Guardiões da Galáxia: filme da Marvel com sabor de anos 80 | JUDAO.com.br

E, acreditem, isso é um elogio DAQUELES! :D

Depois de aguçar os nossos sentidos com uma dezena de trailers, vídeos e spots de TV empolgantes até dizer chega, finalmente a Marvel resolveu acabar com a nossa angustiante espera e nos convidar para assistir ao filme dos Guardiões da Galáxia. E, rapaz, que experiência incrível. O que eu afirmei outrora como “acredito que vá ser”, agora posso carimbar com absoluta certeza: estamos diante de um dos filmes mais divertidos do ano. Você se pega rindo, torcendo e se emocionando o tempo todo. Arriscaria dizer, aliás, que foi a única película que vi no ano e que, assim que subiram os créditos finais, me fez continuar sentado na poltrona pensando: “Legal, vão exibir outra vez? Porque quero ver de novo e quero AGORA”.

Embora tenham sido originalmente criados em 1969 como um grupo de heróis do século 31 e parte do universo alternativo da Marvel 691, os Guardiões da Galáxia retratados na telona são reflexo direto da versão mais moderna, a de 2008, criada por Dan Abnett e Andy Lanning e que faz parte da cronologia regular. Os autores foram inteligentes ao reunir, no final da segunda parte da saga galáctica Aniquilação, um grupo formado por personagens há muito esquecidos pela Casa das Ideias (só pra você ter uma ideia, o homem-árvore Groot foi criado ANTES do Homem-Aranha). O resultado foi uma elogiada re-interpretação que gerou uma geração de heróis cool e divertidos, ao mesmo tempo descolados e referentes ao passado da editora, num clima retrô que funciona de maneira bastante inteligente. O filme carrega muito deste espírito.

Guardiões da Galáxia tem muito, mas muito mesmo, de algumas aventuras clássicas da década de 80. A mistura bem-dosada de aventura, ação e comédia me fez lembrar imediatamente produções como Os Heróis Não Têm Idade (Cloak & Dagger, 1984), Viagem ao Mundo dos Sonhos (Explorers, 1985) e, principalmente, o clássico absoluto O Último Guerreiro das Estrelas (The Last Starfighter, 1984), também uma espécie de space opera a seu modo. O Peter Quill vivido por Chris Pratt é praticamente uma versão adulta e mais sacana do jovem Alex Rogan. Por falar em Quill, é preciso dar o braço a torcer: é certo que o humor mordaz do Rocket Raccoon dublado por Bradley Cooper e o equilíbrio entre força bruta e inocência do sempre sorridente Groot – que, ao final do filme, vai te fazer ter vontade de ter um Groot em casa também – roubam a cena e estão entre os melhores momentos do filme. Isso tudo a gente já imaginava. Mas uma coisa que os trailers não deixavam assim tão claro é o quanto Quill faz por merecer o papel de protagonista.

Guardiões da Galáxia

Quem manda neste filme sou eu, mano!

Praticamente um garotão que se recusa a enfrentar as responsabilidades da vida adulta, o autoproclamado Senhor das Estrelas é um saqueador que, raptado da Terra ainda criança, vive a vida buscando artefatos que valham bastante dinheiro para colecionadores interessados. Uma verdadeira metralhadora de frases de efeito, é dele que partem as referências pop mais divertidas do filme – prepare–se para cair da cadeira quando, inesperadamente, ele citar Footloose para tentar convencer a assassina espacial Gamora (Zoe Saldana, numa potente mistura de sexy e badass) de um determinado argumento. Dizer mais do que isso estragaria a surpresa. :D

Outro acerto bastante positivo de Guardiões da Galáxia, e que o aproxima ainda mais das aventuras oitentistas, é a utilização da trilha sonora. Ela não é apenas brilhante e selecionada a dedo dentre hits setentistas, ela faz parte da história e tem influência direta em seus rumos. Algumas músicas mudam o timing de determinadas cenas, em particular pela obsessão de Quill com seu velho walkman, que toca repetidamente a sua fita-cassete gravada pela mãe, que morreu vítima de um câncer incurável. Para salvar o toca-fitas, ele é capaz das maiores loucuras – do tipo que faz Gamora e Drax (Dave Bautista, perfeito em sua dificuldade de entender as metáforas de Quill) questionarem a sanidade do sujeito que, em tese, os lidera em sua estranha jornada.

