O que tão fazendo com o Jim Gordon em Gotham? | JUDAO.com.br

Com excesso de mortes, série vai se tornando a crônica daqueles que fazem de tudo para sobreviver – inclusive pro Jimbo. E isso é perigoso…

SPOILER! É difícil entender (e analisar) o que rolou em Gotham nessa primeira parte de 11 episódios da segunda temporada, encerrada na segunda-feira com o episódio Worse Than a Crime. No geral, o resultado foi melhor do que aquele visto na primeira temporada. Mas será que é o suficiente?

A série, na temporada anterior, sofreu com a falta de um plano geral pra toda a temporada, algo importantíssimo para uma produção de TV moderna. Ben McKenzie, o protagonista James Gordon, chegou a dizer que o principal erro daqueles primeiros episódios foi querer introduzir, perseguir e prender o vilão no mesmo episódio – parecido com séries procedurais como Law & Order, por exemplo. “Nós nunca deveríamos ter feito isso”, disse ele numa entrevista pra Entertainment Weekly.

Independentemente de qualquer coisa, essa segunda temporada tem um MASTER PLAN, sim. Com o subtítulo “Rise of the Villains”, ela usa como pano de fundo a vingança de Theo Galavan (James Frain) contra os Wayne para a evolução dos futuros principais vilões do Batman. E esse foi o principal acerto até aqui.

O personagem, criado especialmente pra série, vem de uma mistura de elementos do passado da Gotham dos quadrinhos. O verdadeiro nome dele é Theodoro Dumas e os Dumas, na versão da série, são uma família que há séculos teve uma rixa com os Wayne e se viu obrigada a fugir pra Europa, criando um culto chamado a Ordem de Saint Dumas. Apesar dessa Ordem usar o nome daquela mesma que, nas HQs, vem desde as Cruzadas e teve o Azrael como um dos membros, na série lembra mais a Corte das Corujas, criação mais recente do roteirista Scott Snyder e que conspira há séculos para tomar o controle de Gotham.

Gotham

Também funcionou muito bem o triangulo amoroso construído entre Bruce Wayne (David Mazouz, que tá excelente), Selina Kyle (a ótima Camren Bicondova) e a recém-chegada Silver St. Cloud (Natalie Alyn Lind, que surpreendeu), esta última baseada na personagem de mesmo nome das HQs. Parte do esquema do Galavan, Silver tenta manipular o Bruce, que vai crescendo muito com isso. Ao final desses 11 episódios, dá pra perceber o quanto esse pequeno Bruce já é próximo do personagem adulto – apesar dele preferir Corujas aos Morcegos (olhaí mais uma referência à Corte das Corujas...).

Outro detalhe é que tudo isso consolida o relacionamento dele com a Selina. Eles se amam, principalmente por suas diferenças – e são essas diferenças que irão afastá-los durante toda a vida. É, o núcleo pré-adolescente da série tá mandando bem, inclusive nas atuações. ;)

Se fosse só isso, estaria lindo. Porém, no primeiro arco, os roteiristas resolveram que deveriam mexer com Arkham também. Tiraram seus principais presos de lá (alçando a Barbara Gordon a esse posto também, mas ok) para formarem o Maniax, o primeiro grupo de vilões da história da cidade – e manipulado pelo Galavan.

Poderia ter funcionando, principalmente por trilhar essa coisa da insanidade, mas sucumbiram ao caminho fácil de matar quase todo mundo. A morte mais sentida foi a do Jerome Valeska, que, até então, era tido como o futuro Coringa em potencial. “Nós vamos tomar o nosso tempo, e eu posso dizer que, provavelmente, a primeira pessoa que começarem a dizer que ‘esse é o Coringa’ possivelmente não vai ser o Coringa”, disse o showrruner Bruno Heller antes da estreia da série, em julho do ano passado, ao SuperHeroHype.

Ele cumpriu o que prometeu. Mas, a que preço? Jogou com as expectativas do público, meio que no “vocês querem o Coringa, então tá aqui – só que não é!”; acabou com a originalidade do futuro vilão, já que diversas características dele estavam no Jerome e elas passaram a ser ~imitadas pelos habitantes de Gotham; e, principalmente, desperdiçou um bom ator, Cameron Monaghan, que vinha fazendo um puta trabalho legal.

