Gotham FINALMENTE funcionou!

Vai durar? Não dá pra saber, mas ao menos vamos curtir o fato de que estão fazendo tudo certinho na introdução do Senhor Frio ao universo da série

SPOILER! Eu sempre acreditei em Gotham. Você também, provavelmente, ou não estaria aqui agora — mesmo que seja só pra saber o que tá acontecendo, tendo desistido da série ainda na primeira temporada. Mas olha só, eu tenho uma boa notícia... E ela atende pelo nome de Mr. Freeze, o 34º episódio, também conhecido como AQUELE EM QUE GOTHAM FINALMENTE FUNCIONOU.

Depois de um início de segunda temporada bem confuso, que apostou inicialmente na construção da insanidade dos vilões da cidade pra depois se perder em uma disputa entre os Galavan e Bruce Wayne só pra “quebrar” o James Gordon, Mr. Freeze, que marca o início da fase chamada oficialmente de Wrath of the Vilains, volta um pouco mais à raiz da série, entregando um tradicional procedural.

Mas Gotham, a cidade, não é Nova York, nem Gotham, a série, é Law & Order.

No decorrer do episódio, Jim Gordon e Harvey Bullock investigam essa série de crimes bizarros, de pessoas sumindo e sendo congeladas. Como sempre, eles são péssimos investigadores, com a solução caindo no colo – mas, dessa vez, não parece “deus ex machina”, ela realmente funciona como parte do enredo. É sensacional também ver a incompetência da polícia enquanto instituição, mostrando que até um cara querendo se entregar por ter cometido vários assassinatos é obrigado a “sentar e esperar a sua vez” na delegacia.

Algo realista ao extremo, mas também uma situação que só seria retratada numa série de TV como Gotham – característica que já tinha ressaltado lá no episódio piloto, mas que finalmente é explorado de uma forma que colabora com a história que estão contando.

A queda do Pinguim

A queda do Pinguim

O episódio traz desdobramentos da primeira parte da temporada, com Jimbo enfrentando as acusações pela morte de Theo Galavan (sendo que agora ele mata pra resolver seus problemas), Oswald Cobblepot num interessante plot twist — o tiraram do posto de “Rei de Gotham”, jogando-o na sarjeta como um criminoso procurado e sem seus ASSECLAS. Preso, ele vai parar em Arkham, que ressurge não como o lugar ao estilo Batman 66 da primeira parte da temporada, mas como lar dos experimentos de Hugo Strange (BD Wong, estreante na série), outro vilão dos quadrinhos.

Estão corrigindo um erro: alguém percebeu que o Pinguim tinha crescido muito rápido e que seria interessante vê-lo pastar um pouco mais antes de se tornar aquele vilão completo. Só que, nesse processo, já estragaram a Fish Mooney (que vai voltar, mas isso é papo pra outra hora)...

Senhor Frio

Eli Wallach como o Sr. Frio da TV -- nos anos 60 :D

Eli Wallach como o Sr. Frio da TV — nos anos 60 :D

Mesmo com todos esses acertos, dá pra dizer que o ponto alto do episódio é outro – e ele tá no título: a introdução e a construção do vilão Senhor Frio.

Quando vi o personagem aparecer rapidamente antes da pausa de midseason, confesso que torci o nariz: ele parecia estar pronto, empacotado e entregue, um vilão pra sair por aí e congelar toda Gotham. De alguma forma, lembrava a primeira versão do personagem, que até veio dos quadrinhos (com o nome de Mr. Zero) mas que ganhou contornos mais definitivos na série de TV do Batman dos anos 60. Nessa versão, era apenas um cientista maluco que comete crimes ainda mais malucos...

Só que os produtores de Gotham não caíram nessa. Eles foram se inspirar na versão mais interessante do vilão, que apareceu em Batman: The Animated Series, do início dos anos 1990. Foi o episódio Heart of Ice que pela primeira vez colocou Victor Fries como um cientista apaixonado, tentando salvar a esposa Nora de uma doença mortal – e, pra isso, congelando-a até encontrar uma cura. Claro que tudo dá errado e Fries sofre um acidente, condenando-o a um corpo eternamente frio – assim como o seu coração, já que ele não pode salvar a amada.

Um episódio incrível, que não só influenciou os quadrinhos com uma nova origem para o Senhor Frio como garantiu um Emmy para a animação.

Em Gotham, vemos o começo desse processo. Nora doente, com Fries usando seu equipamento congelante não para roubar, matar ou extorquir, mas sim para tentar salvar a amada. Há coração na história e é impossível não se solidarizar com Victor, por mais que ele esteja fazendo tudo errado.

Uma curiosidade: nos quadrinhos e em outras adaptações com o personagem o sobrenome de Victor e Nora sempre foi pronunciado como “Frees” ou “Freeze”, trazendo uma origem alemã. Em Gotham isso aparece como uma piada, estabelecendo que o correto é “frɑɪz” (como em “french fries”), que é a pronúncia inglesa.

Victor Fries

Victor Fries

Aqui, Gotham acerta por trabalhar com as melhores referências e inspirações possíveis, por mais que acabe criando o seu próprio caminho e recorra, em certos momentos, a algumas cenas surreais. Essa é ainda a pegada da série, no final das contas.

A origem do Senhor Frio irá continuar nos próximos episódios, assim como a IRA dos vilões – já sabemos que o Azrael vem por aí, e a sua identidade será bem polêmica. Ou seja, há uma grande chance de cagarem tudo.

Enquanto isso não acontece, vamos curtir esse momento especial na história da humanidade, aquele no qual dá pra dizer que Gotham finalmente deu certo.