Aliás, a jornada toda começa quando Quill rouba uma pequena e aparentemente inocente orbe metálica, mantida em segurança num planeta obscuro. A intenção é que ele deixe para trás o homem que cuidou dele desde a infância, o alienígena azulado Yondu (Michel Rooker, simplesmente genial), e sua trupe de saqueadores e venda o artefato por conta própria – por mais que não faça ideia do que ele faz. Ele não se importa com o que é, para ser honesto. Só sabe que em Xandar, terra da Tropa Nova, vai encontrar um comprador ideal. O lance é que Ronan, o Acusador (Lee Pace), um poderoso terrorista espacial xiita que simplesmente não aceita o frágil acordo de paz entre Xandar e a sua terra natal, o Império Kree, pretende usar o conteúdo da orbe como moeda de troca para para varrer Xandar do mapa cósmico. Já em Xandar, Rocket e Groot descobrem a recompensa que Yondu colocou pela cabeça de Quill. Teoricamente trabalhando para Ronan, a letal Gamora quer tirar a orbe de Quill a qualquer custo. A confusão está armada. Começa uma caçada, seguida de pura e simples depredação do patrimônio. No final, o quarteto acaba preso – e, na cadeia, eles encontram o ultraviolento Drax, que tem sua própria história de vingança com Ronan, o homem que matou sua família. Está formado um grupo disfuncional de perdedores que podem ser a última esperança do universo.

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Me chamou de hamster, vai levar chumbo!

Um dos momentos mais mágicos da trama é quando Ronan vai se encontrar cara a cara com o homem que, em troca da orbe, promete destruir Xandar: o pai de Gamora e Nebulosa, o titã louco Thanos. Um dos vilões mais carismáticos e aguardados do Universo Marvel, ele aparece de fato, sendo muito mais do que um perfil visto de relance como na cena extra do primeiro filme dos Vingadores. Com a trovejante voz de Josh Brolin, Thanos coloca Ronan em seu lugar e faz os leitores habituais dos gibis da Casa das Ideias imaginarem uma imensa superprodução envolvendo dezenas de personagens da Marvel batalhando contra o brutamontes de pele roxa, que estará devidamente empunhando uma certa manopla com jóias coloridas (Desafio Infinito, oi!=D). Preciso confessar, aliás: quando Thanos apareceu em tela – e o visual, vamos e venhamos, ficou perfeito – o nerd em mim comemorou. Me senti um adolescente novamente. E soltei, sem perceber, um “aê!” empolgado.

Leitores das antigas devem ficar de olho quando os personagens adentram a sala do Colecionador (Benicio Del Toro, afetadíssimo em sua interpretação de Lulu Santos), Existem pequenos easter eggs aos quais devemos nos atentar, como a presença do cão Cosmo (coadjuvante frequente dos atuais gibis dos Guardiões) e um soldado que parece, de fato, ter saído da tropa de elfos negros vista em Thor – O Mundo Sombrio. Frustrante talvez tenha sido apenas a participação de Nathan Fillion, que deu apenas voz a um alienígena que arruma encrenca com Groot/Rocket no pátio da prisão dos Nova. Esperava, talvez, algo um pouquinho mais divertido e marcante.

Um último detalhe importante: a já tradicional cena pós-créditos. Assim como aconteceu nos EUA, ela não foi exibida para a imprensa. E tampouco foi, conforme relatos, exibida na pré-estreia oficial do filme. Um representante da Disney afirmou que se trata de uma decisão direta do diretor James Gunn, que ele gostaria de guardar esta pequena surpresa para os fãs que apoiarem este trabalho e forem ao cinema… O que não faltam são teorias e mais teorias a respeito de seu conteúdo rolando pela internet, de dicas sobre filmes da fase 3 da Marvel a uma conexão direta com Os Vingadores, seja 2, seja 3. E tem quem aposte que a aparição de Howard, o Pato, tão falado nos últimos dias, deva ser esta pequena cereja no bolo (talvez Fillion dê voz ao patinho, o que seria ótimo, rs) .

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Toda esta zona por causa desta bolinha?

Mas que pena. Para descobrir qual será esta cena extra, vou ter que fazer este imenso sacrifício de assistir ao filme de novo. :D

PS: Trivia para os marvetes de carteirinha. A alien rosada que surge como one-night-stand de Peter logo no começo da trama é Bereet, que teve envolvimento com o Hulk em suas histórias da década de 70.