Nos EUA, presentear um pré-adolescente com um livro da série Goosebumps, considerados novos clássicos, é como um ritual de iniciação. É como se quem deu o presente dissesse “agora você está pronto para conhecer a literatura de terror, deixar de ler historinhas pra criancinhas e ler coisas realmente assustadoras”.

Foram 62 livros lançados de 1992 a 1997 com mais de 400 milhões de exemplares vendidos mundialmente, escritos por R.L Stine. São histórias bem escritas, geralmente usando monstros e personagens já conhecidos do imaginário fantástico mundial (Pé Grande, Lobisomem, aliens, a Bolha Assassina, palhaços macabros, etc) com grau elevado de tensão e aventura que realmente servem de iniciacão ao gênero. Trazendo um pouco para a nossa cultura, Goosebumps (expressão que quer dizer “arrepios”) é tipo uma COLEÇÃO VAGALUME, série de livros de mistério e suspense que nós, trintões e quarentões, tivemos o prazer de ler na época do ensino fundamental.

Goosebumps, o filme, que estreou nessa quinta-feira (22) no Brasil, tem como grande nome e CHAMARIZ para as crianças (para adultos também, oras) o ator Jack Black (A Escola do Rock, Tenacious D, etc, etc, etc <3), que interpreta o próprio R.L Stine, precisando lidar com os monstros que criou (#quemnunca), que acabam “escapando” de seus livros, criando vida e aterrorizando uma pequena cidadezinha do interior dos EUA.

A coisa toda foi o seguinte: Quando criança, Stine, o típico garoto americano vítima de bullying na escola, se sentia muito sozinho. Por conta disso passava longas horas a escrever para extravasar sua tristeza. Como tinha raiva dos valentões que o intimidavam, imagináva-os vítimas das mais terríveis crueldades ADVINDAS dos fantásticos monstros saídos de sua imaginação.

As histórias foram criadas com tanto sentimento e desejo de vingança, que Stine viu que era capaz de dar vida aos seus personagens assustadores. Portanto, para proteger as pessoas que amava e manter a paz, guardava seus livros fechados à chave, dentro de um armário especial, em sua casa, para que nenhum dos monstros escapasse.

O plot principal começa aí: depois de uma série de CONFUSÕES E TRAPALHADAS, os monstros são libertados e colocam a cidade (e a vida de todos) de cabeça para baixo. Acompanhado de um elenco adolescente formado por Dylan Minnette (Os Suspeitos) e Odeya Rush (O Doador de Memórias) o bando precisa salvar o mundo e descobrir um meio de mandar as criaturas de volta para os livros.

O CGI e efeitos da produção garantem a veracidade dos monstros e dos sustos. Não se trata de nenhuma super produção, mas o efeito 3D potencializa em muito a experiência. A faixa etária do filme é 7+, mas alguns monstros podem assustar de fato as crianças menores e mais sensíveis.

É o caso do boneco ventríloquo Slappy, NÊMESIS de Stine, que organiza uma rebelião de monstros contra seu criador. Ele tem um tom e aparência bem macabros. Sua voz, risada e visual decadentes causam desconforto, fora o fato de ser um boneco ventriloquo (sempre achei bizarro o ventriloquismo, ficava observando OBSESSIVAMENTE a boca do manipulador porque sempre achei uma técnica quase mágica) que fala realmente sozinho, o que torna tudo ainda mais amedrontador.

Slappy é a mente por trás dos planos malignos que outros monstros, a maioria descerebrada, apenas executa. O que empresta ao personagem um nível de crueldade um pouco mais elaborada, um perfil psicopata, portanto, um pouco mais verossímil que um Louva-a-Deus mutante ou zumbis. Tenso. Valentina, minha filha de 7 anos que assistiu ao filme comigo numa sessão especial, odiou. :D

No mais, o filme tem um ritmo mega ultra dinâmico, causa sustos genuínos, não deixa a peteca cair em momento algum e vale a conferida se você é fã de filmes de terror e quer introduzir sua cria no gênero. Como dito acima, vai do feeling de cada pai levar seu filho para assistir. Talvez 7 anos seja uma idade difícil, porque muitas crianças ainda tem dificuldade de separar o real do imaginário. Creio que a faixa dos 10+, pré-adolescentes mesmo, aproveitem mais.

Apesar de Jack Black ser conhecido pelos personagens cômicos que interpreta, seu papel neste filme é mais SOTURNO e contido. Não tão espalhafatoso quanto seus outros tipos, porém, não menos engraçado. Segundo o próprio, sua motivação pra esse filme foi o fato de ter sofrido com filmes de terror e suspense quando pequeno menor. “Quando eu era criança ainda não havia Goosebumps, mas eu me aterrorizei com outras coisas”, conta, em entrevista à AFP. “Eu era obcecado com monstros e filmes de terror. Assisti ‘Alien’ [1979] quando tinha 10 anos. Eu acho que nao estava maduro o suficiente. Aquilo não foi uma boa idea”, disse o ator, via Twitter, enquanto respondia perguntas de fãs sobre seu novo filme e sua carreira.

“Eu fiquei traumatizado. Não consegui dormir por semanas”, conta, antes de avisar que sua última produção não chega nem perto de ser tão assustadora quanto o filme com Sigourney Weaver. “Goosebumps tem monstros legais, mas não vai criar cicatrizes psicológicas em seus filhos, podem ficar tranquilos”.

É verdade. Todos confiam em Jack Black, certo? Pode levar seus filhos sem problemas. A diversão (e os sustos) são garantidos.