Theo goes off script and takes down Jerome.

E não foram só os vilões que morreram, não. Pereceram muitos dos MOCINHOS, também. Pelas minhas contas, a força policial da cidade já foi dizimada umas três vezes, incluindo gente que tinha acabado de sair da academia. Até a Sarah Essen – que, nos gibis, vem a ser a segunda esposa do Jim Gordon — empacotou. De certa forma, isso foi usando como ferramenta para criar uma situação extrema para os personagens, naquela coisa de “é matar ou morrer”, principalmente (e justamente) pro Gordon. Um esquema parecido com The Walking Dead, que, até agora, já matou 252 personagens em seis temporadas. Eu não fiz as contas, mas, na média, o número de corpos nas duas séries deve estar ficando próxima.

Só que nisso tudo o Gordon tá chegando num terreno perigoso. Nesse Fall Finale, ele age ao lado do Pinguim e mata Galavan – que, apesar de bandido, era o Prefeito de Gotham. Ok, ele vai inventar milhões de desculpas pra não ser incriminado, mas o que estou contestando aqui é a formação do caráter do personagem. Ele claramente mata o inimigo ao perceber que de nada adianta prendê-lo, que ele terá nas mãos os juízes, o júri, outros policiais... James Gordon para de acreditar no sistema.

Se ele não acredita no sistema, por que então ser futuramente o Comissário? Como ele será, de alguma forma, a visão legal para o Homem-Morcego? E, principalmente, por que ele não sairá simplesmente matando todos os próximos futuros vilões da cidade? Ele já matou um, custa nada matar o Coringa, quando ele efetivamente aparecer e começar a fazer uma pilha de corpos com seu Gás do Riso.

Não podemos esquecer que Gotham é uma série diferente – que, lá no final do túnel, tem que entregar aquele esquema básico conhecido por todos os fãs do Batman... Também não estamos falando de um mundo pós-apocalítico no qual você pode jogar o livro de regras no lixo – apesar da CIDADE GÓTICA ser famosa por forçar um pouquinho o limite das coisas.

“Ah, ele pode se arrepender, é uma fase, mutação. VOA, BORBOLETA. E cê viu o final do episódio, né? O Galavan vai ressuscitar!”. Não, amigo. Ele cruzou a linha. Ele já fez uma vez. E não importa se Hugo Strange vai brincar de Deus nos próximos episódios. Esse é um terreno extremamente perigoso, que pode botar os roteiristas num beco sem saída.

Gordon

Fora as mortes literais, essas que estão atormentando o Jimbo, tem também as mortes figurativas. Entre um ano e outro, Renee Montoya e Crispus Allen, da corregedoria, sumiram completamente. Nem vou mencionar que são importantes nos quadrinhos, mas aqui a história é outra. O importante é que eles estavam no encalço do Gordon e agora sumiram completamente, mesmo com um longo histórico de merdas do policial nos últimos meses. Fora que o GCPD tá com menos gente, eles fazem falta e, bom, a Montoya ia se preocupar ao ver sua amada Barbara Kean pirando.

Numa proporção diferente, parece o sumiço da Carly, viúva do irmão do Diggle em Arrow e que simplesmente desapareceu na primeira temporada – e que só voltou a ser citada agora, no quarto ano.

Quem não morreu, mas também deu um belo sumiço, foi o Lucius Fox. Depois de uma boa aparição nos primeiros episódios e de ter sido incumbido de arrumar o velho computador do Thomas Wayne, ele simplesmente sumiu – pra reaparecer, saindo da caverna em segredo, no último episódio. Parece que, sei lá, o cara ficou semanas trancado lá dentro. :D

Outra personagem que estava numa boa evolução, mas que também se perdeu, é a Leslie Thompkins, interpretada pela Morena Baccarin. Não saber o que fazer com os personagens quando eles atingem um determinador patamar é uma constante da série.

No final de tudo, Gotham ainda traz o teaser da aparição do Sr. Frio no final do episódio desta semana. Totalmente formado, congelando pessoas por aí. Mais uma vez, um terreno perigoso. Quem eles vão chamar pra derrotar o supervilão? O Batman?

Ainda levar uns anos pra ele chegar, amigo... :/