.br

Uma das ideias que está rolando na Globo é diminuir pela metade a exibição na TV aberta o que, no fim das contas, poderia acabar melhorando o próprio futebol Brasileiro

Futebol na TV aberta é quase como uma tradição, né? Domingo, 16 horas, você liga a TV, senta no sofá e vê a partida do momento. Bom, era uma tradição. Primeiro porque o comportamento das pessoas vem mudando, segundo porque a própria Rede Globo está pensando em redefinir esse modelo.

De acordo com o colunista Ricardo Feltrin, do UOL, existe um plano em estudo lá na Globo< para que o futebol nacional “do próximo quinquênio” (aka de 2020 a 2025) tenha praticamente todos os seus jogos exibidos na TV paga. Ou seja, SporTV e Premiere FC, da Globosat. Por esse projeto (que é um entre vários, diga-se), os jogos dos campeonatos regionais (seja Sul-Minas-Rio, ou mesmo Paulistão, Carioca e por aí vai) seriam exibidos no Premiere, enquanto o SporTV ficaria com os jogos importantes da Copa do Brasil e do Brasileirão — ou ainda a Libertadores ou qualquer outro torneio internacional.

Já a Rede Globo, na TV aberta, ficaria com apenas um jogo por semana. Chuto eu que seria provavelmente o de domingo às 16h. Na prática, iriam cortar pela metade as transmissões na rede aberta. Nada foi dito, mas é possível imaginar que Copa do Mundo e os jogos da Seleção também continuem por lá, por conta da audiência quase surreal que proporcionam.

Num primeiro momento, a ideia pode parecer uma loucura. E se você olhar por alguns números, é mesmo. As cotas de patrocínio para o Futebol 2015 foram vendidas por um total de R$ 1,35 bilhão, um crescimento de 21% em relação ao ano anterior. É mais, por exemplo, do que todas as emissoras da Rede Record faturam por ano, sem contar a grana que cai do céu. Em setembro a Globo teve o recorde de audiência com o Campeonato Brasileiro no ano: 23 pontos no Palmeiras 3 x 3 Corinthians. Num momento em que até a Novela das 21h se esforça pra bater a Record, o resultado é muito bom.

SÃO PAULO 06/09/2015 ESPORTE PALMEIRAS X CORINTHIANS CAMPEONATO BRASILEIRO 2015

Só que se você pensar um pouco mais, verá que o futebol está deixando de ser um negócio tão lucrativo e interessante assim. Desde o fim do Clube dos 13 e o início da negociação individual com os clubes pelos diretos de transmissão, os custos dispararam. Pra 2016, a emissora terá que desembolsar R$ 1,37 bilhões pra ter o futebol. É muita coisa, principalmente num momento que os anunciantes vão usar a “crise” pra chorar um desconto nas cotas.

Em paralelo, as grandes audiências das transmissões são conquistadas apenas com Corinthians e Flamengo, as maiores torcidas. E isso não acontece sempre, não. A vitória do clube paulista de 4 a 1 contra o Atlético Paranaense deu “apenas” 18 pontos para a Globo. Quando a rede botou o São Paulo no lugar, em setembro, o número caiu pra 15. Há alguns anos, um jogo de domingo poderia chegar aos 30 pontos do Ibope.

O fato é que o futebol não é mais o mesmo grande “programa de TV” que no passado. Tem muita coisa que ajuda nesse panorama: a queda na qualidade dos nossos campeonatos, os resultados ruins da Seleção em torneios internacionais, o 7 a 1, a falta de crença dos torcedores nos cartolas, a arbitragem (e os clubes, que acabam incentivando a perda de credibilidade), as emissoras exibindo jogos de apenas dois ou três clubes (o que é incentivado pelos próprios telespectadores, de forma geral)... Enfim, dá pra ficar até amanhã listando os motivos.

Mas também dá pra dizer que esse fenômeno é global. Na Espanha, a La Liga tem os melhores jogos transmitidos no Pay-Per-View. Pra TVE, canal aberto, fica apenas o “segundo melhor jogo da semana”, que nunca pode ter times que estão jogando em competições europeias. Na Inglaterra, a Premier League é exibida no SKY Sports e BT Sport, ambos canais fechados, ficando pra BBC (rede aberta) os compactos das partidas. Na Itália é a mesma coisa: as partidas ao vivo da Serie A ficam pra SKY Italia. França, Alemanha e Portugal também seguem modelos parecidos atualmente.

Com uma ou outra diferença, as partidas acabaram migrando pra TV paga por conta do aumento dos custos para ter os direitos de transmissão e também por causa do aumento do número de assinantes. Exatamente o mesmo processo que está rolando, neste momento, no Brasil.

Premier League TV rights

Sim, simplesmente porque colocar a partida gratuita na programação e esperar que o anunciante pague os custos é algo que, em certo momento, para de fechar a conta. Também precisa que o torcedor pague a sua parte, seja por meio do pacote de canais esportivos ou comprando o campeonato no pay-per-view.

E isso pode ser bom para o futebol jogado nas quatro linhas e também para os torcedores. Sem tanta pressão das grades dos canais, jogos não vão precisar mais acontecer às 22h de quarta-feira (um horário que ferra o retorno pra casa de todo mundo). Mais horários diferenciados, que incentivem a ida do torcedor ao estádio, poderão ser adotados.

É, as ideias ainda são muito iniciais – e dependem, claro, da manutenção do monopólio nas mãos da Globo – mas ter menos futebol na TV aberta pode ser muito bom, também.